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Uma grávida a ser vacinada em Israel, país que colocou as grávidas no grupo prioritário

AFP via Getty Images

Uma grávida a ser vacinada em Israel, país que colocou as grávidas no grupo prioritário

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As grávidas devem ser vacinadas contra a Covid-19? Não há consenso nem certezas

A vacinação contra a Covid-19 às grávidas tem levantado várias dúvidas. Em Portugal, apenas com a recomendação de um médico após avaliação dos benefícios e riscos. Mas já há países que vacinam.

Num momento em que Portugal começa a aumentar o ritmo de vacinação contra a Covid-19, há ainda um grupo da população que levanta várias dúvidas sobre se deve ser ou não vacinada — as grávidas. A posição da ciência também não tem ajudado a esclarecê-las. Enquanto há especialistas que defendem a vacinação, outros consideram não ser necessário. Mas quais são os benefícios? Há desvantagens? E como é o vírus afeta as futuras mães e o feto?

São questões delicadas, já que as empresas farmacêuticas não incluíram grávidas nos ensaios clínicos das vacinas. Mas têm sido realizados testes clínicos que comprovam a segurança e eficácia do imunizante. “Se fosse há um mês, não recomendava a vacina a grávidas”, confessa a obstetra Alexandra Matias, que revela que os estudos realizados entretanto mostram que o imunizante é eficaz e seguro para as grávidas, além de já ser possível retirar conclusões da experiência de países como os EUA ou Israel, que já vacinam grávidas desde janeiro.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde, em resposta ao Observador, assinala que a “experiência com a utilização das vacinas contra a Covid-19 em mulheres grávidas é limitada”, ainda que saliente que as “evidências científicas, nomeadamente estudos em animais, não indicaram, até ao momento, efeitos negativos no feto ou na grávida”. Uma possível vacinação deve ser, por isso, avaliada “pelo médico assistente, de acordo com a relação benefício-risco”, uma vez que “o desenvolvimento das vacinas não envolve o recrutamento nem de crianças nem de grávidas”.

Posição idêntica tomou a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) no momento em que aprovou os imunizantes, argumentando que as farmacêuticas das quatro vacinas aprovadas (da Pfizer, da Moderna, da AstraZeneca e da Johnson&Jonhson) não apresentaram “informação clínica suficiente” que permitisse aferir a eficácia e os possíveis riscos das vacinas, sendo que a decisão de vacinar “deve ser decidida por um profissional de saúde considerando os benefícios e os riscos”.

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In this photo illustration the vials and a medical syringe

Já são quatro as vacinas aprovadas pela Agencia Europeia do Medicamento

SOPA Images/LightRocket via Gett

Apesar das conclusões da EMA, os Estados-membros da União Europeia divergem entre si. As autoridades sanitárias irlandesas, por exemplo, recomendam que as grávidas tomem a vacina, defendendo que a inoculação reduz a “probabilidade de adoecer” e que também pode “diminuir as probabilidades de complicações durante a gravidez, como o parto prematuro”. Por outro lado, na Alemanha, a Comissão de Vacinação (Stiko) não aconselha as grávidas a serem vacinadas, devido à falta de informação sobre os possíveis efeitos secundários. Apenas mulheres com co-morbilidades graves são inoculadas durante a gestação.

A situação não é clara — e também os especialistas apresentam contradições entre si. Se Alexandra Matias considera que, tendo em conta os últimos estudos, “os benefícios ultrapassam os riscos”, Alexandre Valentim-Lourenço, presidente do Conselho Geral do Sul Ordem dos Médicos e ginecologista/obstetra, é da opinião que, dada a “escassez de vacinas” e o facto de a “infeção Covid-19 ter pouco impacto na gravidez”, as grávidas não devem ser vacinadas já.

Quais são as vantagens de as grávidas tomarem a vacina?

Perante a recomendação da FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia), que indica que há mais benefícios do que riscos, Alexandra Matias considera que “tendencialmente as grávidas devem ir sendo vacinadas”, ainda que compreenda a posição da DGS por ainda não existirem “dados suficientes” para comprovar a eficácia da vacina.

“Acredita-se hoje em dia que a infeção de Covid-19 na grávida é mais grave”, diz Alexandra Matias, que refere que antes havia a perceção de que a doença seria “tranquila” para as grávidas por causa da idade. Contudo, à medida que vários estudos vão sendo publicados, tem-se verificado que as grávidas padecem de “sintomas mais severos” e a doença acaba por “persistir durante mais tempo”. A especialista lembra que já estiveram pelo menos duas grávidas hospitalizadas na unidade de cuidados intensivos do Hospital São João, no Porto.

