A Juventude Social Democrata (JSD) manifestou-se contra a lotaria do património cultural, esta terça-feira lançada, considerando-a “uma ideia penosa por promover o vício” e atingir “particularmente os mais pobres”.

“A JSD não entende esta medida numa altura em que cada vez mais portugueses estão a enfrentar uma dependência de jogo patológico e a procurar tratamento, com o Estado a promover estas práticas”, refere o líder desta estrutura, o deputado Alexandre Poço, em comunicado.

Para a Juventude Social Democrata, defendeu, “o património deve ser valorizado, mas não se resolve com esta ideia de criar uma raspadinha que tem todos estes potenciais problemas associados”. A JSD refere que, segundo um estudo realizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 80% dos jogadores de raspadinhas são de classes mais baixas.

Para a JSD, trata-se de um dado que o Governo ignora, aproveitando-se de uma dependência que afeta os mais frágeis. A Juventude Social Democrata entende que esta é mais uma medida errada da Ministra da Cultura, que continua sem resolver um único problema estrutural no domínio do setor cultural ou da recuperação do património”, critica a estrutura autónoma do PSD.

A lotaria instantânea do Património ficou disponível a partir desta terça-feira, Dia Internacional dos Museus, um ano depois do previsto, com o objetivo de angariar verbas para o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural. Com um valor facial de um euro, a “raspadinha” do Património vai ter um prémio máximo de 10 mil euros, segundo o Ministério da Cultura.

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A Lotaria do Património Cultural, que chegou a ser anunciada para o ano passado, foi inscrita no Orçamento do Estado de 2021 para ajudar a responder a “necessidades de intervenção de salvaguarda e investimento“, em património classificado ou em vias de classificação, segundo as prioridades definidas pelo Governo para este ano.

Além de servir para angariar verbas que irão reforçar o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural, segundo a ministra da Cultura, Graça Fonseca, a Lotaria do Património Cultural tem também o objetivo de “envolver todos“.

“Para que cada cidadão se sinta parte da missão nacional de preservar o património. Fazer com que cada um de nós se sinta parte de algo que tem de ser de todos. 2021 será também o ano de envolvermos todos nesta missão nacional”, afirmou a ministra Graça Fonseca, em fevereiro, durante uma audição na comissão parlamentar de Comunicação e Cultura.

No entanto, o processo não esteve isento de críticas: o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, disse, em março deste ano, que iria promover um estudo sobre o impacto social do vício da raspadinha, na esperança de que o Governo reponderasse o lançamento da nova lotaria instantânea.

“O Governo deveria reponderar o lançamento de uma nova lotaria instantânea, que está prevista no Orçamento do Estado. […] Se eu tivesse responsabilidades governativas esperaria, no mínimo, pelo estudo que o CES vai promover”, disse Francisco Assis à agência Lusa.