Na conferência de imprensa após o encontro na Premier League frente ao West Ham, Ole Gunnar Solskjaer virou pela primeira vez esta temporada a mira para os árbitros e para aquilo que espera que não se torne na regra. “Tivemos dois penáltis claros. Só espero que não seja uma daquelas situações em que o Cristiano nunca vai ganhar um penálti…”, comentou o técnico, a propósito de dois lances no segundo tempo em que o avançado português caiu na área dos londrinos. Antes, logo depois do apito final, a reação tinha sido bem mais espontânea e o caminho em passo acelerado para abraçar De Gea foi mais do que uma imagem.

Ronaldo foi ao Olímpico, marcou no 66.º estádio das principais ligas e voltou a ser decisivo na vitória do United (tal como De Gea)

É certo que aquela reação depois da grande penalidade de Mark Noble defendida pelo espanhol se justifica facilmente com o facto de ter segurado os três pontos nos descontos. Indo um pouco mais à frente, até pode ter acontecido porque o número 1 voltou a travar um castigo máximo cinco anos depois. Mesmo sendo isso, era mais do que isso. E aquele passo acelerado foi quase uma reação de alívio perante mais um encontro em que o Manchester United conseguiu o triunfo apenas na parte final. Tendo hoje um plantel mais profundo e melhor, o norueguês ainda falha na parte da consistência. E foi isso que se viu durante a semana.

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No reencontro com o West Ham, desta vez em Old Trafford, os red devils promoveram uma revolução com uma nova equipa em relação a domingo, tiveram várias oportunidades para furarem a resistência contrária mas acabaram por não inverter a desvantagem madrugadora (9′), sendo eliminados na Taça da Liga. Em 18 títulos disputados pelo clube, o norueguês continuava sem títulos. E o calendário dos próximos dois meses, entre Campeonato e Champions, não era propriamente o mais famoso em termos teóricos, tendo jogos com Villarreal (duas vezes), Everton, Leicester, Atalanta (duas vezes), Liverpool, Tottenham, Manchester City, Watford, Chelsea e Arsenal. Antes, havia o Aston Villa em casa. E a obrigatoriedade de vencer.

Solskjaer, we have a problem: Manchester United faz descansar Ronaldo e é eliminado da Taça da Liga

De forma inevitável, Ronaldo regressava à equipa como principal destaque. Há duas semanas, quando fez o regresso em Old Trafford, marcou dois golos. Não ficou por aí: marcou na derrota frente ao Young Boys na Suíça, marcou no triunfo com o West Ham no Olímpico de Londres (66.º estádio nas principais ligas onde deixou marca, superando os 64 de Zlatan Ibrahimovic). O capitão da Seleção é a par do sueco o único que faturou em todos os minutos de jogo, do 1 ao 90, mas destacou-se noutros campos “anormais” aos 36 anos como o sprint a 32,5 quilómetros por hora que voltou a fazer. Se a posição de Solskjaer não é nesta fase muito confortável, o facto de contar com o ex-companheiro na equipa mudava o cenário.

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“Nós sabíamos que ele teria um grande impacto dentro e fora do relvado. O Cristiano ainda é muito profissional. A disciplina que demonstrou ao longo da carreira para desfrutar de tudo já se espalhou aos companheiros de equipa. Estou encantado, ele é um homem diferente daquele com o qual joguei. Tem sido de topo ao nível do trabalho, da atitude nos jogos, da comunicação… Ele sabe que não fará todos os jogos, mas será uma boa conversa para termos quando ele não estiver preparado”, voltou a elogiar o treinador norueguês na antecâmara do regresso do português à equipa (para ficar, como se percebe pelo complicado calendário supracitado que não deixa grande margem de manobra para poupanças).

No entanto, este acabou por ser o jogo menos conseguido de Ronaldo na equipa e da equipa com Ronaldo. Sobretudo na primeira parte o Manchester United teve oportunidades para inaugurar o marcador (tal como o Aston Villa, que nunca se coibiu de esticar jogo quando era possível) mas a exibição voltou a estar uns furos abaixo do esperado. Em termos coletivos, a utilização de quatro médios dá outra segurança nas transições defensivas – e Varane melhorou o centro da defesa – mas, quando se olha para a forma de atacar de forma organizada, há muito por fazer. A dúvida, essa, é se será Solskjaer a resolver esse problema…

Com a mesma equipa que defrontou o West Ham no domingo, o Manchester United assumiu desde início o jogo com Bruno Fernandes a agarrar na batuta do jogo ofensivo mas a organização defensiva do Aston Villa foi conseguindo manter a baliza em branco, sendo que nos 35 minutos iniciais, altura em que Diogo Dalot entrou para o lugar do lesionado Luke Shaw, apenas um dos 11 remates tentados tinha sido enquadrado com a baliza de Emiliano Martínez. Os red devils não marcavam e arriscaram-se até a sofrer, num erro da defesa visitada que De Gea conseguiu anular. O nulo acabou por chegar de forma quase natural em Old Trafford apesar de duas grandes oportunidades de Maguire e Pogba após bolas paradas, com Solskjaer a ter de inverter algo para ter outro poder de fogo em zonas de finalização que superasse os villains.

Ronaldo teve uma tentativa de fora da área que saiu ao lado e pouco mais no plano ofensivo, sendo que o início da segunda parte não trouxe grandes melhorias nesse aspeto sendo mesmo o Aston Villa a conseguir aproximações com mais perigo no último terço entre nova baixa por lesão no United de Maguire (também num aparente problema muscular). E Greenwood também não ajudava, com uma série de lances seguidos em que tinha opções de passe e foi insistindo nos remates sem sucesso antes da entrada em campo do regressado Edison Cavani para alargar a frente de ataque e permitir outros movimentos a Ronaldo mas foi o Aston Villa a marcar a dois minutos dos 90′ num canto desviado por Kortney Hause ao primeiro poste que provocou mais um balde de água gelada em Old Trafford e na “sobrevivência” de Solskjaer antes de Bruno Fernandes assumir a marcação de um penálti para atirar um míssil por cima da trave (90+2′).