“Um dos maiores falhanços de saúde pública” da História do Reino Unido, que pode ter custado “centenas de vidas”. Esta é a principal conclusão do relatório de um inquérito parlamentar à resposta inicial do país à pandemia de Covid-19, que critica fortemente o executivo de Boris Johnson por ter demorado a tomar a decisão de impor um confinamento.

No relatório pode ler-se que “as decisões sobre confinamento e distanciamento social durante as primeiras semanas da pandemia — e o aconselhamento que levou a essas decisões — são um dos maiores falhanços de saúde pública que o Reino Unido já viveu”. Os deputados da Câmara dos Comuns concluem ainda que o atraso na decisão de confinar pode ter custado “centenas de vidas”. O relatório surge depois de um inquérito de meses que ouviu mais de 50 testemunhas.

O documento aponta críticas à decisão inicial de seguir a estratégia de “imunidade de grupo” (que acabou por ser mantida apenas pela Suécia), classificando a decisão de atrasar o confinamento — apenas decretado a 23 de março de 2020 — como “um erro muito grave” e apontando o dedo às autoridades de saúde:

Esta atitude lenta e gradual não foi negligente nem refletiu atrasos burocráticos ou falta de acordo entre ministros e os conselheiros. Foi uma política deliberada, proposta por conselheiros científicos e adotada pelos governos de todas as nações do Reino Unido”.

“Sabemos que algum do aconselhamento científico estava errado, mas os políticos deviam ter desafiado esses conselhos”, afirmou o deputado que preside à comissão de saúde, Jeremy Hunt, à Sky News. “Não se pode dizer apenas ‘estamos a seguir a ciência’ — é preciso escavar e perguntar aos cientistas por que estão a dizer o que estão a dizer. E isso devia ter acontecido mais cedo”.

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O governo britânico já reagiu ao relatório. O ministro da presidência do Conselho de Ministros, Stephen Barclay, assegurou que o executivo irá ter em conta o relatório: “Se há lições a tirar, estamos inclinados a fazê-lo.”

Contudo, Barclay defendeu as decisões tomadas pelo governo de Boris Johnson no início da pandemia: “Seguimos o aconselhamento científico, conseguimos avançar com a vacinação extremamente rápido, protegemos o nosso NHS de um aumento de casos”, afirmou, no programa matinal da Sky News.

Questionado pela jornalista Kay Burley se não deveria haver lugar a um pedido de desculpas, Barclay respondeu que não. “Tomámos decisões com base na evidência que tínhamos”, afirmou.