Baseando-se num estudo da Associação Americana de Obstetras e de Ginecologistas, a FIGO — a “bíblia” que guia os obstetras — também adverte, no seu site oficial, que as grávidas “têm maior risco de desenvolver doenças graves associadas com a Covid-19, comparativamente com mulheres não grávidas”. São também mais propensas a serem hospitalizadas, podendo mesmo precisar de cuidados redobrados nas unidades de cuidados intensivos e de ventilação.

Com uma amostra de mais de 2000 mulheres de 18 países, outro estudo, publicado na revista JAMA Pediatrics, veio mostrar que o efeito da Covid-19 nas grávidas pode ser “preocupante”. “Embora 59,2% dos casos diagnosticados durante a gestação tenham sido assintomáticos, as mulheres grávidas com o novo coronavírus apresentam um risco significativamente maior de sofrer de complicações da doença” — como pré-eclâmpsia (que causa hipertensão arterial e que pode afetar os rins e o fígado) e eclâmpsia (uma evolução da pré-eclâmpsia, que leva as pacientes a sofrer de convulsões).

O estudo indica que as grávidas com Covid-19 e que sofrem de comorbilidades, como excesso de peso, diabetes, hipertensão ou doenças respiratórias crónicas, têm quatro vezes mais probabilidade de desenvolver pré-eclâmpsia. E o trabalho também mostra que houve um aumento de admissão das grávidas infetadas nos cuidados intensivos.

Bebé nasce com anticorpos contra a Covid-19

Para o feto, também existe uma tendência para o “aumento de prematuridade” devido à infeção por Covid-19. Alexandra Matias explica, no entanto, que ainda que não é claro se é o SARS-CoV-2 que está na origem desse efeito ou se “podia haver uma condição clínica a priori que desencadeou o nascimento precoce. Além disso, a obstetra aponta que “a grávida estaria mais protegida e também passaria anticorpos para o bebé”, como o que aconteceu na Flórida, nos Estados Unidos, em que foram encontrados anticorpos no sangue do cordão umbilical de um recém-nascido após a vacinação materna três meses antes. “É uma descoberta impressionante”, descreve a médica.

"Verifica-se que a mãe produz anticorpos que vão passar pela placenta e vão passá-la ao bebé. Ou seja, uma vacina a proteger dois seres — a mãe e o feto, depois o recém-nascido"
Alexandra Matias, obstetra

Em relação a possíveis efeitos secundários da vacina, Alexandra Matias menciona que são praticamente os mesmos à da restante população: “Febre, dores de cabeça, arrepios”. “Mas devem passar após 24 a 48 horas”, indica.

Os exemplos de outros países na vacinação das grávidas

Nos Estados Unidos, as grávidas têm sido vacinadas — mais de 20 mil já foram. Em dezembro, mês em que a vacina da Pfizer/BioNTech foi aprovada no país, a Associação Americana de Obstetras e de Ginecologistas indicava, no seu site oficial, que a “vacina não deve ser negada às grávidas”. A Food Drug Administration (FDA), autoridade do medicamento norte-americana, recomendava que houvesse uma “avaliação médica” para perceber os benefícios ou os riscos antes da inoculação.

Mas outros países, como Israel, chegaram mesmo a colocar as grávidas na lista prioritária para tomar a vacina. “Estamos a recomendar que as mulheres grávidas, principalmente aquelas com mais riscos associados, tomem a vacina”, disse Nachman Ash, coordenador nacional da pandemia, à rádio KAN, citado pela Reuters. E, apesar de haver poucos dados que comprovem que o imunizante seria seguro durante a gestação, o especialista frisou que “quando se percebe a lógica biológica, compreendemos que não há risco para as grávidas nem para o feto”.

Estas posições têm sido corroboradas por estudos recentes que vão sendo divulgados. Um trabalho publicado na American Journal of Obstetrics and Gynecology veio mostrar que as vacinas que utilizam o mecanismo RNA (como a da Pfizer ou da Moderna) conferem imunidade aos recém-nascidos pelo leite materno e pela placenta. Adicionalmente, os efeitos secundários após a vacinação nas grávidas foram raros. “Esta notícia da excelente eficácia da vacina é muito encorajadora para mulheres grávidas e lactantes, que ficaram de fora dos ensaios iniciais da vacina contra a Covid-19”, disse uma das co-autoras do estudo, Andrea Edlow.

