A UE está “pronta para discutir” a proposta dos Estados Unidos de levantar as proteções de propriedade intelectual das vacinas contra a Covid-19 para acelerar a produção e distribuição, disse nesta quinta-feira a presidente da Comissão Europeia (CE).
“A União Europeia (UE) está pronta a discutir qualquer proposta que enfrente a crise de forma eficaz e pragmática. Estamos disponíveis para ver como a proposta dos EUA pode atingir esse objetivo”, disse Ursula von der Leyen.
Our priority is to ramp up production to achieve global vaccination.
At the same time we are open to discuss any other effective and pragmatic solution.
In this context we are ready to assess how the US proposal could help achieve that objective.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) May 6, 2021
Num discurso por videoconferência no Instituto Universitário Europeu de Florença, Von der Leyen lembrou que a UE é por enquanto “o principal exportador de vacinas do mundo” e exortou outros países produtores a suspenderem as restrições para exportarem as suas doses.
A administração do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na quarta-feira o apoio ao levantamento de patentes de vacinas, especificando que Washington está a participar “ativamente” das negociações para esse efeito na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Um levantamento temporário de patentes é particularmente exigido pela Índia e África do Sul para poderem acelerar a produção, mas alguns países, incluindo França, opõem-se veementemente.
Até agora, a UE não se tinha manifestado a favor, argumentando que esta solução demoraria, devido à falta de meios de produção imediatamente mobilizáveis. No entanto, recentemente pareceu abrir a porta ao tema.
“Uma transferência de patente veria a produção começar dentro de um ano a 14 meses (…). No próximo ano, quando tivermos sucesso em aumentar a produção das nossas fábricas, esta pergunta pode ser feita”, afirmou Thierry Breton, comissário europeu para o Mercado Interno, na segunda-feira.
“Por enquanto, pedimos a todos os produtores de vacinas que autorizem a exportação e evitem todas as restrições que possam perturbar as cadeias de abastecimento farmacêutico”, insistiu nesta quinta-feira Von der Leyen.
O Reino Unido não exportou nenhuma dose fabricada em seu território e nos Estados Unidos uma decisão presidencial bloqueia a exportação de vacinas e restringe a de componentes de vacinas.
Por outro lado, “a UE exporta para mais de 90 países”, do Japão à Colômbia via México, o que a torna “a farmácia do mundo” e “a única região democrática a exportar em grande escala”, declarou Von der Leyen. “Foram exportadas mais de 200 milhões de doses produzidas na Europa, ou seja, tantas vacinas quantas a UE forneceu aos seus próprios cidadãos”, sublinhou a presidente da Comissão.
Ursula von der Leyen elogiou o “sucesso” das campanhas de vacinação dos 27, com “mais de três milhões de europeus vacinados todos os dias”. A UE planeia vacinar 70% de sua população adulta até ao final de julho.
O governo dos EUA apoiou na quarta-feira os esforços para renunciar às proteções de propriedade intelectual das vacinas contra a Covid-19, num esforço para acelerar o fim da pandemia, anunciou a representante do Comércio, Katherine Tai. A posição foi anunciada em comunicado, enquanto decorrem negociações na OMC sobre a flexibilização das regras de comércio global, para permitir que mais países produzam vacinas contra a Covid-19.
O anúncio de Tai aconteceu horas depois de a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, ter falado numa reunião à porta fechada com embaixadores de países em desenvolvimento e desenvolvidos que têm discutido o assunto.
O Conselho Geral da OMC, composto por embaixadores, está a analisar a questão central de uma dispensa temporária de proteções de propriedade intelectual sobre as vacinas contra a Covid-19, que a África do Sul e a Índia propuseram pela primeira vez em outubro. A ideia ganhou apoio no mundo em desenvolvimento e entre alguns legisladores progressistas do Ocidente. Mais de 100 países manifestaram o seu apoio à proposta e um grupo de 110 membros do Congresso norte-americano — todos democratas — enviou uma carta ao Presidente Joe Biden, no mês passado, pedindo que apoiasse a renúncia.