“Até 26 de maio, foram identificados 46 casos da variante B.1.617 (associada à Índia)”, lê-se no relatório, divulgado esta sexta-feira, pela Direção-Geral da Saúde e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. São mais 36 casos do que os que tinham sido reportados no último relatório, na semana passada.

Tendo em conta o número de sequências genéticas analisadas até 26 de maio, os investigadores estimam que a prevalência seja de 4,6% (no continente) — mais do que a variante brasileira ou sul-africana —, mas também admitem que os dados são provisórios, uma vez que as amostras deste mês ainda não foram totalmente processadas.

O número de casos identificados também é apenas uma amostra dos casos presentes no nosso país, especialmente numa altura em que os investigadores acreditam que já haja transmissão comunitária — ou seja, sem estar relacionada com uma viagem a um país onde a variante esteja presente.

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A título de exemplo, em abril foram analisados os genes de 1.426 amostras no âmbito da vigilância de periodicidade mensal a nível nacional. Em maio, entre dia 1 e dia 26, foram analisados cerca de 800 genomas, faltando cerca de 200-300, disse João Paulo Gomes, investigador no Insa, na reunião do Infarmed.

O investigador assegura, no entanto, que Portugal está acima do limite mínimo imposto pela Comissão Europeia: a sequenciação de 5 a 10% de todos os casos.

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Ao contrário da variante inglesa, a variante indiana só pode ser identificada mediante uma sequenciação genética — que é morosa, dispendiosa e só pode ser feita nos laboratórios do Insa ou em alguns laboratórios universitários. Já a B.1.1.7 podia ser identificada nos laboratórios de análises privados, desde que tivessem o equipamento certo, e eram detetadas não pelos genes que tinham, mas pelo erro que provocavam no teste.

Uma variante mais contagiosa ocupa o lugar das outras

Dos 46 casos identificados da variante indiana, 37 casos pertencem à linhagem B.1.617.2: a que tem mostrado maior disseminação na Índia e no Reino Unido e a que tem trazido mais preocupação à comunidade científica. Na semana passada, esta linhagem representava apenas dois dos 10 casos conhecidos.

A linhagem B.1.617.2 foi classificada como Variante de Preocupação pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) a 24 de maio de 2021. As outras duas linhagens [da variante indiana, B.1.617.1 e B.1.617.3] mantêm a classificação de Variante de Interesse”, lê-se no relatório “Monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19”.

A variante indiana entrou no relatório da “Monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19”, pela primeira vez, a 30 de abril. Na altura, eram conhecidos seis casos, todos da linhagem B.1.617.1. Esta linhagem cresceu muito pouco ao longo do mês, representando agora nove casos sequenciados. Já a linhagem B.1.617.2, comunicada no relatório a 14 de maio, aumentou de dois para 37 na última semana.

30.Abril 7.Maio 14.Maio 21.Maio 28.Maio
B.1.617.1 6 7 7 8 9
B.1.617.2 0 0 2 2 37
Total (B.1.617) 6 7 9 10 46
Concelhos 5 5 5 13

Até à semana passada, os casos identificados tinham uma história de viagem ou um contacto confirmado com a variante, agora “a ausência de ligação epidemiológica em alguns dos casos mais recentes pode indicar a existência de transmissão comunitária”. Para os investigadores é claro que a variante terá entrada várias vezes em Portugal.

Henrique Silveira de Oliveira, professor no Instituto Superior Técnico, não tem dúvidas que esta variante se pode tornar dominante. “É inequívoco que uma variante, quando é mais contagiosa, vai ocupar o lugar das outras.” Foi exatamente o que a variante britânica fez com a variante que dominava em Portugal até ao final de 2020.

Para o investigador, que tem criado modelos epidemiológicos baseados na matemática que tão bem conhece, a tomada de posse da B.1.617 pode não acontecer tão depressa como o vimos acontecer com a B.1.1.7, isto porque a incidência está muito baixa, logo há menos contágios.

A variante indiana já foi encontrada em 13 concelhos de nove distritos — mais oito concelhos que na semana passada. A maioria dos casos foi registada na região de Lisboa e Vale do Tejo (63,0%) e uma larga proporção em pessoas de nacionalidade portuguesa (43,5%). Foi identificada uma proporção equivalente em pessoas de nacionalidade nepalesa (30,4%) e indiana (15,2%).

