A família do líder do grupo dissidente da Renamo morto na segunda-feira pelas forças governamentais manifestou esta quinta-feira o receio de participar nas exéquias fúnebres do guerrilheiro.

“Toda a família dele tem medo, incluindo os filhos, e ninguém vai poder participar“, disse Jorge Nhongo, irmão mais novo do defunto, à comunicação social na cidade da Beira, por telemóvel, a partir de um ponto incerto do centro de Moçambique.

Segundo o irmão do líder dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), apontado como responsável por ataques armados no centro de Moçambique desde agosto de 2019, a família teme perseguições ou mesmo detenções.

Nós não podemos vir aí. Todos nós estamos com medo de ser capturados ou até mortos”, frisou Jorge Nhongo.

Também Calisto Mariano Nhongo, um dos filhos do líder da autoproclamada Junta Militar da Renamo, manifestou o seu receio, alegando, sem muitos detalhes, que já escapou a uma emboscada na região de Chirassicua, no distrito de Nhamatanda, na presença dos seus irmãos que agora também estão em parte incerta.

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“Não posso dizer onde eu estou porque também tenho medo de ser perseguido”, declarou o filho de Nhongo.

Mariano Nhongo foi abatido na segunda-feira numa mata do distrito de Cheringoma, província de Sofala, centro do país, durante uma troca de tiros com uma patrulha da polícia moçambicana.

Fonte das Forças de Defesa e Segurança em Sofala confirmou à Lusa que o corpo de Mariano Nhongo não foi ainda reclamado.

No dia em que foi anunciada a morte de Nhongo, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, disse que o corpo do guerrilheiro seria entregue à sua família.

Mariano Nhongo dirigia a autoproclamada Junta Militar da Renamo, dissidência do partido, responsável por ataques armados no centro de Moçambique desde agosto de 2019.

O grupo de antigos guerrilheiros que era liderado por Nhongo tem contestado a liderança da Renamo e os termos do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), decorrentes do acordo de paz de agosto de 2019.

A autoproclamada Junta Militar da Renamo tem protagonizado desde então ataques armados no centro de Moçambique que já provocaram a morte de 30 pessoas.

Durante as celebrações do Dia da Paz em Moçambique, há uma semana, o Presidente moçambicano prometeu-lhe a integração no processo de DDR, numa altura em que as forças governamentais reforçavam as suas operações no centro de Moçambique, mas não houve resposta.

No âmbito do DDR, um total de 2.307 ex-combatentes da Renamo já regressaram a casa, de uma meta de cerca de cinco mil antigos guerrilheiros.