O embaixador português em Maputo, António Costa Moura, foi esta segunda-feira confrontado com as preocupações de segurança por parte dos portugueses que residem na província de Cabo Delgado, palco de ataques que causaram milhares de mortes e deslocados.

De visita a Pemba, capital de Cabo Delgado, António Castro Moura admitiu que as questões que os portugueses lhe colocam “estão a incidir muito na questão de segurança“, um mês após o ataque a Palma, no extremo norte da província, que motivou uma nova onda de deslocados.

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Os ataques têm sido desencadeados por extremistas islâmicos e levaram a petrolífera francesa Total a suspender as operações de construção do complexo de exploração de gás natural de Afungi (perto de Palma), um investimento de 20 mil milhões de euros onde Moçambique aposta o seu futuro.

“Estamos a lidar com uma ameaça de natureza global, complexa, à qual é preciso estar muito atento”, afirmou Costa Moura, que iniciou uma visita de três dias à província, com o apoio do consulado da Beira, que está a promover a renovação de documentos oficiais portugueses.

“A segurança é uma questão horizontal que nos preocupa a todos”, admitiu o diplomata, que esteve reunido com o governador e o secretário de Estado da província, Armindo Ngunga.

Sobre a decisão da Total, Costa Moura salientou que “a retirada ou a suspensão das atividades da Total em Afungi é uma coisa que diz respeito à atividade da empresa, e aí o Estado português não tem que se pronunciar”.

A residir em Pemba há nove anos, Paula Rodrigues admitiu que a crise humanitária e a violência na província está a afetar o quotidiano dos portugueses na região. “Vamos viver a nossa vida o mais normalmente possível, preocupada com a situação que vive em Palma, preocupada com as notícias”, disse, insistindo: “Tentamos viver o mais normal possível”.

Já Carlos Conceição, proprietário de casas e de um restaurante em Pemba, está mais apreensivo quanto ao futuro.  “A nossa grande preocupação tem a ver com a segurança. Vamos ver o que vai acontecer (…), todos nós perdemos aqui negócio”.

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Com o regresso dos trabalhos petrolíferos, “Pemba ia novamente a movimentar e a mexer, mas tudo parou” e “todas as empresas estão a ter prejuízos”, explicou. “A única coisa que pode ajudar é a Total começar novamente com trabalhos“, considerou.

Na reunião com a comunidade portuguesa, o embaixador português abordou com os empresários a possibilidade de as empresas nacionais que operam na zona atuarem nos projetos de construção de aldeias de acolhimentos e recordou o projeto Mais Emprego, da União Europeia, que Portugal coordena no país, no valor de 4,2 milhões de euros, e que prevê a formação de moçambicanos.

“Estamos a tentar fazer que com se faça uma ponte positiva entre os futuros resultados da formação concedidos ao abrigo deste projeto e a criação de emprego aqui com empresas portuguesas”, explicou Costa Moura.