Variante britânica continua a dominar os casos no país com quase 90%

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge já fez a sequenciação genética de 8.300 amostras, que é o mesmo que dizer que já verificou o BI do vírus em mais de oito mil casos para perceber quem são e de onde vêm (ou seja, de que variante se trata).

Até 5 de maio, com 7.325 amostras analisadas, 3.126 pertenciam à variante britânica. Só em abril, 91,2% das amostras pertenciam a esta variante. Agora, ainda com dados preliminares, a B.1.1.7 representa 87,2% das sequências.

A variante sul-africana (B.1.351) e a variante de Manaus (P.1), apesar de representarem uma preocupação a nível internacional por causa das mutações que têm, não têm uma grande prevalência em Portugal — 1,9% para a variante sul-africana e 3,0% para a variante brasileira.

A B.1351 totalizava 97 casos e a P.1 tinha um total de 133, até dia 26 de maio, mesmo assumindo que há transmissão comunitária destas variantes.

Variante B.1.351 P.1 B.1.617
Sexo 55,7% homens 54,9% mulheres 73,9% homens
Idade média 45 anos 40 anos 37 anos
Região 56,7% LVT e 27,8% Norte 45,1% LVT e 29,6% Norte 63% LVT
Distribuição 13 distritos e 41 concelhos 16 distritos e 48 concelhos 9 distritos e 13 concelhos
Nacionalidades 82,5% Portugal
4,1% Bangladesh
2,1% Angola
2,1% África do Sul
73,5% Portugal
19,7% Brasil
43,5% Portugal
30,4% Nepal
15,2% Índia

Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo podem atingir a linha vermelha em 2 a 4 semanas

As regiões do Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo são as que têm o índice de transmissibilidade mais alto, 1,16 e 1,14, respetivamente. A manter-se esta taxa de crescimento, vão ultrapassar os 120 novos casos por 100 mil habitantes (a 14 dias) no espaço de duas a quatro semanas, segundo o relatório “Monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19”, divulgado esta sexta-feira. Neste momento, a incidência nestas duas regiões é de 44 e 70 casos por 100 mil habitantes, a 14 dias.

Já a nível nacional, a incidência cumulativa está nos 60 casos por 100 mil habitantes e o R(t) em 1,07. A manter-se esta tendência, o país vai ultrapassar a linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes no espaço de um a dois meses.

Boletim DGS. Amadora, Cascais e Odivelas, na periferia de Lisboa, aumentaram a incidência na última semana

A maior incidência cumulativa foi registada no grupo etário dos 20-29 anos, com 121 casos por 100 mil habitantes (acima da linha vermelha).

Embora com menor risco individual de evolução desfavorável da doença, os indivíduos deste grupo [20-29 anos] têm maior risco de contribuir para a transmissão à população não vacinada”, alerta o relatório.

O grupo etário onde a incidência é menor é o das pessoas com mais de 80 anos (14 casos por 100 mil habitantes), que têm agora um risco de infeção muito menor do que a população em geral.

A diminuição das infeções entre as pessoas mais vulneráveis é evidente no número de camas ocupadas nas unidades de cuidados intensivos: 53 — 22% do valor considerado crítico (245). Neste momento, é o grupo etário dos 60 aos 69 anos que tem mais casos de Covid-19 internados em UCI (16).

Mais 17 mil testes feitos em sete dias do que na semana passada

Realizaram-se 274.216 testes nos últimos sete dias, mais 17.348 do que os que se tinham realizado na semana passada em igual período. A taxa de positividade é de 1,3%, abaixo do liminar definido nos 4%.

Observa-se um aumento no número de testes realizados e da proporção de testes positivos para SARS-CoV-2”, refere o relatório.

O atraso na notificação na plataforma informática de suporte ao Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE), ou seja, os casos que demoraram mais de 24 horas, caiu de 8,4% para 6,2%.

Além disso, “89% dos casos notificados foram isolados em menos de 24 horas após a notificação e 82% dos seus contactos foram rastreados e isolados no mesmo período”.