– Bom dia, esta é a Beatriz!

– Sou eu!

A dupla provoca risos a quem passa nos corredores do mercado de Benfica, esta manhã. E olhares curiosos: quem apresenta a candidata, enquanto a equipa está de dedo em riste a apontar para a sua fotografia no panfleto do Bloco de Esquerda, é um rosto que dispensa apresentações, mesmo quando está de máscara.

É sobretudo essa a mais valia que o fundador bloquista Francisco Louçã vem esta manhã trazer à campanha de Beatriz Gomes Dias. Se Beatriz é candidata pela primeira vez e, ao contrário dos rivais do PS ou do PCP não goza de anos de exposição na Câmara Municipal de Lisboa, ao lado de Louçã vai desbravando caminho e tentando construir um dos fatores mais relevantes na hora de votar: a notoriedade.

Gosto de o ver na televisão, gosto das suas explicações”, diz Margarida, na fila de uma das bancas do peixe, satisfeita por encontrar o bloquista. Depois de Louçã passar, continua: “E gosto de o ler… é esclarecedor… Ele é bom!”.

Os encontros sucedem-se.

– Ó doutor Louçã! Diga à Catarina para se portar bem! (“E tem portado!”, responde prontamente).

– Quem mora por baixo de mim é a Ana Drago! (“Está a ver, uma boa vizinha!”, comenta).

– Desculpe, agora não o reconheci à primeira! (“Nada que pedir desculpa, estou de máscara!”, explica).

– Olha quem é! Até o conheço!

Conhecem, e Louçã vai aproveitando a conversa para ir apresentando Beatriz: “Estou aqui porque acho que a Beatriz é uma grande candidata”, vai assegurando. Juntos avançam com uma pequena banda a abrir-lhes caminho (a candidata vai a dançar), espantam-se ao ver as carrinhas abertas da campanha de Fernando Medina, a fazer lembrar os autocarros de passeios turísticos, ouvem queixas sobre o preço das rendas e a pouca atenção dada ao comércio local. Passa um aparente bloquista convicto: abraço forte a Beatriz, continência ao “Chico”, como se diz na campanha do Bloco.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Foi extraordinário contar com a presença [de Louçã]”, diz, feito o passeio, a candidata aos jornalistas. “Ele influenciou imenso a minha formação política”. E, de novo, o fator notoriedade: “As pessoas reconhecem-no, é muito celebrado”, explica.

A comitiva pergunta se Louçã quer falar e ele junta-se por alguns momentos aos jornalistas. Nessa altura, já o grupo se afastou do mercado onde entretanto entrou Fernando Medina — a equipa do PS ligou à do BE, constataram que iriam estar a cobrir o mesmo terreno, à mesma hora, e lá se acertaram, acabando por não se encontrar.

Mas o PS está, ainda assim, na mira: “É muito importante que o PS não tenha maioria absoluta para não se esquecerem as políticas sociais. O Bloco quer ter um pelouro na base de um acordo que proteja essa governação”, defende Louçã. “Todos os pontos fracos na governação de Medina foram de pelouros mal geridos ou com proximidade de grandes interesses”.

Por “Lisboa ser uma disputa muito importante”, em que o BE “presta contas, e boas contas”, e demonstrou “capacidade de governar”, é que Louçã veio emprestar a sua dose de notoriedade à campanha de Beatriz. E a ajuda de um ‘pai fundador’ é bem vinda.