O ministro da Defesa defendeu esta terça-feira que Portugal deve “fazer o melhor uso possível” das suas “boas relações” com “todas as nações do Atlântico” para “fomentar o diálogo e a cooperação”.
Discursando no terceiro seminário organizado pelo Centro do Atlântico desde a sua fundação, em 2019, e que decorreu esta segunda-feira no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa, João Gomes Cravinho indicou que o centro é um “compromisso do Governo” para “liderar o desenvolvimento de uma plataforma multilateral de diálogo e cooperação entre todas as nações atlânticas”.
É um desafio ambicioso, mas oportuno. Nunca foi feito antes, mas os tempos que vivemos obrigam-nos a juntarmo-nos”, indicou.
Segundo o ministro da Defesa, o contexto internacional “continua a mudar rapidamente e dramaticamente”, sendo necessário que os países “se adaptem e utilizem da melhor maneira possível as ferramentas que garantem relações pacíficas”, contribuindo “para a paz e segurança global”.
Entre os “vastos desafios” identificados no Atlântico, Gomes Cravinho destacou o “combate a atividades criminais e ilegais que minam a segurança e o bem-estar das populações”, os “potenciais impactos negativos da crescente rivalidade geopolítica” para o Atlântico e a “gestão dos impactos humanos das alterações climáticas”.
“É por isso de um interesse vital afirmar a centralidade e o papel único do Atlântico na economia global, nas relações internacionais, na luta contra as alterações climáticas e como uma região de relações pacíficas e de cooperação”, apontou.
Reconhecendo que o “trabalho conjunto” e o desenvolvimento de “projetos comuns que respondam às necessidades de todos os envolvidos irá levar tempo e será desafiante”, Gomes Cravinho acrescentou, no entanto, que, ao desenvolver o Centro do Atlântico, o Governo apostou no “longo prazo”, prevendo que o centro dure “várias décadas”.
É nossa responsabilidade utilizar da melhor maneira possível as relações boas, de longa data, que Portugal tem com todas as nações do Atlântico para promover o diálogo e a cooperação”, indicou Gomes Cravinho.
Em declarações à Lusa após a intervenção, Gomes Cravinho salientou o Centro do Atlântico visa utilizar a “capacidade de diálogo portuguesa com todos os países do Atlântico”, passando por três planos.
Além de um plano político — que visa criar diálogos entre os Governos sobre a governança do Atlântico — , o Centro do Atlântico visa também promover uma colaboração nos planos das instituições de investigação, para “que haja partilha de conhecimento e troca de ideias no plano Atlântico sobre o Atlântico”.
O ministro da Defesa destacou ainda um terceiro plano que passa pela “capacitação e criação de capacidades, por exemplo, na costa ocidental africana, para lidar com os problemas do mar nessa região”.
Relembrando que os “grandes temas do Atlântico” não “respeitam fronteiras, não ficam quietinhos cada um no seu setor”, Gomes Cravinho salientou que, quando ouve parceiros atlânticos a falarem sobre os problemas da região, nota uma diferença significativa relativamente ao que ouve quando participa em reuniões com os seus homólogos da União Europeia (UE).
“Não é que seja contraditória, é que há manifestamente uma falta de diálogo e de entendimento de parte a parte”, indicou, afirmando que isso é uma “ilustração clara” da “necessidade” do Centro do Atlântico.
Apesar disso, Gomes Cravinho considerou que, junto dos parceiros europeus, começa a haver uma maior sensibilidade no que se refere à importância da segurança marítima nas prioridades de defesa da UE, indicando que, mesmo os países europeus que não têm costa, se tornaram sensíveis ao tema porque “as suas importações e exportações muitas vezes são transportadas por mar”.
“Naturalmente que há alguns países, como Portugal, muito mais vocacionados para o mar do que outros, mas eu penso que, na versão final da Bússola Estratégica [documento estratégico de defesa da UE, que se prevê que esteja pronto em março de 2022], se dará uma relevância bastante significativa à segurança marítima”, indicou.
Lançado em 2019, o Centro do Atlântico está já sediado na ilha da Terceira, nos Açores, depois de ter operado esteve no Instituto da Defesa Nacional, em Lisboa.
Finda a fase conceptual, que visou estabelecer o que será o Centro do Atlântico, o ministro da Defesa afirmou que se pretende agora que o centro comece a “lançar atividades com muito maior intensidade”.