Trinta e oito jogos da Liga resumidos a um só encontro. 152 períodos resumidos apenas a quatro. 1.520 minutos (mais quatro prolongamentos) resumidos apenas a 40 minutos. O título de campeão de basquetebol, que iria ter um novo dono a partir desta quarta-feira depois de dois sucessos consecutivos da Oliveirense que se seguiram a um do Benfica – na última temporada a competição foi suspensa ainda antes de chegar ao playoff –, jogava-se no Pavilhão João Rocha e entre duas das equipas com mais história na modalidade mas que, por razões distintas, foram andando arredadas por completo ou de forma tão frequente da discussão das grandes decisões.

Sporting comandou, tremeu mas ganhou no Dragão Arena e leva final da Liga para uma “negra” em Alvalade

De um lado, o Sporting. Que ganhou os primeiros títulos na década de 50, que teve o seu período áureo entre o final dos anos 70 e o início dos 80, que após ter sido encerrada em 1984 não voltou a ser a mesma até ser extinta de vez em 1995, que regressou pelas camadas jovens e feminino até ter de novo uma equipa profissional a partir de 2019. 23 anos depois voltava à modalidade, 39 anos depois poderia voltar a ser campeão. Sem uma equipa como aquela que juntava Carlos Lisboa, Nelson Serra, os Baganha, Flutz, Mike Carter, Carlos Sousa ou Israel, com outras figuras estrangeiras capazes de desequilibrar como Travante, Micah Downs, James Ellisor ou John Fields.

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“Estamos felizes por termos vencido a última partida. Agora jogamos em casa, estamos mais calmos e sentimo-nos mais confortáveis. Ainda assim, vai ser um jogo muito disputado. Para mim seria o terceiro Campeonato [ganhou dois pela Oliveirense] mas para a maioria dos jogadores pode ser o primeiro. Queremos muito ganhar. Temos de estar concentrados como temos estado ao longo da época, preparados física e mentalmente para qualquer coisa e entrar para dar tudo sendo inteligentes. Devemos jogar coletivamente e ser nós próprios, no fundo aquilo que temos feito ao longo da época”, destacava na antevisão James Ellisor aos canais dos leões.

E tudo Micah mudou: Sporting vence FC Porto no último segundo e começa final da Liga na frente

Do outro, o FC Porto. Que começou a ganhar também nos anos 50, que ganhou na década de 70, que teve algumas das maiores equipas de sempre nos anos 90 (quando o Benfica juntava também Lisboa e companhia) com Jared Miller, Paulo Pinto, Nuno Marçal, Fernando Sá, Rui Santos ou Engelstad que ganhou três títulos em quatro anos, que decidiu em 2012 na sequência de uma polémica final perdida com o Benfica no Dragão Caixa extinguir a secção profissional, que voltou a partir de 2015 com um regresso a todo o gás sempre com Moncho López no comando até na Proliga que culminou no título. Cinco anos depois, os dragões podiam voltar a ser campeões, reforçando a posição de segundo clube com mais êxitos na modalidade atrás do Benfica (27).

“A última derrota foi uma combinação de muitas coisas. Não estivemos tão bem defensivamente como nos jogos anteriores, não executámos tão bem os ataques, especialmente nos momentos mais decisivos. Vimos muitos vídeos e vamos corrigir o que for possível. A diferença será a mentalidade. Estamos todos cansados mas conhecemo-nos muito bem. Jogámos juntos durante toda a temporada, todos conhecem as questões táticas e individuais, mas é uma questão de executarmos bem durante todo o encontro. Vai ser um jogo renhido e a força mental vai fazer uma grande diferença. Todos os jogos contra eles são batalhas disputadas durante uma guerra de 40 minutos. Por isso, temos de fazer o que somos capazes”, dizia Brad Tinsley nos canais dos dragões.

FC Porto vence em Alvalade, empata eliminatória com o Sporting e vai agora discutir final no Dragão Arena

Depois de uma vitória do Sporting a abrir a eliminatória final do playoff, seguindo-se mais dois triunfos seguidos do FC Porto e o último dos leões no Dragão Arena, o jogo 5 decidia o novo campeão naquele que era já o décimo clássico da época entre os dois conjuntos entre Liga, Taça de Portugal (incluindo a final do ano passado, que foi disputada em outubro) e Taça Hugo dos Santos, com ligeira vantagem verde e branca de 5-4 nesse registo. E a final mostrou esse equilíbrio, sendo decidida por um lance livre no último segundo entre muita polémica.

