Francisco Rodrigues dos Santos não tem dúvidas: com ou sem Orçamento do Estado aprovado na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa deve perceber “se este Governo tem ou não condições de governabilidade” e agir em conformidade. Para o líder do CDS, restam poucas dúvidas: “Parece-me evidente que este não é o caminho de decadência, miséria e empobrecimento de que os portugueses precisam”.
Foi esta uma das notas de destaque de um discurso de mais de uma hora que marcou o encerramento da Escola de Quadros da JP e do CDS, em Portimão. Com um partido em vésperas de eleições internas e em convulsão interna, Francisco Rodrigues dos Santos não deixou de responder às críticas de Nuno Melo, sem nunca nomear o seu adversário direto.
Ato um: tentar colar o eurodeputado a uma ala do partido que “se julga dona do partido”. “Não queremos o grupo do antigamente novamente à frente para se repetirem os equívocos do passado. Ninguém tem lugares cativos, muito menos um grupo que se acha dono do CDS. A política faz-se a cores, não se faz a preto e branco. O partido não tem de estar refém de um grupo ao longo de décadas”, atirou o líder do CDS.
Ato dois: acusar os críticos internos, com Nuno Melo à cabeça, de estarem a fazer uma leitura enviesada dos resultados conseguidos nas eleições regionais, presidenciais autárquicas movidos única e exclusivamente por agendas pessoais de poder. “Venham dizer onde é que o CDS está pior do que estava há dois anos . Quem o diz, quem o afirma, não gosta do CDS, não está no CDS de alma e coração.”
Ato três: recordar que a estratégia de Nuno Melo — eleger os partidos à direita do CDS, incluindo o PSD, como adversários políticos do partido — já conduziu a resultados desastrosos. “Os deslumbrados”, disse Rodrigues dos Santos, “que diziam que o CDS ia eleger o primeiro-ministro”, continuam a vender as “mesmas quimeras”. “Vão conduzir o partido à irrelevância política”, sentenciou o líder democrata-cristão
Ato quatro e último: tentar desmontar a tese, defendida por Melo, de que, para se afirmar, o partido tem também de responder aos ataques de que é alvo por parte do Chega e de André Ventura. Nas mais recentes intervenções públicas, Nuno Melo tem dito e repetido que um líder do CDS que “se dê ao respeito” e faça respeitar o CDS, não pode deixar de responder quando Ventura fala no “Chiquinho” ou no “menino” — uma forma pouco subtil de Melo sugerir que Rodrigues dos Santos não tem estofo político para enfrentar Ventura.
Ora, Rodrigues dos Santos discorda: quanto “menos importância” se der a Ventura, menos relevância terá o Chega. “O CDS só tem de ser o CDS. Não precisa de olhar para o lado. Nunca estive preocupado a responder a provocações. Se os ignorarmos estamos a votá-los ao desprezo.”
A resposta, continuou Rodrigues dos Santos, dá-se com ideias próprias e uma mensagem clara. À direita que defende a pena de morte, o CDS deve colocar-se “sempre ao lado da vida”. “À direita fundada na javardice e de arruaceiros”, o CDS deve responder com a “direita decente”. À direita que ataca as minorias, o CDS deve responder com uma direita que “não olha a raças ou religiões”. À direita que se alia ao Vox, um partido que fantasia com a anexação de Portugal por Espanha, o CDS deve afirmar-se como “soberanista”, enumerou o líder do CDS.
Iniciativa Liberal, a direita “moderninha” que vota ao lado do Bloco de Esquerda, e o PAN, “animalistas” que defendem experimentações sociais, também não ficaram sem resposta. Por oposição, Rodrigues dos Santos quer afirmar o CDS como a “direita do país real e dos bons costumes”, “amantes da ruralidade, da caça, da tauromaquia e das tradições”.
Com eleições agendadas para 27 de novembro, Rodrigues dos Santos sabe o que vai propor como caminho: o regresso do “partido das gerações”, dos “contribuintes”, da “família” e dos mais “jovens”. Resta saber o que decidirão os militantes.