A JS vai apresentar cinco moções setoriais no Congresso do PS, nos dias 10 e 11 de julho, duas das quais para a legalização do cultivo, comércio e consumo da canábis e para a regulamentação da prostituição.

Além destes dois temas, os jovens socialistas querem antecipar de 2050 para 2045 a meta da neutralidade climática, admitem uma revisão constitucional ou a realização de um referendo nacional para a concretização da regionalização, e defendem um “programa de emergência” para o fomento do emprego jovem.

Em relação às propostas consideradas “mais fraturantes” relativas à canábis e à prostituição, o secretário-geral da JS, Miguel Costa Matos, frisou à agência Lusa que o PS iniciou a discussão de ambos os temas já há cinco anos.

“Se há cinco anos se abriu um debate sobre a eutanásia — e o partido avançou com uma proposta, entretanto já aprovada na Assembleia da República —, a nossa expectativa é que passado este tempo de discussão interna já se tenha chegado a um ponto de maturidade em que o PS possa assumir igualmente propostas suas. Tal como aconteceu com a eutanásia, naturalmente que as questões da prostituição e da canábis não gerarão unanimidade no partido, mas poderão ser alvo de um consenso suficiente para avançarem”, disse.

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Miguel Matos salientou depois que “os valores” dos jovens socialistas “não permitem que se possa olhar com indiferença para o que se passa em termos de mercados subterrâneos das drogas e da prostituição”. “Se queremos proteger as pessoas, a liberdade e a igualdade, é importante avançarmos com estes dois projetos“, indicou.

Em matéria de drogas leves, Miguel Matos recordou que há cinco anos a JS apresentou uma moção setorial ao Congresso do PS para promover um debate sobre a legalização da canábis.

“Queremos olhar para as evidências científicas e frisar que nos últimos cinco anos houve vários Estados, designadamente nos Estados Unidos e na Austrália, que legalizaram o consumo pessoal na canábis. Verificamos que em termos de saúde publica, neste momento, o maior risco não é o consumo da canábis em doses moderadas, mas ter de se recorrer a mercados clandestinos para a compra das doses — mercados sujeitos por vezes a produtos adulterados com risco de danos na saúde”, alegou o deputado socialista.

Miguel Matos alertou também para os riscos resultantes da atual situação, em que o consumidor tem de recorrer a fornecedores de outras drogas mais nocivas para a saúde. “Neste ano em que se assinalam duas décadas da descriminalização das drogas leves em Portugal, entendemos que devemos avançar para a legalização do cultivo, do comércio e do consumo pessoal da canábis”, defendeu.

Confrontado com outros relatórios científicos que apontam para efeitos nocivos resultantes do consumo destas drogas, sobretudo ao nível de desequilíbrios psíquicos e neurológicos, o secretário-geral da JS contrapôs que “as evidências de experiências de outros países não apontam para qualquer aumento dos consumos“.

A experiência portuguesa da descriminalização das drogas leves não se traduziu num aumento do consumo, mas sim, até, numa redução. Se trouxermos o comércio da canábis para a legalidade, com lojas controladas e reguladas, afastamos mais o acesso a outras drogas do que com o atual sistema”, advogou.

Com a moção favorável à regulamentação da prostituição, o líder dos jovens socialista observou também que este tema foi lançado para debate pela JS igualmente há cinco anos.

“Temos feito esse debate com a estrutura das mulheres socialistas e consideramos que estamos num momento de propor ao PS um novo modelo – um modelo que o partido possa defender quando for a debate no parlamento de uma petição que partiu de um conjunto de trabalhadoras do sexo e que conta com cerca de quatro mil signatários. Defendemos um modelo que visa garantir a autodeterminação e a liberdade sexual dos trabalhadores do sexo”, apontou.

Miguel Matos adiantou que a JS propõe uma regulamentação que passe “pela gestão em sociedades, ou cooperativas, onde apenas possam entrar trabalhadores do sexo, combatendo por esta via o chamado proxenetismo”.

“Prevemos também que a participação nas sociedades seja com paridade de voto, assim como um conjunto de regulamentações para a promoção do sexo seguro, por exemplo com a existência de botões de pânico nos estabelecimentos de serviços sexuais. Queremos garantir que as prostitutas e prostitutos abandonam uma situação de fragilidade, tendo direitos consagrados, mais segurança e saúde defendida, assim como proteção social”, sustentou.

No que respeita à moção setorial em matéria de ambiente, o secretário-geral da JS considerou em primeiro lugar que o Governo deverá “decretar a emergência climática – algo que a Assembleia da República já aprovou por unanimidade”. “A meta da neutralidade climática, que neste momento está em 2050, deve ser antecipada para 2045, como fez recentemente a Alemanha. Também se deverá estudar uma maior antecipação da descarbonização”, referiu.

Ao nível do emprego jovem, o secretário-geral da JS justificou a adoção do programa de emergência pelo facto de Portugal ser o quinto país da União Europeia com uma maior taxa de desemprego jovem. “Precisamos de mais respostas para o emprego jovem, com reforço dos apoios à contratação, aumento das oportunidades de formação e concessão de apoios especializados“, frisou, antes de abordar a questão da regionalização.

“Se for preciso, entendemos que se proceda à revisão da Lei-quadro das Regiões Administrativas, que é de 1991. Devemos apoiar a instituição das regiões administrativas, seja por via de uma revisão constitucional, seja pela organização de um novo referendo até 2024. Estamos alinhados com a moção de estratégia do secretário-geral eleito, António Costa”, acrescentou.