Naquela que foi a sua primeira ação no período oficial de campanha, Carlos Moedas encheu o Teatro Trindade, em Lisboa, para se atirar ao último e derradeiro esforço de derrotar Fernando Medina. Com quase uma hora de atraso, o candidato social-democrata entrou no teatro aos gritos de uma falange empenhadíssima de jotas e ao som de “Busy Earnin‘”, dos Jungle. Letra e música que deixam pouca margem para segundas interpretações: Moedas ainda acredita que é possível derrotar Fernando Medina.
O filão, esse, está encontrado desde o minuto em que a campanha em Lisboa se tornou mais pessoal do que política, bem mais dura no tom e nos termos do que aquela que o candidato que se comprometera a fazer “política de forma diferente” tinha projetado. Moedas está no ringue e vai levar o combate até ao fim.
Prova disso mesmo foi que, depois de fazer os naturais cumprimentos da praxe, Moedas aproveitou o primeiro minuto do discurso para se agarrar (metaforicamente) aos colarinhos de Medina, o rosto-mor da “arrogância, prepotência, falta de transparência e impunidade” que governa Lisboa há quase duas décadas.
A partir daí, Moedas foi pintando o seu discurso sobre a mudança de defende para Lisboa (mais transparente, com menos impostos, transportes gratuitos para mais velhos e mais jovens, acesso à saúde para quem precisa, condições de habitação para os mais jovens), com ataques diretos ao adversário: “É um socialismo que só se ocupa dos amigos, do compadrio, um socialismo de fação.”
Sabendo que, de acordo com todas as sondagens até agora divulgadas, ainda está atrás de Fernando Medina, Moedas aproveitou ainda o seu primeiro discurso de campanha para tentar bipolarizar a corrida e apelar ao voto útil (“Se querem mudar só podem votar ‘Novos Tempos’. Somos os únicos que podem fazer essa mudança”), tentou pôr-se acima do homus politico por oposição ao adversário direto (“Sou um político diferente, que vem de uma vida diferente”) e, finalmente, tentou também vender o sonho de uma viragem do país à direita a partir de Lisboa.
“Podemos abrir aqui uma esperança para os nossos filhos. São tantos anos dos mesmo, na Câmara e no Governo, a culpabilizar o passado do passado, sem nunca terem culpa. Esta mudança começa hoje e começa em Lisboa“, atirou.
Uma mensagem repetida minutos antes por Isabel Ayuso e Adolfo Mesquita Nunes (que se juntaram em formato digital), mas também por Pedro Simas, candidato a vereador, e Isabel Galriça Neto, cabeça de lista à Assembleia Municipal de Lisboa: a direita, uma parte da direita pelo menos, sonha com uma vitória na capital para precipitar o fim de ciclo de António Costa e do PS.
“Estamos prontos ou não estamos prontos?”, perguntou por três vezes Carlos Moedas, antes de se despedir com a promessa de lutar em “cada porta, em cada bairro e em cada freguesia“.
Deixou o Teatro da Trindade som de “Heroes“, de David Bowie, engolido pelos abraços dos apoiantes e os gritos da jota de “Moedas a presidente”. Resta saber se terá o golpe de asa para derrotar Medina.