Os Estados Unidos da América estão preocupados com a composição do novo governo talibã, composto exclusivamente por homens integrantes do grupo extremista islâmico, com ministros que constam em listas de terroristas e que são procurados pelas autoridades norte-americanas.
“Notamos que a lista de nomes anunciada consiste exclusivamente de indivíduos que são membros dos talibãs ou dos seus associados próximos, e que não há nenhuma mulher”, afirmou o Departamento de Estado em comunicado citado pela BBC. “Estamos também preocupados com as filiações e histórico de alguns dos indivíduos”, lê-se no comunicado.
Entre os membros do novo governo talibã que geram preocupação em Washington está o ministro do Interior interino, Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, um grupo extremista afiliado aos talibãs e próximo do al-Qaeda. Sirajuddin Haqqani é procurado pelo FBI, que oferece uma recompensa de 4,2 milhões de euros pela sua captura.
As autoridades norte-americanas consideram o novo ministro do Interior do Afeganistão suspeito de um ataque a um hotel em 2008 e de ataques contra forças norte-americanas no Afeganistão. A rede Haqqani foi também responsável, entre outros, por um atentado em Cabul em 2017 que causou a morte de 150 pessoas.
O novo governo afegão terá como primeiro-ministro Muhammad Hassan Akhund , que integrou o primeiro governo dos extremistas islâmicos entre 1996 e 2001 e é alvo de sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU. Destaque, ainda, para a presença de Abdul Ghani Baradar, cofundador dos talibãs e responsável pelas negociações com os EUA no Qatar, que será vice-primeiro-ministro.
Perante este novo executivo, que parece estar em contradição com as promessas de moderação e inclusão por parte dos islamistas, os EUA dizem que vão “julgar os talibãs pelas suas ações, e não pelas suas palavras” e garantem que Washignton vai “continuar a responsabilizar os talibãs nos seus compromissos” para permitir a saída de cidadãos estrangeiros do Afeganistão. “Também reiteramos a nossa clara expectativa que os talibãs garantam que o solo afegão não é usado para ameaçar outros países”, acrescenta o Departamento de Estado.
Talibãs nomeiam Mohammad Hasan como primeiro-ministro interino do Afeganistão
Para pressionar o governo talibã, os Estados Unidos estudam com os parceiros ocidentais formas de influenciar o grupo islamista a cumprir as promessas feitas, e para esta quarta-feira está marcada uma reunião virtual, que terá como anfitriões o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, com dirigentes de 20 países ocidentais.
De acordo com o The Guardian, o objetivo da reunião é estabelecer condições para a cooperação futuro com os talibãs, e tal inclui a liberdade de movimentos para afegãos e cidadãos estrangeiros que queiram sair do Afeganistão. Outro tema em cima da mesa será a ajuda humanitária ao Afeganistão, numa altura em que o país enfrenta o colapso da sua economia, fenómeno agravado pela chegada ao poder dos talibãs.
Os islamistas, por seu turno, garantem que querem relações “fortes e saudáveis” com outros países e que vão respeitar as leis e tratados internacionais, desde que estas não entrem em conflito com “a lei islâmica e com os valores nacionais do país”.