A história
É um hotel, mas faz parecer uma casa de família, com as mesmas caras que há anos recebem quem por ali entra e que fazem do Valverde um hotel de cidade para quem cá vive e não só para quem lá dorme. Em plena Avenida da Liberdade, passou os últimos três anos num processo de ampliação, uma empreitada que se mostra ao público a partir de dia 8 de junho, data da reabertura. Além de ter crescido para os lados, e ter visto o número de quartos ser aumentado, um dos destaques da nova vida do Valverde vai para o novo restaurante — com o mesmo nome do anterior — que abre já na parte renovada do hotel, o Sítio.
“Aqui é tudo muito pequenino, é muito boutique, e sabemos que quem nos visita dá muito valor à experiência. As pessoas querem meaningful travel”, explica Adélia Carvalho, diretora geral do Valverde Hotel. “Além dos nossos hóspedes temos muita gente que mora e trabalha em Lisboa que nos visita para vir ao restaurante. Com esta ampliação fazia sentido darmos outras condições ao espaço e criar um novo ambiente para o restaurante”. O nome Sítio mantém-se, apesar de todas as mudanças, uma vez que já faz parte da memória coletiva de quem visitava o restaurante.
Ao leme da cozinha vai continuar a chef Carla Sousa, que está de volta dos tachos do Valverde desde que este abriu, em 2014. As suas raízes cabo-verdianas deram-lhe o que precisava para seguir aquilo a que gosta de chamar de “cozinha espiritual”, aquela que é feita com sentimento e que alimenta tanto o corpo como a alma. Antes do Valverde, Carla passou pela Cervejaria Lusitana ao lado de Vítor Sobral, no Sétima Avenida com o chef Fausto Airoldi e no Penha Longa Resort com o chef Rui Calçada, e depois durante cinco anos no Bairro Alto Hotel, onde trabalhou com Henrique Sá Pessoa.
No Valverde é a cozinha portuguesa contemporânea que lhe serve de base ao que vai criando para incluir nos menus, sempre com produtos locais respeitando a sazonalidade dos alimentos, e evitando sempre que possível o desperdício, fazendo uso dos ingredientes até ao tutano.
O espaço
Juntar a um já espaçoso edifício na Avenida da Liberdade outros dois é obra, e foi uma obra que durou três longos anos até estar concluída. “Ainda há alguns detalhes a afinar, mas estamos a avançar com o principal: os quartos e o restaurante”, confessa Adélia.
Os novos edifícios albergam agora mais 23 novos quartos — que se juntam aos 25 originais — apresentando o mesmo ambiente marcado por paredes de cores profundas que contrastam com os tecidos claros.
Já o novo restaurante, ainda que amplo, conseguiu tornar-se num espaço intimista onde entram e saem hóspedes e não hóspedes que querem sentar-se à mesa e atirar-se às criações de Carla Sousa. No interior há 34 lugares disponíveis aos quais se juntam mais dez da zona exterior coberta com vista direta para o jardim. O chão em azulejo vidrado, os painéis de madeira retro iluminados — quais separadores de acrílico — que marcam as várias divisões entre mesas e que dão mais privacidade à clientela, isto tudo para não falar no teto, todo em burel bordado e trabalhado minuciosamente.
A ampliação, que resulta da união de dois edifícios adjacentes localizados na Rua de São José ao edifício original, esteve nas mãos de Diogo Rosa Lã e José Pedro Vieira da Bastir, o mesmo atelier que assegurou a arquitetura e design de interiores do primeiro projeto.
Ao longo do hotel há também várias salas que se podem transformar em salas privadas. A Sala Valverde, logo à entrada e virada para a agitada Avenida, manteve-se intacta com o seu imaginário de “sala de visitas” e a Sala Jardim ganhou novo fôlego com acesso a uma varanda, podendo servir de apoio ao bar para um cocktail de fim de tarde. A Sala Cinema está também intacta com a sua icónica biblioteca e será aqui possível ver um filme ou até beber chá com scones.
A mítica piscina, já capa de revista inúmeras vezes, mudou de sítio e subiu um piso — em vez de estar no pátio junto às mesas onde habitualmente era servido o brunch e os lanches da tarde está agora num patamar acima com vista para o dito arvoredo do jardim. Os azulejos deixaram de ser bordeaux para abraçarem a elegância do preto. “Fazia sentido mudarmos a piscina para outro local para criar mais privacidade tanto a quem vinha dar uns mergulhos como a quem estava a comer no pátio e tinha hóspedes a usarem a piscina mesmo ao lado”, explica Adélia.
Neste novo edifício vai nascer ainda um pequeno ginásio, com meia dúzia de máquinas, e com direito a uma varandinha com cadeiras e vista para o jardim do hotel. No mesmo piso abrirá também uma sala de tratamentos de corpo e rosto.
A comida
Se o restaurante mudou para o novo edifício, era inevitável levar atrás dele também uma cozinha à altura. A funcionar inicialmente no edifício original do Valverde, o restaurante não era grande e muito menos a cozinha lhe seguia as pisadas ao nível dos metros quadrados. Era pequena e “a chef Carla fazia verdadeiros milagres por lá com tão pouco espaço”, admite Adélia. Agora a história é diferente. O novo espaço deu a Carla Sousa uma cozinha grande, com mais artimanhas e material para poder todos os dias servir refeições que vão do pequeno-almoço dos hóspedes ao almoço de negócios de quem trabalha na Avenida e até o jantar de uma qualquer ocasião especial.
