“Não puxem por mim que eu fico aqui a noite”. Carlos Moedas está esfuziante. Ao oitavo dia oficial de campanha, o candidato social-democrata teve uma demonstração de força nas ruas como nunca tivera nos dias anteriores. Contadas as cabeças (exercício sempre arriscado) não foram menos de 200 as pessoas que acompanharam Moedas desde a Praça Paiva Couceiro até ao Jardim da Alameda, em Lisboa. E não fez as coisas por menos: “Vamos ganhar Lisboa, vamos ganhar Lisboa”, prometeu o social-democrata
Depois de descer a Rua Morais Soares, deixando para trás mais de uma hora de passeio, Moedas chegou ao púlpito montado na Alameda levado ao colo por dois dos apoiantes que desfilaram com o social-democrata.
É verdade que a experiência durou poucos metros, não fosse a coisa correr mal, mas serviu para Moedas sentir o gostinho a campanha eleitoral: a máquina que tem andado desaparecida nos últimos dias, afinal, é mobilizável. Tal como são mobilizáveis o porco no espeto e as imperiais, que deram o ar da sua graça para fechar o dia de campanha.
Era dia de festa: há 15 anos que uma candidatura de direita não fazia aquele percurso e Moedas cumpriu o objetivo uma hora depois de Fernando Medina ter desbravado o mesmíssimo caminho, sem diferenças gritantes na capacidade de mobilização.
O mantra de Moedas, esse, nunca fica em casa. À entrada da reta final da campanha, Moedas sabe que tem de insistir nas teclas da bipolarização e do voto útil à direita para encurtar a distância para Fernando Medina. “Os lisboetas querem mudança. É essa mudança que vamos trazer a Lisboa. Se querem mudança só há um candidato que pode trazer a mudança”, insistiu o social-democrata.
Sempre muito aplaudido, Moedas encaixou a segunda parte da sua estratégia para esta campanha: fazer destas eleições um plebiscito também à governação de António Costa e pedir um cartão amarelo aos socialistas.
“É essa esperança que vamos devolver a Portugal, é essa esperança que Lisboa vai trazer, porque Lisboa é a capital deste país e é Lisboa que vai trazer esses ventos de mudança.”
A fechar, o terceiro eixo da narrativa de Moedas: tentar afirmar a natureza excecional da sua candidatura, um político feito de outra massa, por oposição aos que tudo prometem e nada fazem.
Um discurso com nuances de antissistema — Moedas diz muitas vezes que é “um político diferente dos outros”, mas que tem como alvo concreto Fernando Medina, líder dos que “não têm programa” e que não são mais do “uns vendedores de promessas falhadas”.
Teixeira da Cruz: “Moedas traz um olhar humano que já não víamos há muito tempo”
Antes, durante a arruada que fez quase sempre ao lado de Paula Teixeira da Cruz, Moedas tinha sido mais uma vez confrontado com as críticas de Marta Temido e devolveu o mimo. “Vieram todos para dizer mal de mim. Mas eu vou ganhar a Câmara Municipal de Lisboa.”
A antiga ministra da Justiça de Pedro Passos Coelho, de resto, não poupou elogios ao antigo comissário europeu. “Traz um olhar humano que já não víamos há muito tempo. Lisboa é só betão e um desordenamento completo. Carlos Moedas tem uma visão humanista”, sublinhou Teixeira da Cruz.
Embalado por um quintento de sopros e percussão, empurrado pelas estruturas de PSD e CDS — desta vez, não faltaram à chamada — e jotas empenhados, Moedas percorreu os mais de mil metros que separam a Praça Paiva Couceiro da Alameda entre muitas palavras de incentivo (“Até que enfim que há um homem em condições para a Câmara de Lisboa”), algumas buzinadelas de apoio, uns quantos acenos às janelas, uma mão cheia de bacalhaus e um ou outro beijinho — sim, eles estão de volta.
Não é que exista exatamente uma onda de entusiasmo generalizado nas ruas. A indiferença (“Panfleto? Não, obrigado”), a irritação pouco subtil com o aparato da campanha (“Deixem passar, porra”) têm sido o pão-nosso destas incursões eleitorais — e estão muito longe de ser um exclusivo da candidatura de Moedas.
A confusão de cores, siglas e rostos menos conhecidos também não ajuda. “É do PSD, é do PSD”, explica a histórica social-democrata Virgínia Estorninho à medida que a comitiva de Carlos Moedas vai varrendo umas quantas esplanadas deixando para trás panfletos sem as cores tradicionais do partido. “Do CDS? Não, ‘Novos Tempos-Carlos Moedas'”, responde o próprio quando na rua lhe perguntam que campanha era aquela.
A confusão à direita é mais um obstáculo nas contas de Moedas. “Junte-se ao Ventura“, pede-lhe um homem com quem se cruza. “Não, temos de ser moderados“, corta simpaticamente o candidato. Ainda assim, ao oitavo dia oficial de campanha, o balão de Moedas encheu a bom encher. E não falta quem lhe aponte o caminho. “Vai conseguir fazer uma surpresa nas eleições”, garante-lhe um sexagenário. “Vamos ganhar”, responde o social-democrata.
Resta saber se o efeito se prolonga pelos próximos dias. Amanhã, quarta-feira, Rui Rio junta-se ao candidato para um almoço em Lisboa e não faltará quem queira aparecer na fotografia de família. Também amanhã, quarta-feira, será conhecida mais uma sondagem da corrida na capital. Mesmo entre a comitiva que acompanha Moedas, há quem não ignore o efeito psicológico que se pode gerar a partir daí: se a diferença para o primeiro lugar for expressiva, o balão pode esvaziar de vez.