O poeta Otildo Justino Guido é o primeiro escritor moçambicano a realizar uma residência literária em Óbidos, no âmbito do prémio Fernando Leite Couto, apresentado este domingo no Folio — Festival Literário Internacional.

Autor de “O Osso da água”, vencedor da edição 2019 do Prémio Literário Fernando Leite Couto, vai ficar em Óbidos, até 14 de novembro, inaugurando a primeira das residências literárias que vão acontecer anualmente ao abrigo da parceria entre o município e a Fundação Fernando Leite Couto, pai do escritor Mia Couto.

O prémio, que trouxe Otildo Justino a Óbidos, já lhe valeu a primeira saída de Moçambique, a primeira viagem de avião e, sobretudo, a possibilidade de criar na sua terra natal, Inhambane, um centro cultural.

Quando se soube na terra que Otildo tinha sido o vencedor, “a comunidade e a família” esperavam que esse dinheiro pudesse ser usado para comprar algumas coisas, decidiu “que queria fazer uma coisa grande, de que toda a gente pudesse sentir-se dono, um lugar onde as pessoas pudessem ter acesso ao livro”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A vontade cumpriu-se e Inhambane já conta com um centro cultural onde “pessoas de 50 anos, que nunca tinham visto um livro, podem sentar-se a ler”, contou hoje no Folio, durante a apresentação do prémio, numa sessão que contou com a presença do escritor Mia Couto.

Perante esta atitude, “foi o Otildo que nos deu um prémio”, afirmou o escritor, sem esconder o orgulho de ver replicada pelo poeta a ação do pai, que ao longo da vida “ajudava jovens escritores a publicar os seus livros”.

Foi essa a inspiração dos filhos de Fernando Leite Couto para, depois da sua morte, darem forma à fundação com o seu nome, sediada em Maputo, que promove o prémio que tem como objetivo estimular a produção de obras literárias, em língua portuguesa.

Em Maputo, a fundação publica anualmente um escritor já consagrado, ou promove exposições de artistas já conhecidos e, com as receitas, edita depois um jovem escritor.

A Fundação conta também como parceiro a Câmara de Comércio Portugal Moçambique a quem cabe a impressão da obra vencedora, do prémio que, a partir deste ano, trará todos os anos ao Folio o vencedor das próximas edições.

O vencedor do prémio participa numa residência literária nesta vila, durante a qual irá desenvolver e aumentar a sua produção literária, mas vai também integrar atividades educativas e culturais, de âmbito local, especificamente a apresentação do seu trabalho nas escolas de Óbidos, e a criação de projetos com associações locais e público em geral.

O prémio foi lançado no último dia do Folio, que termina este domingo depois de 11 dias de literatura e folia, com 175 autores e escritores a participarem na edição que tem como tema “O outro”.

O festival marca o regresso dos eventos presenciais em Óbidos com a realização de mais de 160 atividades previstas no programa que integra 16 mesas de autor e debates no Folio Autores, 35 iniciativas no Folio Educa, 75 eventos do Folio Mais, Banda Desenhada e Folio Ilustra, 23 concertos e 12 exposições.