O epidemiologista Manuel Carmo Gomes considera que, para que a imunidade de grupo contra a Covid-19 seja alcançada em Portugal, não chega que 70% da população esteja vacinada. Devido às novas variantes, diz o especialista, o patamar deve ser entre os 80% e os 85%.

“O aparecimento de variantes que se transmitem mais rapidamente — nomeadamente a variante britânica e a variante indiana — faz com que o R(t) vá para valores mais altos. As nossas estimativas é que nós, dificilmente, conseguiremos imunidade de grupo, tendo em atenção estas variantes, com menos de 80-85%”, afirmou o epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no programa Grande Entrevista, da RTP 3. “Os 70% não são aquilo que garante a imunidade de grupo. Precisamos de valores mais altos”, reforçou.

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Olhando para situação epidemiológica em Portugal neste momento, Manuel Carmo Gomes nota que a situação não é tão grave comparativamente ao início do ano, e que o país está num novo paradigma. “Já não temos uma relação entre aumento da incidência e aumento de internamentos. Estamos num novo paradigma, que é um paradigma em que podemos ter um novo surto da doença, mas já não há tanto perigo de haver impacto hospitalar”, sublinha o especialista, defendendo, no entanto, “não faz sentido mexer na matriz de risco.”

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Quanto ao aumento de novos casos das últimas semanas, Carmo Gomes considera que “é um pouco cedo para falar na quarta vaga”, até porque “Portugal tem tido sucesso no controlo da pandemia”. No entanto, o especialista nota o aumento de infeções tem acontecido sobretudo entre as faixas etárias mais jovens, pelo que é necessário “promover a testagem no local onde estes grupos estão”, nomeadamente universidades, locais de trabalho e espaços noturnos.

Apesar do aumento de casos, Manuel Carmo Gomes mostrou-se otimista, até porque, “se for possível alcançar imunidade de grupo, a situação está ganha”. E isso pode acontecer num futuro próximo. “No meu ponto de vista, estaremos lá antes de o ano acabar”, concluiu.