A GNR garante que a lancha que tinha encalhado na praia de Carcavelos, no concelho de Cascais, não tem “danos estruturais identificados”. A informação foi prestada em comunicado emitido pela Guarda na manhã desta quinta-feira após a embarcação avaliada em cerca de 8 milhões de euros ter sido desencalhada e de ter atracado em segurança às 01h05 no porto de Lisboa. Ainda assim, assegura a GNR, será agora feita uma avaliação para apurar o estado da lancha.
Recorde-se que a lancha tinha encalhado na tarde quarta-feira na praia de Carcavelos, tendo iniciado as operações de reboque da embarcação da GNR pelas 22h20.
Num comunicado divulgado esta quinta-feira, a GNR acrescenta que “durante a tarde, na sequência da inspeção efetuada, não foram identificados danos estruturais na embarcação”, o que permitiu “após a subida da maré, e ainda antes de se atingir a preia-mar”, a estabilização da embarcação, “tendo sido possível retirá-la em segurança”. Segundo informação já avançada na quarta-feira, foi contratado um rebocador que se deslocou até ao local, tendo iniciado as operações de reboque da embarcação da GNR pelas 22h20.
A GNR informa que será agora feita uma “avaliação do estado da embarcação” e, como já tinha avançado na quarta-feira, reitera que será instaurado um inquérito para apuramento das causas e circunstâncias da situação em apreço.
Alerta dado às 15h10 de quarta-feira
O alerta foi dado às 15h10, tal como indicado no site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, e no local chegaram a estar cinco bombeiros apoiados por três viaturas.
Na sequência de uma ação de patrulha, pelas 14h30, a lancha “encalhou na zona da praia de Carcavelos sendo nesta fase prematuro avançar com as causas da ocorrência”, esclareceu a GNR em comunicado. “Para esse efeito será instaurado o necessário inquérito para apuramento das causas e circunstâncias da situação em apreço.” A GNR esteve a realizar manobras “para garantir a retirada em segurança da embarcação daquele local” e terá aguardado pela “hora da praia-mar”.
Em declarações à RTP, Paulo Gomes Agostinho, capitão do Porto de Cascais, afirmou ao fim da tarde desconhecer os motivos que levaram a embarcação a encalhar na praia de Carcavelos. Para o local após o alerta dado às 14h50, esclarece, foram meios da Estação Salva-vidas de Cascais, bem como da Polícia Marítima. Havia sete elementos da GNR no interior da embarcação.
Também ao final da tarde as autoridades aguardavam a avaliação de um perito da autoridade marítima de maneira a identificar eventuais danos e a determinar a forma como a lancha seria removida.
As operações foram coordenadas pelo Capitão do Porto e Comandante-local da Polícia Marítima de Cascais. Durante esta ação, a GNR teve ainda o apoio da Direção Geral da Autoridade Marítima, Capitanias do Porto de Lisboa e Cascais, Bombeiros Voluntários da Parede, Instituto de Socorros a Náufragos e uma Empresa de Reboque Marítimo.
Maior embarcação de sempre da GNR para patrulhamento costeiro custou 8,5 milhões de euros
A embarcação Bojador, tal como é possível identificar pelas fotografias, corresponde à nova lancha de patrulhamento costeiro da GNR, cuja viagem inaugural aconteceu em maio. Teve um custo de 8,5 milhões de euros e trata-se da maior embarcação de sempre ao serviço da GNR, tal como chegou a explicar à Agência Lusa João Nascimento, comandante da Unidade de Controlo Costeiro.
A embarcação tem aproximadamente 35 metros e três motores que debitam 1.600 cavalos. A bordo pode receber uma tripulação de mais de 10 elementos.
A viagem inaugural da lancha Bojador, entre Alcântara e Oeiras, no passado mês de maio, contou com a presença do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que à data garantiu que a aquisição representava um “reforço decisivo do papel da GNR como guarda costeira, permitindo uma capacidade de vigilância costeira com grande autonomia, até 1.500 milhas”.
“A capacidade de operar uma lancha destas não se improvisa”
A atribuição da lancha à GNR, aprovada em Conselho de Ministros em 2018, tal como lembra o Diário de Notícias, não foi bem aceite pela Marinha, com vários antigos chefes a protestar a decisão dada a eventual “duplicação de meios” e os “custos acrescidos”. O próprio ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, chegou a sair em defesa da Marinha num artigo de opinião publicado no mesmo jornal.
José Luís Cruz Vilaça, da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN), criticou a atribuição, em maio, da lancha Bojador à GNR. Cruz Vilaça foi o autor de um documento, aprovado pela assembleia-geral da AORN, em que criticava a entrega à Guarda Nacional Republicana da embarcação com capacidade para navegar em alto mar. Contactado pelo Observador, reforça a “estranheza” da atribuição e, sem querer fazer especulações sobre o motivo pelo qual esta está encalhada na praia de Carcavelos, refere que a entrega à GNR de um equipamento de tal natureza “implica a preparação da tripulação”.
“O que disse e o que escrevi na minha moção foi, entre outras coisas, que a capacidade de operar uma lancha destas não se improvisa. A Marinha já está apetrechada para o fazer, é a sua vocação desde há 700 anos. A GNR nem é essa a sua missão atribuída pela lei em vigor”, comenta.
Cruz Vilaça considera “pouco cortês” silêncio de Cravinho sobre lancha da GNR
Em junho deste ano, Cruz Vilaça garantia ainda à Lusa que aquela “não é uma lancha de patrulhamento costeiro. É um [navio] patrulha oceânico para navegar em alto mar. O ministro [da Defesa Nacional] disse que isto visava um reforço decisivo da GNR na ‘Guarda Costeira’ mas ‘Guarda Costeira’ é uma noção que é desconhecida em Portugal”.
Notícia atualizada às 1h45 de dia 2 de setembro