O presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, anunciou que o conselho de ministros vai aprovar na terça-feira a concessão de indultos aos líderes independentistas catalães. O anúncio foi feito esta segunda-feira, no Grande Teatro do Liceu, em Barcelona, no evento com cerca de 300 pessoas da sociedade civil catalã.

“Amanhã [terça-feira], pensando no espírito de concórdia constitucional, vou propor ao conselho de ministros que conceda indultos aos nove condenados no julgamento do procés que estão na prisão”, anunciou Pedro Sánchez, que foi imediatamente interrompido por pessoas na sala, que começaram a gritar “fora, fora” e “amnistia”.

“O governo de Espanha vai dar um passo para proporcionar o reencontro”, justificou Sánchez, deixando ainda palavras para os que se opõem à medida. “Não ignoro que há pessoas, como estamos a ver, que são contra esta medida. Não ignoro os seus motivos, respeito-os”, sublinhou o líder do governo espanhol, na conferência intitulada “Reencontro: um futuro para toda a Espanha”.

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“A razão fundamental dos indultos que nos dispomos a aprovar é a sua utilidade para a convivência. Estou convencido de que tirar essas nove pessoas da prisão, que representam milhares de catalães, é uma mensagem contundente do desejo de harmonia e coexistência da democracia espanhola. Tiramos materialmente da prisão nove pessoas, mas sumamos simbolicamente milhões à convivência”, acrescentou.

No exterior do Grande Teatro do Liceu, mais de 500 independentistas protestaram contra a conferência de Pedro Sánchez, considerando que os indultos aos líderes catalães não vai mudar nada no processo independentistas. Em vez de indultos, os manifestantes exigem a amnistia para os políticos independentistas, condenados a penas de prisão até 13 anos pelo crime de sedição, na sequência da organização, em 2017, de um referendo para a independência da Catalunha, considerado ilegal por Madrid.

Primeiro-ministro espanhol vai defender na Catalunha aprovação de indultos a independentistas

Entre os presentes na conferência estiveram representantes de organizações sociais, empresários, sindicatos, professores e intelectuais. Os grandes ausentes foram os membros do governo catalão. Sánchez, no entanto, deixou uma mensagem para os políticos independentistas.

“Não esperamos que aqueles que aspiram à independência renunciem aos seus ideais. Mas esperamos que compreendam que não há caminhos fora da lei”, alertou.

Direita critica Sánchez

Após o final da conferência de Pedro Sánchez, as reações não tardaram, com os partidos de direita a tecerem duras críticas ao líder do governo espanhol. O Partido Popular (PP), que aparece em primeiro lugar nas sondagens e tenta ganhar pontos a Sánchez na questão dos indultos, não poupou nas críticas e acusou mesmo o líder do governo espanhol de querer levar a cabo uma “mudança de regime” na Catalunha.

“O problema de Espanha não é a falta de democracia, é negociar com os que vão contra a democracia”, atirou o líder do PP, Pablo Casado, referindo-se aos independentistas catalães, considerando que os indultos fazem parte de uma “agenda extravagante e suicida”. “Somos o maior partido de Espanha e estamos preparados para tirar novamente o nosso país de uma situação terrível em que a esquerda nos meteu”, atirou Casado, garantindo que “a mudança de ciclo é imparável”.

Pedro Sánchez prestes a conceder indultos a líderes independentistas. O objetivo? “A estabilidade” do governo

No mesmo sentido, o Ciudadanos, pela voz da sua presidente, Inés Arrimadas, acusou Pedro Sánchez de “abandonar e humilhar” os espanhóis e de estar refém dos líderes independentistas. “Eles não se arrependem, dizem que [os indultos] é sinal da fraqueza de Espanha. Têm Sánchez de joelhos, fazendo o que for preciso para continuar na Moncloa”, acusou Arrimadas.

“Nós não nos ajoelhamos perante Sánchez, nem perante os seus aplausos nem perante os golpistas”, garantiu. “A democracia espanhola prevalecerá.”

Já o Vox, pelo seu porta-voz, Jorge Buxadé, acusou Sánchez de se “ajoelhar perante a barbárie”. “Pedro Sánchez volta a ajoelhar-se perante o golpe, o separatismo e a barbárie”, atirou Buxadé, citado pelo El Periódico, referindo que o partido de extrema-direita vai avançar para o Supremo quando os indultos forem aprovados.

Independentistas exigem mais a Pedro Sánchez

No bloco independentista catalão, as palavras de Pedro Sánchez foram recebidas com pouco entusiasmo. O presidente da generalitat (governo catalão), Pere Aragonès, congratulou-se por uma medida que vai ajudar a aliviar a “desjudicialização” do conflito, mas considera que os indultos são apenas “um primeiro passo”.

“A nossa proposta é um referendo para decidir o futuro da Catalunha. Os indultos são uma decisão incompleta. A repressão vai muito mais além. A solução global para acabar com a repressão é a amnistia. Essa decisão deveria ser o primeiro passo para ir para a mesa de negociações”, afirmou Aragonès, da Esquerda Republicana Catalã, citado pelo El País, concretizando: “A proposta do governo da Catalunha é a amnistia, para que os exilados possam voltar e mais ninguém vá para a prisão.”

Quem são os condenados no processo da Catalunha?

Quanto ao Juntos pela Catalunha, partido de Carles Puigdemont, exilado em Bruxelas após o referendo de 2017, foi mais crítico do que o seu parceiro de governo, e considerou mesmo que as palavras de Sánchez foram uma “farsa”.

“[Sánchez] Não toma uma decisão [sobre os indultos] de generosidade ou reencontro. Isso poderia ter sido feito há três anos”, disse Elsa Artadi, porta-voz do Juntos pela Catalunha, falando numa intervenção “propagandística e partidária”. “Se tiver coragem e valentia, que vá ao parlamento. É uma autêntica farsa a agenda do reencontro”, atirou.