Rui Costa eu esta quinta-feira uma entrevista à TVI, a primeira desde que assumiu a presidência do Benfica, depois de Luís Filipe Vieira ter sido constituído arguido no processo Cartão Vermelho. Além de perplexidade com o que se passou com Vieira, o “maestro” admite estar focado no presente e não nas eleições, pedindo à “nação” benfiquista para estar unida.
Um dos mais queridos números 10 do Estádio da Luz, Rui Costa chega à liderança do clube num momento muito sensível dos encarnados. Não só pela questão Vieira, ainda sem fim à vista, mas também porque, a nível do futebol, há coisas a resolver no imediato: o Benfica prepara a eliminatória frente ao Spartak Moscovo (treinador por Rui Vitória), da 3.ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões
Rui Costa entrou na estrutura da Luz depois de terminar a carreira, em 2008, e já assumiu cargos como diretor desportivo, administrador da SAD e vice-presidente do clube.
Questionado sobre Luís Filipe Vieira, respondeu: “Fiquei perplexo, assim como qualquer pessoa que lidasse com ele ou qualquer benfiquista. Jamais poderia sonhar que quando acordei para trabalhar no Benfica Campus o dia acabasse como acabou. Como compreende, foi uma emoção dramática quando nós soubemos o que se estava a passar. Quando soubemos da detenção do presidente, desde os jogadores aos funcionários, foi um abalo.”
“Até hoje não é acusado e, quer para ele, quer para o Benfica, esperamos que não passe disto. Foi um choque para todos nós. Não só Luís Filipe Vieira enquanto pessoa, mas também enquanto presidente do Benfica. O desagrado era enorme. Custou até a aceitar os primeiros dias a todos os que ali trabalham a aceitar o sucedido”, acrescentou.
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Sobre assumir a presidência, Rui Costa referiu que não havia muito mais a fazer e que “não houve tempo para pensar”. “Foi analisar e não podia recuar e não assumir a responsabilidade porque era o número dois da direção. Na sexta-feira, acordo como diretor desportivo e acabo como presidente do Benfica, o assumir de uma responsabilidade da qual não conseguiria fugir”, disse, admitindo que não foi a “situação que mais agradou naquele dia” devido ao contexto.
Foi no relvado do Estádio da Luz que Rui Costa se dirigiu pela primeira vez aos adeptos como líder encarnado e o facto de Luís Filipe Vieira não ter sido referido prendeu-se apenas com a necessidade de “defender o Benfica de forma intransigente”. “A obra que Luís Filipe Vieira deixou no Benfica nunca será apagada por ninguém”, frisou.
Se a imagem de Rui Costa saiu beliscada dessa intervenção? “Importava defender o Benfica. Luís Filipe Vieira faria o mesmo comigo, apesar da nossa ligação”, garantiu.
Onde Rui Costa mudou um pouco o tom com que vinha a responder às perguntas foi quando questionado sobre a ligação do Footlab, empresa que tem em Carnaxide, a outras polémicos, que incluíam até os filhos do antigo 10: “Não posso considerar isso que não uma canalhice. Não justifica que possa valer tudo para denegrir a imagem. Considero uma canalhice”. O agora presidente das águias explicou que o Footlab é um espaço que tem em Carnaxide com mais dois sócios e que está “aberto ao público”, não estando ligado a “agenciamento de jogadores”. “As pessoas que referiram isso sabem o que é o Footlab. Esta é das partes que mais me tocam. Tenho o maior orgulho de ter sido um dos maiores ídolos da massa associativa, mas quero ser avaliado como presidente e não como menino do Benfica. Não tocam na minha honra nem na minha relação de amor com o clube”, rematou.
Sobre as eleições, Rui Costa não quer para já falar nisso, porque está “focado” no dia a dia do clube e em trazer “estabilidade”, mas garante que a ficar na presidência, será por vontade dos sócios: “Jamais neste clube eu aceitaria ser príncipe herdeiro, será por exclusiva vontade dos benfiquistas”.
“Neste momento o importante é preparar as épocas desportivas. Os meus únicos focos prendem-se com estabilidade. Toda a gente que trabalha comigo está proibida de falar em eleições. O que peço é estabilidade, no futebol, nas modalidades… recuperar estabilidade do clube. Tenho tempo para pensar [nas eleições]. Não me vou desfocar, tenho tempo para pensar nisso”, finalizou sobre o assunto.
