Os condutores das carrinhas de transporte de passageiros (“hiaces”) na ilha de Santiago, em Cabo Verde, aumentaram unilateralmente os preços das viagens, em valores que podem chegar a mais 25%, justificando com a subida generalizada do custo dos combustíveis.

Tudo está a subir de preço, menos as passagens de carro”, começou por desabafar à agência Lusa Zé Augusto, condutor há sete anos de uma “hiace”, viaturas de transporte público intermunicipal, no percurso Praia – Assomada – Praia, (de aproximadamente 40 quilómetros), cuja tarifa que antes era 250 escudos (2,26 euros), está agora a 300 escudos (2,72 euros), um aumento de 20%.

Desde segunda-feira que o preço do litro de gasóleo aumentou quase 9% em Cabo Verde, conforme novos valores máximos dos combustíveis definidos pela agência reguladora do setor, que acumulam uma subida global de 60% num ano.

Segundo este condutor de “hiace”, os profissionais começaram a receber 300 escudos desde segunda-feira, mesmo após a agência reguladora desaprovar novos preços das viagens interurbanos de passageiros.

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“Uns passageiros estão a reclamar, outros nem por isso, entendem que tudo está a aumentar de preço”, prosseguiu Zé Augusto, garantindo que se os clientes reclamarem, cobram 250 escudos.

Em outubro, o Sindicato Nacional de Condutores Profissionais (Sincop) propôs esta subida de preço, mas a Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) disse que este não tem competência para fixar novos preços de viagens.

A ARME informou na altura que o atual quadro legal precisa ser ainda revisto e que já enviou ao Governo uma proposta de revisão da lei, esperando que seja aprovado em breve para concluir o regulamento tarifário e fixar assim os preços desses serviços de transporte.

Até lá, o administrador da ARME, João Gomes, disse que o passageiro não deve pagar “porque quem fixa os preços das viagens é a agência reguladora, não um motorista a seu bel-prazer”.

O percurso Praia – Calheta de São Miguel – Praia também aumentou de 250 para 300 escudos, valor que Dulce Dias pagou, após descer na Fazenda, cidade da Praia, para a viagem semanal de negócios.

“Está um bocado caro, mas os condutores não têm culpa”, afirmou a passageira, que entende a situação, mas esperando alguma moderação, já que, além dos combustíveis, vários produtos de primeira necessidade estão a aumentar de preços em Cabo Verde.

Para esta passageira, a situação está a ficar “complicada” para toda a gente, lembrando que já chegou a pagar 200 escudos (1,8 euros) no mesmo percurso, de 40 quilómetros.

Quem viaja agora no trajeto Praia – Santa Cruz – Praia Cruz (de aproximadamente 23 quilómetros) também viu o preço aumentar, de 170 escudos (1,54 euros) para 200 escudos, um aumento de 17%, decisão tomada unilateralmente pelos condutores.

Nesta linha, há uma deliberação da ARME, de 2019, que fixa uma tarifa provisória de 170 escudos, tomada após consenso com os representantes dos motoristas de Santa Cruz, informou anteriormente à Lusa o administrador da agência reguladora.

Aumentamos o preço porque todos os combustíveis também estão a aumentar“, disse o condutor Ady Lopes, adiantando que muitas pessoas estão e pagam sem problema, enquanto as que reclamam são-lhes cobrado o preço anterior, ou seja, 170 escudos.

Há cerca de 10 anos a fazer o percurso Praia – Santa Cruz – Praia de “hiace”, este condutor recordou que a tarifa já esteve, por exemplo, em 120 escudos (1,08 euros), subindo depois para 150 escudos (1,36 euros).

O condutor disse esperar que as coisas melhorem, com preços em conta, para que toda a gente possa viajar, e mais vezes. “Porque quando tudo está caro, as pessoas não vão viajar”, teme.

Outro percurso que já aumentou de preço é Praia – Cidade Velha – Praia, de aproximadamente 12 quilómetros, que antes era de 80 escudos (0,70 cêntimos do euro) e agora é 100 escudos (0,90 cêntimos), uma subida de 25%.

Contactado pela Lusa, o presidente do Sincop, Domingos Tavares, disse que a situação está a ficar complicada, já que os passageiros estão a aceitar sem grandes problemas, enquanto a Polícia Nacional está a avisar as pessoas para não pagar os novos preços.

“Em vez de ordem, a polícia está a criar desordem”, criticou o sindicalista, informando que já enviou uma nota à ARME a pedir atualização das tarifas, mas ainda não obteve resposta.

Se as coisas não se alterarem até segunda-feira, Domingos Tavares garantiu que os condutores e proprietários de “hiaces” vão partir para uma manifestação pelas ruas da ilha de Santiago.

Na quinta-feira, a ARME vai realizar uma formação para jornalistas sobre a fixação/atualização dos preços de bens/serviços dos setores regulados, entre eles os combustíveis e transportes, bem como água e saneamento e eletricidade.