Dezenas de pessoas manifestaram-se esta sexta-feira no Rossio, em Lisboa, em defesa das mulheres afegãs e dos seus direitos, com algumas a lamentarem não terem à sua frente uma praça cheia de gente.

Inês, como quis simplesmente ser identificada, explicava à Lusa que estava presente, com o seu cartaz a pedir “liberdade e amor”, por se sentir “impotente” perante a situação vivida pelas mulheres e crianças no Afeganistão e por entender que neste momento não há muito mais que se possa fazer nesta altura para além de mostrar solidariedade, quando entrou em diálogo com outra manifestante atrás de si.

“Como é possível não estar mais gente? Esta praça devia estar cheia! O que se passa é uma vergonha em pleno século XXI”, dizia Cristina Vieira, com a concordância de Inês.

“Estive em muitas manifestações quando vivi no estrangeiro e uma manifestação destas lá teria muito mais gente”, acrescentava, por seu lado, Inês.

Eram algumas dezenas os que se concentravam na praça do Rossio pelas 19h00, em defesa das mulheres afegãs, mas à hora marcada para o início da concentração, pelas 18h00, eram ainda menos os que se juntavam em frente à bandeira afegã colada a fita-cola à estátua de D. Pedro IV, no centro da praça.

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Contra a indiferença, Cristina Vieira disse à Lusa que levou duas pessoas para a manifestação, afirmando que neste momento o que a sociedade civil pode fazer é “movimentar-se, fazer barulho e acolher refugiados com todo o amor e carinho”, e acrescentando que teme que a atenção mediática que o tema agora recebe seja rapidamente substituído pelo esquecimento.

Marta Maia, uma das amigas que Cristina Vieira levou um cartaz a apelar à solidariedade universal, dizendo “cada mulher é minha irmã”.

À Lusa disse não compreender como se pode estar a assistir a um “retrocesso civilizacional”.

Patrícia Pereira, do coletivo feminista Por Todas Nós, que organizou a manifestação, explicou à Lusa que assim que começaram a chegar notícias de Cabul sobre a tomada de poder pelos talibãs a “preocupação imediata foi com as mulheres e as crianças” e com a perda de alguns direitos conquistados nos últimos 20 anos, como a escolarização e o trabalho.

“Sabemos que as mulheres já estão a sofrer perseguições, que já estão a ser forçadas a casamentos arranjados. É assustador não conseguirmos fazer nada”, disse.

A presença no Rossio pretende ser também um “apelo às instituições” para que trabalhem pela abertura de corredores humanitários que permitam a retirada das pessoas que queiram sair.

Os slogans em defesa dos direitos das mulheres afegãs foram sendo entoados entre os presentes, que atraíram a atenção sobretudo de grupos de turistas, que passavam e paravam para perceber o que se passava.

Os talibãs entraram em Cabul no passado dia 15 e tomaram o palácio presidencial, no final de uma ofensiva iniciada em maio quando começou a retirada final das forças norte-americanas e da NATO.

O movimento extremista tem-se esforçado para mostrar uma imagem aberta e moderada, mas muitos temem que os talibãs instaurem o mesmo tipo de regime fundamentalista e brutal que existiu quando ocuparam no poder no Afeganistão entre 1996 e 2001.

Sob o domínio talibã, as mulheres estavam impedidas de estudar, trabalhar e sair à rua sem fhoguardião.