O autor, encenador e ator Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II desde 2015, será o próximo diretor do festival de artes de Avignon. O português vai suceder a Olivier Py, que irá programar ainda a próxima edição (de 2022) do festival.

O festival de artes performativas, que começou em 1947 e que teve já mais de 70 edições, é uma das montras anuais de criação e exibição teatral mais importantes e antigas do continente europeu. Tiago Rodrigues será o primeiro diretor não francófono da história do Festival d’Avignon.

A notícia foi dada oficialmente esta segunda-feira, em conferência de imprensa em que participou a ministra da Cultura de França, Roselyne Bachelot-Narquin, refere o jornal Le Monde. “A escolha impôs-se de forma evidente, [foi] de forma natural, quase de forma doce”, vincou a ministra da Cultura de França, prevendo uma proposta cheia de “poesia” para a linha programática.

Na conferência de imprensa de esta manhã, que decorreu no Palácio dos Papas, em Avignon, Tiago Rodrigues mostrou-se feliz com a nomeação: “Estou muito feliz por ser nomeado como próximo diretor do Festival d’Avignon. É o festival mais belo do mundo. É uma aventura a que vou consagrar todas as minhas energias, tentando continuar esta manifestação artística e de democratização do teatro”.

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“Quero agradecer à França, país de acolhimento, uma sociedade diversa e aberta, que acolheu tantos portugueses, emigrantes e exilados. Entre eles, o meu pai, que escapou à ditadura portuguesa. Agora, este país, acolhe o seu filho”, apontou ainda Tiago Rodrigues.

O mandato de Tiago Rodrigues como diretor do Festival d’Avignon vai iniciar-se a 1 de setembro de 2022.

Paralelamente ao trabalho de programação e direção artística no Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues foi encenando várias peças ao longo dos últimos anos, como “Sopro” (que se estreou no Festival d’Avignon), “By Heart”, “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas” e “O Cerejal”, clássico de Tchékhov que o português encenou e que esta segunda-feira começará a ser apresentado no arranque da edição de 2021 do Festival d’Avignon, com a atriz francesa Isabelle Huppert como protagonista.

O autor, encenador e ator português terá entretanto de abandonar a direção artística do D. Maria II, já que a direção do Festival d’Avignon será uma função que desempenhará em exclusividade. O ‘timing’ certo para a saída do diretor ainda não está, porém, definido.

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Costa felicita Tiago Rodrigues e fala em “prova da visibilidade do teatro português”

António Costa já felicitou Tiago Rodrigues pela nomeação para o cargo de próximo diretor do Festival d’Avignon. Através das redes sociais, o primeiro-ministro português deixou a seguinte mensagem: “Felicito Tiago Rodrigues pela sua nomeação como diretor do Festival d’Avignon, o mais prestigiado festival europeu de teatro, onde esta noite [segunda-feira] estreia a sua encenação de “O Cerejal”, de Tchékhov. É a primeira vez que a escolha recai sobre um diretor não francófono”.

Para o primeiro-ministro, “a nomeação de Tiago Rodrigues representa o reconhecimento internacional da qualidade do seu trabalho enquanto encenador, dramaturgo e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II. É também prova da visibilidade do teatro português nos palcos europeus”. Costa desejou ainda a Tiago Rodrigues “as maiores felicidades no exercício das novas responsabilidades, que assumirá a partir do próximo ano”.

Marcelo também congratula “um dos nomes mais celebrados do teatro europeu”

O Presidente da República também já reagiu à nomeação de Tiago Rodrigues para o cargo internacional. Em nota publicada no site da Presidência, lê-se: “Felicito o encenador, dramaturgo e ator Tiago Rodrigues pela nomeação como diretor do Festival de Avignon, fundado por Jean Vilar em 1947”.

Atual diretor do Teatro Nacional D. Maria II, vencedor da penúltima edição do Prémio Pessoa, Tiago Rodrigues tem sido nos últimos anos um dos nomes mais celebrados do teatro português e europeu. Convidado para encenar Saramago na Royal Shakespeare Company, está hoje em Avignon com «O Cerejal», de Tchékhov, com Isabelle Huppert, espetáculo de abertura oficial da 75.ª edição do Festival”, refere ainda a nota assinada por Marcelo Rebelo de Sousa.