O Sporting adaptou-se melhor ao encaixe inicial das equipas, com os leões a apostarem em Micah Downs como 4 e Shakir Smith de início a comandar o ataque perante um conjunto do FC Porto que experimentou de início Miguel Queiroz como poste baixo deixando Riley no banco. No entanto, os visitados não conseguiram capitalizar essa superioridade numa vantagem maior do que cinco pontos (9-4), permitindo que os portistas ganhassem uma nova vida no tiro exterior com Riley, Nevels e Tinsley a colocarem pela primeira vez a equipa na frente (12-11). O conjunto de Moncho López foi comandando a partir daí o marcador, aproveitando não só a boa eficácia da linha de três pontos mas também o jogo de bloqueios antes de duas posses sem cesto que permitiram a João Fernandes fazer um grande afundanço em cima do final do primeiro período para fazer o 22-20.

A final dificilmente poderia estar mais equilibrada, com o FC Porto a ter mais eficácia de lançamento e ressaltos e o Sporting a conseguir mais roubos de bola e menos turnovers. E foram os triplos e a defesa (apesar das altas pontuações até ao intervalo) que continuaram a fazer a diferença: os dragões, com João Soares, Nevels e Gordon imparáveis a conseguirem 75% de eficácia em 12 lançamentos de três e uma defesa à zona que forçou a maus lançamentos dos leões, conseguiram uma vantagem de oito pontos (39-31); os leões, com Ventura e Catarino a saírem do banco de mão quente nos lançamentos exteriores e uma defesa box com Travante Williams com Riley, reagiram da melhor forma e fizeram um parcial que deu uma vantagem de sete pontos (51-44). O intervalo chegava com o Sporting na frente por 51-47, no clássico com melhores percentagens nos 20 minutos iniciais.

A segunda parte da partida começou com Nevels a fazer dois triplos mas as percentagens sofreram de seguida um quase natural decréscimo de eficácia, com mais desarmes, menor critério ofensivo e um parcial de 8-6 nos cinco minutos iniciais do terceiro período, reduzidos com um parcial de 8-0 dos dragões após um desconto de tempo de Moncho López depois de duas jogadas 2+1 por Nevels e Gordon (61-59). O FC Porto passava para cima do marcador com ascendente do encontro pelo bom período conseguido mas a entrada de Diogo Ventura para o lugar de Shakir Smith e o assumir de jogo por parte de Travante e Micah Downs permitiu que o Sporting voltasse a estar melhor na parte final do terceiro parcial, o que valeu uma vantagem de cinco pontos (68-63) e um momento de grande fair play mesmo num clássico decisivo: João Soares tocou a bola com a perna, os árbitros sancionaram a João Fernandes a infração mas o jogador portista assumiu essa decisão errada.

Estava tudo em aberto para os últimos dez minutos do jogo, da final e da Liga, que começaram com mais uma “bomba” de Nevels a colocar o encontro a uma única posse de bola e com as equipas a jogarem tudo nas defesas para chegarem a um título muito importante para ambos os clubes. E esse equilíbrio registava-se no marcador a cinco minutos do final, com o FC Porto a fazer cinco pontos seguidos para o empate a 75. A partida estava na zona decisiva e os dragões, com Nevels a um nível NBA (e com um triplo à distância da Liga norte-americana), foram mais fortes até ao último minuto, altura em que o Sporting deu a volta se sagrou campeão após duas jogadas e três lances muito polémicos e criticados pelos dragões: uma bola entre Riley e Travante num ataque dos azuis e brancos que caiu para os leões; um lançamento de Nevels na última jogada com uma falta pedida e não assinalada de Ellisor sobre Nevels; e a falta de Anderson sobre Micah Downs no ressalto no último segundo, que valeu ao extremo/poste americano a possibilidade de marcar o lance livre decisivo do 86-85.