O Presidente da República assinalou esta terça-feira o centenário do nascimento de Carlos de Oliveira, sublinhando que nenhum outro escritor do neorrealismo português alcançou, nas últimas décadas, “igual prestígio crítico” ao autor de “Uma Abelha na Chuva” e “Finisterra“.
Numa nota colocada na página da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa atribui o prestígio de Carlos de Oliveira ao modo como “reescreveu os seus romances e poemas, chamando mesmo à obra em verso ‘trabalho poético’, lembrando assim a dimensão oficinal de toda a literatura”.
“Praticante de um idioma depurado e evocativo, que deve muito à poesia, Carlos de Oliveira publicou romances tensos e intensos, sóbrios e subtis, mesmo quando denunciavam dinâmicas opressivas”, escreve o Presidente, citando a obra-prima do escritor, “Uma Abelha na Chuva”.
Referindo-se a “Finisterra”, o chefe de Estado diz que o autor “foi mais longe ainda”, produzindo “um romance da linguagem capaz de ombrear com os grandes textos modernistas europeus, mas que não deixava de ser a ficção de um lugar concreto, a Gândara, da circunstância histórico-social das gentes à dimensão geológica e mítica da paisagem”.
Carlos de Oliveira, filho de emigrantes portugueses no Brasil, nasceu em Belém do Pará em 10 de agosto de 1921 e veio para Portugal com 2 anos, acabando por se fixar no concelho de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde o seu pai exerceu medicina.
Em 1933, parte para Coimbra, onde conclui em 1947 a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas. No ano seguinte, o escritor ruma a Lisboa, onde passará a viver.
Mantém colaborações esporádicas em vários jornais e revistas, e chega a tentar o ensino, mas a partir de 1972 dedica-se definitiva e exclusivamente à literatura até à data da sua morte, em 1981.
É considerado um dos grandes escritores portugueses do século XX, quer na poesia, que reuniu já tardiamente sob a designação “Trabalho Poético”, quer na ficção, desde o primeiro romance – “Casa na Duna” (1943) – até ao último, “Finisterra. Paisagem e Povoamento” (1978), sem esquecer o seu livro mais popular, “Uma Abelha na Chuva” (1953), adaptado ao cinema por Fernando Lopes, em 1971.
Alguns dos seus livros mais significativos foram traduzidos para várias línguas, tendo além disso suscitado uma atenção constante da crítica ao longo de toda a sua vida. O seu espólio encontra-se depositado no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.