“Sabem quando largam as crianças em lojas de brinquedos? É assim que eu me sinto nesta nova cozinha”, conta a chef. “Estava habituada a fazer tudo numa cozinha muito pequenina, porque não havia espaço para aumentá-la. Agora consigo fazer tudo e explorar mais as minhas criações e o que quero e posso servir no restaurante”.
Durante o período em que o hotel esteve fechado ao longo dos confinamentos, Carla não deixou a cozinha. Estudou novos pratos, novas inspirações, fez formações integradas na rede Relais & Chateaux, onde se integra o hotel, e chegou a novas conclusões. “Olho para a cozinha de outra forma. Não quero que as pessoas saiam daqui e tenham a sensação de uma refeição pesada, quero uma cozinha equilibrada”, afirma. “Tenho estado a apostar numa cozinha com muitos vegetais, porque o saudável não tem mesmo de ser aborrecido, e eu não sou de extremismos. O acompanhamento não tem de ser só batata ou arroz, temos de evoluir naquilo que comemos”.
O almoço será uma parte importante do serviço uma vez que é quando há mais agitação, sobretudo de quem trabalha nas redondezas e acaba a almoçar ali. Nesse horário, o menu funciona por sugestões da chef — ou pratos do dia — com um preço fixo (29,50 euros) que dá direito a uma entrada, prato principal, sobremesa, água, café e petit-fours, ou então por 25 euros tem direito ao mesmo mas a escolha será entre uma entrada ou uma sobremesa, e não ambas. Ao almoço há ainda a possibilidade de escolher à carta, modalidade aplicada aos jantares.
A carta de almoço arranca com entradas como salada de rosbife (12,50 euros), com mescla de alface chicória, maionese de curcuma e granola salgada, ou um croquete de quinoa vegan (13,50 euros) com creme de manjericão.
Nos pratos principais há risotto vegetariano de espargos selvagens (14 euros), lombo de garoupa braseada (18 euros) com puré de bróculos e molho de camarão ou um tagliatelle negro de lulas (14,50 euros) com tomate assado e pesto. No campeonato da carne destaca-se o magret de pato (22 euros) cozido a vácuo a baixa temperatura e abóbora salteada, ou então um tornedó de novilho (26 euros) com batata salteada em manteiga e ervas e legumes baby. Para sobremesa há mousse de mirtilo vegan (8 euros) e um mil-folhas de pistáchio (9 euros).
Ao jantar a conversa é outra e o menu muda começando com creme de espargos e trufa negra (9,50 euros), brisée de azeitona e taleggio (13,50 euros), e vieiras braseadas (18,50 euros).
O risotto, desta vez de cogumelos selvagens, ocupa o lugar do prato vegetariano (19 euros), e o peixe vem para a mesa com a garoupa e salicórnia (20 euros) com arroz de bivalves, com tagliatelle nero e carabineiro (21,50 euros) ou atum dos Açores (19,50 euros) com puré de batata doce e couve kale crocante.
O tornedó de novilho grelhado e o magret de pato voltam a horas tardias, mas há também barriga de leitão (19,50 euros) à noite. Para adoçar a refeição há cheesecake de alfarroba e chia (9 euros), texturas de chocolate com gelado de chocolate branco (13 euros) e suspiro de leite creme (10,50 euros).
No que diz respeito aos comes e bebes, o hotel não se vai ficar por aqui e nos próximos meses estão na calha mais novidades. É o caso do espaço dantes ocupado pelo Sítio — ainda a ser finalizado —, marcado pelo duplo pé-direito e pelas gravuras do século XVIII, que passará a ser uma zona de bar a funcionar em permanência com mesas baixas, e com um serviço de chá da tarde, que também pode ser tomado no pátio, onde os scones de toda a espécie serão a estrela da companhia.
Enquanto este bar não entra em funcionamento, o chá da tarde será servido no restaurante Sítio, com um menu (15 euros) de scones doces e salgados — disponíveis em versão sem glúten, sem lactose ou vegan — para acompanhar com chá, infusão ou chá gelado. Quem preferir pode pedir o mesmo menu acompanhado desta vez com champanhe Perrier Jouet Grand Brut (29,50 euros). Além dos menus de scones, há refeições mais ligeiras como sanduíches, petiscos e saladas também a serem servidos durante a tarde.
No jardim interior do hotel surgirá também uma zona especialmente pensada para os brunches: uma egg station, dedicada, como o nome revela, a todos os tipos de ovos.
O restaurante do Valverde abre as portas bem cedo, a partir das 07h30, para servir pequenos almoços a todos, e não apenas aos hóspedes. O menu fica a 37 euros e inclui uma panóplia de ovos estrelados, mexidos, cozidos, escalfados, ovos florentine e benedict, pratos quentes como feijão estufado em tomate, batata rosti, tomate assado cogumelos ou torradas. Há também panquecas de alfarroba, de matcha e até fatias douradas, e a lista segue com uma variedade de viennoiserie, queijos, fruta, iogurte natural, granola, bolo caseiro, e outras tantas bebidas quentes e frias.
O que interessa saber
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Nome: Sítio
Abre em: 8 de junho 2021
Onde fica: Avenida da Liberdade, 164, Lisboa
O que é: um restaurante com pratos cozinha portuguesa contemporânea com inspirações de outras cozinhas do mundo, sobretudo da cabo-verdiana
Quem manda: Adélia Carvalho, diretora geral do hotel, e a chef Carla Sousa
Quanto custa: preço médio de 30€/pessoa
Uma dica: experimentar a garoupa com puré de brócolos
Contacto: 210 940 300
Horário: 07h30 – 11h30 (pequenos almoços), 12h30 – 15h (almoços), 19h30 – 22h30 (jantar)
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