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Os dois irmãos iraquianos suspeitos de pertencerem ao Daesh, detidos pela PJ em Lisboa, ficaram esta quinta-feira em prisão preventiva. Residiam em Portugal há quatro anos e estavam a ser procurados pelas autoridades iraquianas.

Além das detenções, foram feitas buscas que permitiram recolher provas sobre o papel desempenhado pelos dois suspeitos — que já eram procurados pelas autoridades do Iraque — no seio da organização terrorista.

“As provas recolhidas indiciam que estes dois indivíduos assumiram distintas posições na estrutura do ISIS/Daesh, sendo os mesmos igualmente objeto de investigação por parte das competentes Autoridades Judiciárias iraquianas”, lê-se no comunicado enviado pela PJ, a que o Observador teve acesso.

Entraram como refugiados e preparavam-se para sair do país. Irmãos terroristas viviam em Portugal há quatro anos

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Os dois suspeitos são dois irmãos que tinham entrado em Portugal em 2017, a partir da Grécia, no programa da União Europeia para a recolocação de refugiados, confirmou o Observador, depois de o Diário de Notícias ter avançado com a informação.

Os dois homens, de 32 e 34 anos de idade, já estavam a ser investigados há quatro anos pela PJ, de acordo com a agência Lusa. O Expresso acrescenta que um dois suspeitos tem cerca de 30 anos trabalhava num call center. Em 2016, estiveram em Mossul, no Iraque, um dos antigos bastiões do Daesh.

Em declarações à Rádio Observador, José Manuel Anes, especialista em criminalidade organizada e fundador do Observatório de Segurança, defende que “devemos continuar a ser solidários e [estar] de braços abertos com os migrantes e, sobretudo, os refugiados”, mas manter a “vigilância”.

Daesh. “Elementos podem sentir-se entusiasmados”

“Temos de estar confiantes na competência dos nossos serviços de informações e das nossas polícias contraterroristas. Portanto, acho que, particularmente em Portugal, a situação é melhor. Não há probabilidade zero [de atentados terroristas], mas Portugal, face a outros países da Europa, está muito melhor”, defendeu o especialista.

A operação que resultou na detenção dos dois iraquianos foi coordenada pela Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT) da PJ e pelo Ministério Público, tendo ainda existido a colaboração do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e a nível internacional das autoridades iraquianas.

Os dois suspeitos estão indiciados pelos crimes de “adesão e apoio a organização terrorista internacional, de terrorismo internacional, e contra a humanidade”. De acordo com a PJ, não há indício de que os suspeitos tenham cometido quaisquer destes crimes em território nacional.

Enquanto aguardam o primeiro interrogatório, previsto para a tarde desta quinta-feira, os dois suspeitos, que viviam na mesma casa, permanecem detidos no estabelecimento prisional anexo à PJ, em Lisboa.

Outras detenções em Portugal ligadas ao Daesh

A detenção de dois homens na região de Lisboa com alegadas ligações ao grupo extremista Daesh, anunciada esta quinta-feira pela PJ, vem juntar-se a outros casos de que resultaram já condenações na justiça portuguesa.

Em junho, o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a condenação de Rómulo Costa e Cassimo Turé a penas de prisão efetiva de nove anos e oito anos e seis meses, respetivamente, por crimes de apoio a organizações terroristas islâmicas. Tais organizações, apontava o acórdão, eram designadamente ISIL e ISIS, Brigada dos Emigrantes e depois Estado Islâmico (EI).

No ano passado, o cidadão marroquino condenado a 12 anos de prisão por recrutar em Portugal operacionais para o grupo radical Estado Islâmico, Abdesselam Tazi, morreu na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa.

Tazi, 65 anos e em prisão preventiva desde 23 de março de 2017 na cadeia de alta segurança de Monsanto, foi condenado por sete crimes: falsificação com vista ao terrorismo, recrutamento para o terrorismo, financiamento do terrorismo e quatro crimes de uso de documento falso com vista ao financiamento do terrorismo.

O arguido fez-se sempre acompanhar por Hicham El Hanafi (detido em França desde 20 de novembro de 2016 por envolvimento na preparação de um atentado terrorista), que havia radicalizado e recrutado em Marrocos, antes de ambos viajarem para a Europa.

Artigo atualizado às 23:26 do dia 2 de setembro de 2021