Graça Fonseca elogia “percurso cívico, artístico e humanista” de Tiago Rodrigues

Também a ministra da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, reagiu à nomeação de Tiago Rodrigues para diretor artístico de “um dos maiores festivais de teatro do mundo”.

Em nota enviada às redações, Graça Fonseca vinca o “significado simbólico da decisão”, por se tratar “da primeira personalidade estrangeira a dirigir este festival de referência”, mas acrescenta que “este importante reconhecimento internacional reflete um percurso cívico, artístico e humanista de inegável relevância e coerência do ator, encenador, dramaturgo e atual diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II”.

O contributo de Tiago Rodrigues para as artes performativas e, de modo mais abrangente, para a cultura portuguesa tem-se pautado pela consistência, tenacidade e arrojo artísticos enquanto criador teatral atento às problemáticas e inquietações maiores da sociedade contemporânea, numa afirmação estética que nunca descarta a poeticidade, o questionamento ético, a inquietação, a atenção ao coletivo e uma vincada consciência dos processos sócio-históricos”, lê-se na longa nota de felicitações.

Na nota, a ministra da Cultura vinca ainda a “postura de assumido comprometimento com o seu tempo e com o papel das artes” nas inquiritações artísticas sobre esse mesmo tempo, elogiando ainda “a apologia da liberdade em cena e no processo criativo” de Tiago Rodrigues “e a sua capacidade dinâmica de construir pontes colaborativas entre universos distintos (e não poucas vezes distantes)”. O caminho de Tiago Rodrigues é, para a ministra da Cultura, ” singular, longo, ambicioso e eclético, já inúmeras vezes reconhecido e premiado em Portugal e no estrangeiro“.

Ainda sobre o percurso de Tiago Rodrigues, Graça Fonseca sublinha “a sua visão transversal e plural sobre os processos culturais e artísticos, patente no pensamento crítico que tem produzido mas também nas estratégias e dinâmicas programáticas implementadas enquanto diretor artístico”. E enaltece a capacidade revelada por Tiago Rodrigues na direção artística do Teatro D. Maria II para “construir pontes entre cidades e países, estimulando dinâmicas culturais e artísticas em escalas locais/regionais mas também numa dimensão internacional, promovendo um teatro vivo e acessível a todos”.

Graça Fonseca vinca ainda que do trabalho desenvolvido por Tiago Rodrigues no D. Maria II resultou “a valorização de talentos emergentes e de diversas estruturas independentes menos conhecidas do panorama nacional, bem como para a consolidação de projetos de relevante dimensão social e comunitária através da arte, dirigidos a segmentos jovens e seniores”.

Esta nomeação premeia ainda, de modo mais amplo, a qualidade e vitalidade do teatro português e a crescente afirmação, visibilidade e reconhecimento das artes performativas portuguesas no plano internacional“, remata a nota enviada pelo ministério da Cultura.

Rodrigo Francisco: “É um dia enorme para a cultura portuguesa e para o país”

O diretor artístico da Companhia de Teatro de Almada e do Festival de Almada, Rodrigo Francisco, vincou em declarações à Rádio Observador que o “principal festival de teatro do mundo” terá a partir de 2022 um diretor português: “O Festival d’Avignon é tão só o principal festival de teatro do mundo e serviu de modelo à criação de muitos festivais, como é o caso do nosso. É um festival que surgiu no pós-II Grande Guerra por Jean Vilar como forma de sanar as feridas que tinham ficado da II Grande Guerra e como forma simbólica de criação de um espaço de diálogo e fraternidade entre criadores e espectadores”.

Já sobre a nomeação de um criador, encenador e diretor artístico português para dirigir o festival francês, Rodrigo Francisco apontou: “A nomeação do Tiago enche-me de um orgulho imenso. Hoje tenho um grande orgulho em ser português“.

