O grupo de direitos humanos russo Gulagu Net divulgou esta terça e quarta-feiras vários vídeos que documentam e denunciam tortura sistémica e abuso sexual em várias prisões da Rússia, o que terá já desencadeado uma investigação oficial. As filmagens mostram vários reclusos do sexo masculino a serem brutalmente agredidos enquanto são filmados.

O grupo refere-se ao denunciante como “o nosso Edward Snowden” que ajudou a divulgar um “arquivo de vídeo secreto” de cerca de 40 gigabytes. Na origem da divulgação está um cidadão bielorrusso que cumpriu pena numa prisão em Saratov, segundo a BBC, e também enfrentou abusos antes de ser coagido a cooperar com os funcionários prisionais, que foi a forma como teve acesso aos arquivos de vídeo. O bielorrusso era programador e conseguiu obter as imagens e vídeos armazenados nos computadores prisionais que foram filmados em várias prisões nas regiões de Irkutsk, Vladimir e Saratov entre 2018 e 2020, relata o Moscow Times. 

Os relatos de tortura nas prisões russas não são uma novidade mas nunca tinham sido divulgados vídeos como estes. Alegadamente filmados por guardas prisionais, eram depois utilizados para chantagear os reclusos. Estes vídeos mostram momentos de violência extrema com recurso a objetos como vassouras usados para violar homens nus amarrados às camas da prisão ou deitados no chão.

O líder da Gulagu Net, Vladimir Osechkin, afirmou que os vídeos eram “prova de que os prisioneiros foram sujeitos a crimes violentos graves e extremamente graves, e que foram cuidadosamente ocultados e que até agora não levaram a qualquer acusação contra um único sádico ou funcionário da prisão”, cita o Telegraph. Osechkin alega que 200 reclusos foram torturados e violados nas prisões russas, tendo 40 sido retratados neste arquivo de vídeos, que deverá ter mais material divulgado nos próximos dias.

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“Esta cadeia de tortura foi criada pelo Sistema Penitenciário Federal Russo e os generais do Serviço de Segurança Federal, e foi utilizada para suprimir a vontade dos condenados”, revelou ainda, adiantando que os vídeos que tinham em sua posse já teriam sido partilhados com as autoridades russas, com o Conselho da Europa e as Nações Unidas.

“Se isto se confirmar, vai levar a uma investigação muito séria”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em declarações à imprensa. O Comité de Investigação da Rússia, que se ocupa de crimes de grande visibilidade, já lançou uma investigação sobre violência sexual, tendo também o Serviço Penitenciário Federal da Rússia enviado forças de intervenção a Saratov, onde três dos vídeos foram filmados.

Segundo a agência Interfax, citada pela BBC, o diretor do estabelecimento prisional de Saratov terá apresentado a sua carta de demissão depois da divulgação dos vídeos por parte da Gulagu Net.