Milhares de cubanos manifestaram-se este domingo contra o Governo, num conjunto de protestos de dimensão e alcance inéditos nas ruas de duas pequenas cidades, uma a sudoeste de Havana e outra perto de Santiago de Cuba, como demonstram vários vídeos divulgados online.

O Presidente cubano, Miguel-Díaz Canel, já reagiu, pedindo aos partidários e apoiantes do regime que venham para a rua, prontos para o “combate”. Segundo o El Confidencial, o chefe de Estado cubano disse — em direto na televisão pública –, que a “ordem de combate está dada”. “Vamos para a rua, revolucionários”, instou.

Estes são comentários que causaram “profunda preocupação” ao governo norte-americano. “Estamos muito preocupados com os ‘apelos ao combate’ em Cuba”, disse numa mensagem na rede social Twitter a Secretária de Estado Adjunta em exercício do Gabinete para os Assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA, Julie Chung, que sublinhou o apoio da Administração dos EUA ao direito dos cubanos a manifestarem-se pacificamente.

De acordo com a Agência France Presse, manifestantes, na sua maioria jovens, desfilaram nas ruas de San Antonio de los Baños, uma cidade com cerca de 50 mil habitantes situada a 35 quilómetros da capital cubana, gritando palavras de ordem como “Pátria e vida”, o título de uma canção polémica, “Abaixo a ditadura” e “Nós não temos medo”.

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Na outra ponta do país, em Palma Soriano (perto de Santiago de Cuba), centenas de pessoas participaram numa manifestação onde se ouviu palavras de ordem como “chega de mentiras”, “unidade” e “queremos ajuda”, contou a agência espanhola EFE.

Grupos organizados de apoiantes do Governo também estiveram no local, entoando “Eu sou Fidel” ou “Canel, amigo, o povo está contigo”. A Assembleia da Resistência Cubana apelou à população a que se mantenha nas ruas e à polícia e às Forças Armadas para que se posicionem ao lado do povo.

Segundo a EFE, que cita testemunhas no local, houve violência policial nas duas manifestações, que foram transmitidas em direto em várias contas na rede social Facebook. Habitantes de San Antonio de los Baños contaram a repórteres da EFE que, durante o protesto, a polícia reprimiu violentamente e deteve alguns dos manifestantes.

Os cubanos que foram obrigados a fugir para outros países receiam que possa haver um “banho de sangue” e pedem uma intervenção internacional. O dirigente do exilados em Miami, Orlando Gutiérrez, assinalou à Agencia Efe que “está muito claro o que quer o povo de Cuba: que este regime acabe”.

Estes foram os maiores protestos anti-Governo de que há registo na ilha desde o chamado “maleconazo”, quando em agosto de 1994, em pleno “período especial”, centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.

Desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, os cubanos enfrentam maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, o que gerou um forte mal-estar social.

Estas manifestações aconteceram no dia em que Cuba registou um novo recorde diário de contágios e mortos devido à Covid-19, com 6.923 novos casos nas últimas 24 horas, num total de 238.491, e 47 mortos, subindo o total desde o início da pandemia para 1.537.