O Tiago Rodrigues foi o melhor diretor do Teatro Nacional D. Maria II que eu conheci, fez um trabalho impecável. E é um grande criador. Não é só o teatro português que tem motivos para festejar, é o país, Portugal tem motivos para festejar. A nomeação do Tiago Rodrigues enche-nos a todos de orgulho, é um dia enorme para a cultura portuguesa e para o país”, disse ainda.

Questionado sobre se o facto do festival passar a ter um diretor português poderá significar uma maior presença de encenadores, criadores e atores portugueses no Festival d’Avignon, o diretor artístico da Companhia de Teatro de Almada apontou: “Acho que o Tiago não vai ser o programador português do Festival d’Avignon, vai ser um excelente programador do teatro que se faz no mundo. Tem uma visão global do mundo, não olha só para Portugal. Mas claro que tendo feito a sua carreira entre Lisboa, Bruxelas e o mundo, conhecendo como ninguém o teatro português, vai com certeza conceder oportunidade para os criadores portugueses terem acesso a essa sede de teatro”.

Rodrigo Francisco rematou ainda: “Não é por acaso que hoje [segunda-feira] o Tiago Rodrigues vai dirigir um espectáculo no histórico e mítico Palácio dos Papas, um espaço que é a Meca do teatro mundial. Podemos ter a esperança do teatro português ter mais visibilidade mas não creio que só por ter português vá ter grande preocupação nesse sentido, acho que vai fazer um excelente trabalho e temos todos os motivos para estarmos muito orgulhosos“.

Tiago Guedes: “Uma boa notícia para o teatro mundial. Vai ser um excelente diretor”

O coreógrafo, programador cultural e desde 2014 também diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, reagiu à nomeação de Tiago Rodrigues para este cargo internacional com felicidade. “Acho que o Tiago Rodrigues vai ser um excelente diretor do Festival d’Avignon. É uma boa notícia para o teatro mundial”, apontou, em declarações proferidas à Rádio Observador.

Considerando que Tiago Rodrigues tem feito “um trabalho excecional como diretor do Teatro Nacional D. Maria II” porque “deu uma grande volta àquela instituição, modernizou-a, colocou-a no circuito internacional”, Tiago Guedes vinca que no D. Maria II o autor, encenador e ator que vai dirigir o Festival d’Avignon teve também “um sítio onde pôde desenvolver o seu trabalho de forma muito consequente”.

O Tiago Rodrigues é neste momento um dos grandes encenadores mundiais da atualidade mas é também um grande programador. E é muito difícil ter esse equilíbrio de se continuar a desenvolver trabalho enquanto criador e fazer-se paralelamente um trabalho de programação muito sólido. O Tiago tem conseguido fazer isso com uma grande mestria e também com um grande humanismo”, apontou Tiago Guedes.

O coreógrafo e diretor do Teatro Municipal do Porto, que este ano recebeu do Governo francês o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pelos serviços prestados à cultura e ao intercâmbio entre Portugal e França, considera o convite a Tiago Rodrigues “muito merecido”. E acrescentou: “Conheço o Tiago há muitos anos e fico bastante feliz por este convite, estou certo que vai fazer um excelente trabalho no festival, que na realidade é o festival de teatro mais importante do mundo“.

Avignon, lembrou Tiago Guedes, “é uma cidade de teatro e o festival tem sido muito, muito importante para a história do teatro mundial e para a história em particular do teatro em França”. Vincando, por último, que não considera que “possa existir uma discriminação positiva aos artistas nacionais” em Avignon nos próximos anos, Tiago Guedes não deixa de reconhecer que Tiago Rodrigues “é português, conhece muito bem a cena artística portuguesa e certamente não se esquecerá dela quando for para o festival de Avignon” que, recorda, não se circunscreve apenas ao teatro, tendo bastantes propostas na área da dança.

Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal do Porto, distinguido pelo governo francês

O futuro do D. Maria II sem Tiago Rodrigues e o “enorme orgulho” no diretor

A presidente do Teatro Nacional D. Maria II manifestou esta segunda-feira “um enorme orgulho” pela escolha de Tiago Rodrigues para diretor do Festival d´Avignon, acrescentando que o D. Maria II “não vai deixar cair” o trabalho que desenvolveu.

