Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), apelou aos países mais ricos e com grandes quantidades de vacinas que não administrem doses de reforço até ao final do ano.

“Há um mês apelei para uma moratória global das doses de reforço pelo menos até ao fim de setembro para permitir vacinar as pessoas de maior risco no mundo que ainda não receberam a primeira dose”, afirmou numa conferência de imprensa desta quarta-feira, partilhada no Twitter da OMS. “Agora apelo a uma extensão da moratória pelo menos até final do ano para permitir que cada país possa vacinar pelo menos 40% da sua população.”

O diretor-geral admitiu ainda que a terceira dose é necessária para grupos de maior risco, como doentes imunodeprimidos ou que não estão a produzir anticorpos, mas salientou que não há prova científica do seu benefício em pessoas saudáveis e vacinadas.

Por fim, mostrou-se “chocado” relativamente a comentários que ouviu esta quarta-feira vindos de uma “grande farmacêutica”, que afirmava que a quantidade de vacinas é elevada o suficiente para permitir tanto doses de reforço, quanto vacinas em países que enfrentam a sua escassez.

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Referia-se à Pfizer, cujo vice-presidente declarou que a eficácia desta vacina “diminui com o tempo e que o mais certo é que, dentro em breve, o resto do mundo tenha mesmo de seguir o exemplo de Israel e de imunizar a sua população com uma dose de reforço.”

Vice-presidente da Pfizer diz que dose de reforço da vacina deverá mesmo ser inevitável

“Não vou ficar calado enquanto as empresas e países que controlam o fornecimento global de vacinas acharem que os pobres do mundo devem ficar satisfeitos com as sobras”, afirmou Tedros Ghebreyesus.

“Nós não queremos mais promessas. Queremos as vacinas”; pode ler-se ainda na conta do Twitter da OMS. “Muito se fala de equidade de vacinação, mas pouco se tem feito”.

Pfizer e dose de reforço

Philip Dormitzer, vice-presidente da Pfizer, disse esta quarta-feira que a dose de reforço deverá mesmo ser inevitável, sublinhando a sua relevância no para a manutenção da eficácia da vacina — que “está estudado” que decresce com no passar do tempo.

Estas declarações foram feitas ao Financial Times e terminaram com a rejeição de todas as acusações sobre as alegadas pressões que terão sido feitas junto de decisores e governos no sentido de universalizar a terceira dose da vacina — ato que tem sido caracterizado como “imoral” por Tedros Ghebreyesus.

“O nosso trabalho é criar a ferramenta que vai ser necessária para o problema que se avizinha. Se esperássemos até existirem surtos generalizados de doenças graves para avançar com uma solução, chegaríamos demasiado tarde. Ser muito proativo e garantir que a solução está pronta a usar antes de uma crise é muito importante”, defendeu Dormitzer, completando com a ideia de que “a decisão final de implementar as soluções é sempre dos governos e não da Pfizer.

No grupo respetivo aos países que já adotaram esta medida estão os Estados Unidos da América (EUA), que começarão a administrar o reforço a partir de dia 20 a quem já tenha sido vacinado pela Pfizer, o Reino Unido, com as mesmas datas, e Israel, que já começou efetivamente o programa de reforço à vacinação.