Portugal podia ter evitado milhares de mortes por Covid-19 com uma melhor organização do seu sistema de saúde. Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, compara o comportamento da Administração Regional de Saúde do Norte e o das ARS de Lisboa e Vale do Tejo e do Centro e nota que “houve uma preparação e atuação diferentes no Norte”, que podia ter salvado vidas. “Se o Norte conseguiu na terceira vaga ter menos óbitos do que na segunda, se conseguíssemos o mesmo sucesso em LVT e Centro teríamos menos 4300 mortes”, explicou ao Observador, depois de as suas previsões terem sido noticiadas pelo Público.
Para o investigador, o facto de não ter havido um controlo da pandemia nestas regiões causou mais mortes, já que há uma aritmética simples entre o número de casos e os óbitos. Aliás, o especialista vai ainda mais longe e argumenta que não havia razões para que o Norte tivesse uma incidência menor: “Temos uma população mais densa a Norte, temos um regime meteorológico um bocadinho mais rígido — por exemplo, a vaga de frio de janeiro foi mais intensa a Norte — houve Natal no Norte como no Sul, as pessoas viajaram e cruzaram-se nos jantares de família tanto num lado como no outro”. Ainda assim, reitera, “a região Norte é a única que teve menos casos na terceira vaga do que na segunda”.
A “organização e preparação diferentes” nos inquéritos epidemiológicos, nos meios de rastreio ou os próprios critérios de testagem terão, na visão de Carlos Antunes, permitido o “sucesso que ocorreu na região Norte”. E também a “experiência que adquiriram na primeira vaga”, por ter sido a zona mais afetada, talvez tenha ajudado a “uma organização diferente e a um empenho diferente”.
O especialista recorda que o Norte disponibilizou pessoas para fazerem inquéritos epidemiológicos e até camas e contraria quem diz que a vaga de frio contribuiu para aumentar os mortos, tendo em conta que nessa região esta foi mais forte do que no Centro e Lisboa.
O Observador contactou a ARS Lisboa e a ARS Centro para obter um comntário, mas, até agora, não recebeu qualquer resposta.