“A opção do Festival d´Avignon pela primeira vez convidar um estrangeiro para dirigir talvez o maior festival de teatro de sempre talvez seja reflexo daquilo que tem disso a carreira do Tiago, que é um criador extraordinário, multifacetado”, sublinhou a presidente do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II, Cláudia Belchior, a propósito do ainda diretor artístico da instituição.

Para Cláudia Belchior, o trabalho “maravilhoso” que Tiago Rodrigues tem feito ao longo dos últimos anos “justifica completamente” a escolha para dirigir o Festival d´Avignon.

“Estamos, nós enquanto teatro nacional, muito orgulhosos pela escolha de um português e pela escolha do Tiago, com quem temos trabalhado, e eu particularmente que fui nomeada com ele ao mesmo tempo — ainda faço parte da equipa original”, frisou, acrescentando ter dado já os parabéns ao ainda diretor artístico do D. Maria II.

Tem sido “uma aventura extraordinária [trabalhar com Tiago Rodrigues], desejo-lhe tudo, tudo, tudo de bom e muitos mais sucessos”, observou ainda a presidente do conselho de administração do D. Maria II.

Questionada sobre o futuro do D. Maria II, Cláudia Belchior frisou que Tiago Rodrigues “deu um cunho muito pessoal nos últimos anos na área da direção artística do teatro” no qual deixa “um lastro importante”.

A saída de Tiago Rodrigues será, contudo, uma transição que “terá continuidade em tudo aquilo que é bom”, frisou. “Não vamos deixar cair o trabalho que foi feito”, prometeu também.

O percurso de Tiago Rodrigues, que foi distinguido em 2019 com o Prémio Pessoa

Em 2019, Tiago Rodrigues tinha sido distinguido com o Prémio Pessoa, tornando-se (depois de Luís Miguel Cintra) o segundo autor, ator ou encenador ligado ao teatro a receber o prémio. Quando explicou a atribuição da distinção, o presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão, aludira ao trabalho de Tiago Rodrigues no Teatro Nacional D. Maria II: “Lançou um ambicioso projeto de internacionalização da instituição e empregou num novo dinamismo, desde logo reconhecido pela crítica e pelo público”.

O presidente do júri do Prémio Pessoa vincara aquando da atribuição da distinção que Tiago Rodrigues “é hoje presença regular nos principais palcos europeus” e lembrara que o português fora “convidado a encenar para a Royal Shakespeare Company, tendo escolhido para o efeito a sua peça Blindness and Seeing, baseada nos romances Ensaio Sobre a Cegueira e Ensaio Sobre a Lucidez de José Saramago”.

Prémio Pessoa entregue a Tiago Rodrigues, ator, encenador e diretor artístico do D. Maria II

Antes de assumir o cargo de direção artística do Teatro Nacional, Tiago Rodrigues, filho de um jornalista e de uma médica — chegou a escrever textos para jornais antes de fazer teatro —, foi um dos fundadores e diretores artísticos da companhia de teatro Mundo Perfeito, que apresentou peças não apenas em Portugal mas também em países da América do Sul, Médio Oriente, Ásia e outros países europeus. Esteve também envolvido no projeto europeu “Try Angle”, apoiado pelo Culture Programme da União Europeia.

Quando foi escolhido para assumir o cargo no Teatro D. Maria II, em 2014, Tiago Rodrigues explicava ao Observador que gostaria que a instituição fosse “um projeto muito importante para dar uma grande energia ao tecido teatral português, aos públicos e à relação entre a criação artística e a sociedade” e que esperava que o D. Maria II, “mais do que um espelho daquilo que é a criação teatral portuguesa” pudesse ser “um agente provocador para os artistas, um espaço em que os artistas possam interpelar o púbico e a sociedade”.

Nota – Artigo atualizado às 19h34 com declarações de Tiago Guedes e Rodrigo Francisco