Desde do final de julho que a localidade de Bath, no sudoeste de Inglaterra, tem um museu sobre Mary Shelley e a sua criação mais famosa, Frankenstein. O museu é o primeiro inteiramente dedicado à escritora, que figura entre os grandes nomes da ficção inglesa, mas que até agora não tinha um espaço só seu.
Bath, conhecida pelas termas romanas que lhe deram o nome, não foi escolhida por acaso. Foi nessa cidade, num antigo prédio da época georgiana, que Mary Shelley viveu entre 1816 e 1819 e escreveu grande parte de Frankenstein. A ideia de um monstro feito de partes de cadáveres e despertado através da eletricidade produzida por um trovão surgiu à escritora no verão de 1816, perto do Lago Lemano, em Genebra. A história é quase tão famosa quanto o livro: foi numa noite de tempestade, à lareira da Villa Diodati, alugada por Lord Byron, que Mary imaginou pela primeira vez a criação monstruosa de Victor Frankenstein.
A escritora deu continuidade à história em Bath, para onde se mudou com o companheiro, o poeta Percy Shelley, e a meia-irmã, Claire Clairmont, grávida de Byron. A ideia era que Claire pudesse ter a filha em segredo, mas também que os Shelley pudessem evitar o seu próprio escândalo — Percy, que era casado e cinco anos mais velho do que Mary, tinha fugido com ela em 1914, para França e depois para Suíça. Não pisavam solo inglês desde então.
Mary Shelley não gostava de Bath mas, talvez para sua própria surpresa, encontrou na localidade várias fontes de inspiração, sobretudo entre a comunidade médica, que incluía Charles Wilkinson, um pioneiro no uso da eletricidade para fins médicos que tinha o seu laboratório muito perto da casa onde os Shelley e Claire Clairmont estavam instalados. Apesar de o edifício já não existir — foi demolido em 1890, — desde 2018 que existe no local uma placa que assinala os 200 anos da publicação de Frankenstein.
A placa, conta o The Guardian, nasceu dos esforços do historiador Christopher Frayling, o primeiro a tentar celebrar Mary Shelley em Bath. Frayling procurou na altura que o reconhecimento fosse além de uma simples placa numa parede, mas a câmara municipal não se mostrou recetiva — Frankenstein era “demasiado Hollywood”, consideraram os responsáveis. Felizmente as coisas mudaram (e os responsáveis também), o que permitiu a Jonathan Willis e a Chris Harris criarem na localidade o primeiro museu dedicado ao mostro e à sua igualmente famosa criadora.
Mary Shelley’s House of Frankenstein — assim se chama o espaço — é uma experiência imersiva e potencialmente assustadora, que tenta recriar a história e o ambiente de Frankenstein. A exposição ocupa os quatro pisos de um prédio da época georgiana (incluindo a cave) e apresenta “artefactos raros e objetos antigos, ambientes multi-sensoriais e diferentes partes humanas”, refere o site do museu. Há uma sala dedicada à história de Mary Shelley e uma escape room, que recria o “sótão miserável” de Victor Frankenstein onde o monstro nasceu. Este pode ser visto em todo o seu esplendor numa das áreas expositivas, graças à réplica de dois metros e meio construída a partir das descrições de Shelley.
Por enquanto, apenas o museu e a escape room se encontram em funcionamento, mas Jonathan Willis e Chris Harris não querem ficar por aqui, revela o The Guardian. No futuro, querem organizar bailes monstruosos, criar um autocarro e um café assustadores e até um hotel gótico onde os visitantes possam passar uma noite digna de um filme de terror.