Estiveram debaixo do solo durante 17 anos e agora, que finalmente emergem, as cigarras Brood X estão sujeitas a serem infetadas por um fungo que as vai obrigar a um frenesim sexual para conseguir espalhar os seus esporos. Vantagem para as cigarras? Nenhuma, porque o fungo destrói-lhes a genitália e não se conseguem reproduzir.

As cigarras Brood X vivem nas florestas do leste dos Estados Unidos e mantém-se no solo durante 13 a 17 anos. Quando as ninfas saem do solo e trepam para as árvores (ou para outros pontos altos), para finalmente sofrerem uma metamorfose e se tornarem adultas, os fungos (que também vivem no solo) agarram-se a elas.

Quando as cigarras emergem como adultas já estão infetadas com o fungo Massospora cicadina. Os machos perdem algumas placas abdominais (e com elas o aparelho genital) e ficam com uma massa branca de esporos do fungo exposta. Os esporos são libertados quando a cigarra anda ou voa, mas sobretudo quando tenta (infrutiferamente) copular, conta a revista Scientific American.

Durante o acasalamento, os machos infetados com o fungo infetam as fêmeas, tornando o Massospora cicadina uma espécie de doença sexualmente transmissível. Estes machos doentes, conseguem esfregar as asas num canto que se assemelha ao das fêmeas, atraindo outros machos, que são infetados quando acham que estão a trabalhar para produzir descendência. Nas fêmeas infetadas, as placas do abdómen não caem, mas o aparelho reprodutor é destruído — na verdade, separado do corpo e arrastado para fora do corpo por um macho durante a cópula.

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A anfetamina do fungo que transforma as cigarras

Os fungos conseguem manipular as cigarras de forma a que tentem acasalar a todo o custo para disseminarem os seus esporos. Os investigadores acreditam que o composto catinona, produzido pelo Massospora cicadina, desempenha um papel fundamental.

A catinona é da família das anfetaminas e as catinonas sintéticas (fabricadas em laboratório) são um dos componentes dos fármacos usados para tratar a hiperatividade e défice de atenção. Daí a importância de investigar outros fungos desta família e os compostos produzidos sob a perspetiva de que podem contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos, destaca o investigador que conduz a investigação, Matt Kasson, patologista florestal e micologista da Universidade de West Virginia.

Os medicamentos com catinonas sintéticas conseguem suprimir o apetite e aumentar a capacidade de concentração. Os investigadores colocam a hipótese de que o fungo consiga assim tornar as cigarras zombies, alterando o seu comportamento de forma a que deixem de se alimentar ou descansar e que estejam inteiramente focadas em encontrar parceiros sexuais.

Por serem pscioativas, as catinonas sintéticas também são usadas como drogas recreativas. Mas Chris Simon, investigador na Universidade do Connecticut alerta: “Era preciso comer uma quantidade incrível de cigarras para conseguir algum efeito a partir das anfetaminas presentes. Ficaríamos doentes [com as toxinas] muito antes de termos comido o suficiente”.