“Temos agora provas claras de que as vacinas contra a Covid-19 podem induzir imunidade que irá proteger os bebés”, frisa Galit Alter, co-autora da investigação, que envolveu uma amostra de 131 mulheres — 84 das quais grávidas. Destaca ainda que “a gravidez é um estado imunológico distinto, onde duas vidas podem ser salvas simultaneamente com uma poderosa vacina”, sendo particularmente importante para “as pacientes grávidas que estão em maior risco de complicações devido à Covid-19″. A investigadora espera ainda que o estudo possa ser um catalisador para os criadores de vacinas reconhecerem a importância da análise de grávidas e lactantes e as incluam em ensaios”.

Covid-19. Estudo conclui que vacinas são altamente eficazes em grávidas e lactantes

Outro estudo levado a cabo pela revista de Medicina de New England, com o objetivo de determinar os riscos da vacinação nas grávidas com os fármacos da Pfizer e da Moderna, já apresentou os resultados preliminares e assinala que este tipo de vacinas aparenta ser seguro para as grávidas: “As proporções calculadas de problemas na gravidez em pessoas vacinadas contra Covid-19 que tiveram uma gravidez completa foram semelhantes às incidências relatadas em estudos envolvendo mulheres grávidas antes da pandemia de Covid-19”.

A Pfizer e a BioNTech também anunciaram, em fevereiro, o primeiro ensaio clínico com grávidas para “avaliar a segurança, a tolerância e a imunogenicidade” da vacina para “prevenir a Covid-19 em mulheres saudáveis e grávidas com mais de 18 anos”. Numa nota à imprensa, William Gruber, vice-presidente do setor de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico de Vacinas da Pifzer, sinaliza que as “mulheres têm um risco maior de complicações e de desenvolverem quadros clínicos mais graves de Covid-19, pelo que é crítico desenvolver uma vacina que seja segura e eficaz para esta população”.

Chancellor George Osborne Visits Pharmaceutical Company Pfizer

A Pfizer iniciou o primeiro ensaio clínico com grávidas em fevereiro. Resultados só no final do ano

Getty Images

O ensaio clínico vai demorar ainda sete a dez meses para estar concluído e inclui 4 mil grávidas com mais de 18 anos, sendo que vão ser inoculadas desde a 24.ª até à 34.ª semana de gestação.  Özlem Türeci, chefe médico da BioNTech, espera que os resultados sejam positivos, para proteger as mães e os fetos, bem como “as futuras gerações”.

Mas há quem discorde. “A Covid tem pouco impacto na gravidez”

No entanto, há especialistas que consideram que não faz grande sentido vacinar grávidas. “A infeção por Covid tem pouco impacto na gravidez”, afirma Alexandre Valentim-Lourenço, lembrando que “as grávidas são mulheres jovens”: “Nesta idade, não tem a taxa de letalidade que existe noutros grupos etários, além de ter pouca repercussão no estado clínico das pacientes”, explica.

Além disso, o médico indica que o vírus “não afeta o feto”. O que pode afetar são “as descompensações respiratórias”, mas isso advém “de doenças pré-existentes”. Em termos de custo-benefício, o especialista considera que, em vez da vacinação, as grávidas, principalmente aquelas com comorbilidades, devem cumprir o “distanciamento social de forma mais estrita”, o que diminuiu de forma idêntica a probabilidade de contrair a doença.

Segundo o obstetra, a transmissão da doença para o feto “é quase nula”, “há poucas alterações fetais registadas até ao momento”, os fetos também “não são afetados” e os recém-nascidos também não: “Mesmo sem vacinação, há uma proteção própria do recém-nascido conferida pelos anticorpos da mãe”. “Este não é um vírus como o da citomegalovírus, por exemplo, que aumenta a probabilidade de haver um aborto espontâneo no primeiro e no terceiro trimestre da gravidez”, refere o especialista.

Tendo em conta a escassez de vacinas que os países apresentam, Alexandre Valentim-Lourenço considera que as grávidas não devem ser, por agora, ser vacinadas. Caso pertençam a grupos de risco, devem “esperar dois, três meses” após o nascimento do bebé para serem inoculadas , tal como aconteceu com “várias médicas” que o especialista conhece. E diz ainda que os estudos que têm sido realizados também não devem servir para concluir que a vacinação nas grávidas é segura. O especialista explica que esses estudos optaram por abordagens distintas entre si e dizem respeito a amostras pouco significativas, fazendo com que tenham “graus e potências diferentes”.

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