Uma frase que foi atribuída a Luís Filipe Vieira nas últimas semanas foi “fizeram-me isso?”. Aqui, refere-se alegadamente às mudanças operadas no clube aquando da sua ausência. Sobre isso, Rui Costa diz acreditar que não seja fácil, mas que não foi para mais gente. “Sabemos quanto deu ao clube. Ver-se afastado da presidência do Benfica eu não acredito que seja fácil, mas também não foi fácil para nós e para mim assumir uma posição destas. Mesmo na minha apresentação houve misto de emoções. Compreendo perfeitamente a reação, mas ele sabe que jamais seria ingrato para com ele. Há a parte pessoal e o Benfica. A direção teve de separar as aguas. Eu tive de separar as aguas”, confessou.
Referindo que “de certeza que não” assinou algum documento duvidoso e que “não fosse legal”, admitiu que a auditoria recentemente pedida irá ser, sobretudo, um “ato de transparência”, algo que Rui Costa quer “trazer para o Benfica”. “O Benfica tem de voltar a ser falado pelas boas razões e não pelas más razões. Tem de voltar a ser falado pela enorme dimensão que tem. É o que os benfiquistas mais precisam”, afirmou.
Rui Costa admite “rever os estatutos do clube para que se adaptem às novas realidades e desejos dos sócios” mas, mais uma vez, não agora.
John Textor, nome tão falado desde que rebentou o “caso Vieira”, o antigo “maestro” da Luz foi mais uma vez claro: “Não tive nenhum contacto. Não é querer ou não, acho que agora não é oportuno e quem estiver a frente depois das eleições decidirá. Nada contra John Textor, ele não criou nenhum dano. Só depois quem falar com ele perceberá. Neste momento os focos não são esses. Pela forma como nasceu o processo não era oportuno, era fora do contexto do que se vive.”
O empréstimo obrigacionista do clube “não foi o melhor dos 11, mas também o contexto não o permitiria”. “Não se esconde que pelas circunstâncias do Benfica tememos não conseguir e havia o risco de não conseguirmos. Foi uma vitória especial pelo momento que estávamos a atravessar”, explicou.
O foco de Rui Costa está mesmo na atualidade do clube e, sem esconder, na entrada na Liga dos Campeões, cuja caminhada encarnada começa já dia 4 de agosto, em Moscovo, frente ao Spartak de Rui Vitória. “É fundamental. Sem ser hipócrita, em termos financeiros é importantíssimo, mas há também a parte desportiva. O Benfica tem de estar na Liga dos Campeões”, frisou com uma certeza que transpôs mesmo à presença das águias na fase de grupos da Champions.
“Jorge jesus é o treinador do Benfica e continua a ser. Não se pensa noutra cosia que não seja isso. É um treinador com enorme sucesso. A época correu extremamente mal a todos por variadíssimas razões. Estamos a partir para uma nova época com uma ambição tremenda, a ambição que todos os benfiquistas querem”, referiu Rui Costa, que falou ainda em contratações (“haverá mais independentemente da Liga dos Campeões”) e que “a prioridade foi preencher a zona do meio-campo”. “Trouxemos um 6 [Meïte] e um 8 [João Mário]. O mercado fecha a 31 de agosto mas para nós fecha a 4 por causa da Liga dos Campeões”, avisou.
Uma coisa em que como que contrariou Luís Filipe Vieira, que terá autorizado as filmagens de Pinto da Costa em pleno Estádio da Luz, é que “apesar de não conhecer os contornos que levaram” à situação, “não daria autorização” até porque “não faria no Estádio do Dragão” uma reportagem sobre si.
E se visse agora Luís Filipe Vieira? O que faria Rui Costa? “Se fosse agora, dava-lhe um abraço de força e coragem. Sei que dos aspetos pessoais, em termos profissionais e de Benfica, não duvido o quanto está a sofrer por isso. Por tudo o que tentou fazer pelo Benfica. Esclarecia as coisas com ele, do que se falou. Não sou ingrato, não estou com esse trauma, estou de consciência tranquila. Conhece-me ainda não era jogador do Benfica. Mas acima de tudo dar abraço de coragem, não vou renegar a amizade com o Vieira”.
“Tudo o que seja pensar em eleições é atrasar o meu processo e o meu foco para aquilo que é essencial neste momento para a história do Benfica. Os adeptos e sócios não querem saber quem vai ganhar as próximas eleições. Querem saber se entramos na Champions e é neste foco que tenho de me concentrar assim como foi o empréstimo obrigacionista, que foi uma enorme vitória no clube, essencial para a vida do clube. Que de uma vez por todas a nossa nação entenda o momento e o quão importante é estarmos todos juntos. Não houve nenhum clube que sentisse a falta dos adeptos como o Benfica. Nenhum jogador supera a ausência do nosso público”, disse a finalizar, admitindo que é a época mais desafiante de Rui Costa e não tem “a bola nos pés”.