O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou serem insuficientes as mil milhões de vacinas anti-Covid-19 que se esperam dos países do G7 e defendeu um plano com uma “economia de guerra”, afirmou esta sexta-feira numa conferência de imprensa.
“Precisamos de reconhecer que estamos em guerra com um vírus”, afirmou a partir de Londres, antes de viajar no sábado para Carbis Bay, no sudoeste de Inglaterra, onde começou esta sexta-feira a cimeira. Espera-se que desta cimeira saiam compromissos para a doação de pelo menos mil milhões de vacinas a países desfavorecidos, das quais os EUA avançaram com 500 milhões e o Reino Unido 100 milhões até 2022.
Mantendo a analogia, Guterres disse: “Para derrotar o vírus e poder impulsionar as nossas armas contra o vírus, e a mais importante dessas armas é a vacinação, (…) precisamos de agir com lógica, com sentido de urgência e com as prioridades de uma economia de guerra”. Embora considere “bem-vindos” os compromissos feitos nos últimos dias pelos Estados Unidos e do Reino Unido, Guterres considerou-os “insuficientes” e quer um plano para duplicar a capacidade de produção mundial dos fármacos.
O secretário-geral da ONU defendeu a criação de um grupo de missão composto pelos países com capacidade de produção de vacinas e outros com potencial para fazê-lo, envolvendo também a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Aliança das Vacinas (Gavi), instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial e a indústria farmacêutica.
Guterres apoiou a iniciativa da África do Sul e da Índia junto da Organização Mundial do Comércio para serem levantadas as patentes das vacinas contra a Covid-19, mas entende que é preciso ir mais além. “Precisamos de uma forte cooperação entre os governos e a indústria farmacêutica para garantir que as licenças estejam disponíveis, mas também para garantir que as transferências tecnológicas e o suporte técnico estejam disponíveis”, argumentou, lembrando ainda a importância de coordenação para evitar roturas nas “complexas” cadeias de abastecimento.
Guterres também enfatizou a importância de um entendimento do G7 ao nível do financiamento climático, para ajudar os países em desenvolvimento combater, mas também a enfrentar os efeitos das alterações climáticas. “O financiamento é um instrumento fundamental para apoiar os países em desenvolvimento, para que sejam ambiciosos também nas suas metas de mitigação e sejam capazes de fazer face aos desafios que as populações já enfrentam”, enfatizou.
Questionado por um jornalista sobre se era correto viajar de avião de Londres até à região da Cornualha, onde se realiza a cimeira, à semelhança de outros líderes como o primeiro-ministro, Boris Johnson, também fizeram, Guterres admitiu que “era a única maneira de chegar a tempo”. “Todos nós, infelizmente, precisamos de voar mais do que gostaríamos”, respondeu, reiterando a necessidade de um “esforço concertado” para alcançar zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 2050.
A cimeira do G7 decorre até domingo, juntando presencialmente pela primeira vez em dois anos dirigentes dos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) e da União Europeia. Para esta edição foram convidados os líderes da Austrália, África do Sul, Coreia do Sul e Índia – mas este último vai intervir por videoconferência -, que se juntam no sábado.