A Câmara Municipal de Cascais assinou hoje um protocolo com as empresas portuguesas Floating Particle e IPIAC para instalar em breve um “sistema capaz de transformar 50 toneladas de lixo doméstico em 5 toneladas de hidrogénio por ano”.
A ideia é, de uma assentada, contribuir para a resolver em parte a gestão dos resíduos domésticos recolhidos pela autarquia e, por outro lado, aproveitar o lixo que deixa de ser depositado em aterros sanitários (suprimindo custos, inclusivamente de transporte, e poupando espaço no aterro) para produzir o hidrogénio que locomove os dois autocarros eléctricos com célula de combustível (fuel cell) que circulam nos eixos mais turísticos do concelho.
A transformação do lixo em hidrogénio vai fazer-se com um pequeno reactor, chamado Stella, que tem a vantagem de ser auto-suficiente em termos energéticos. A energia eléctrica é proveniente de fontes renováveis, bastando-lhe ser “alimentado” com lixo, ar e água para gaseificar os resíduos, que são sujeitos a cerca de 5500 kelvin. E a “magia” acontece, isto é, obtém-se hidrogénio. Tudo isto sem libertar, no processo, qualquer gás poluente para a atmosfera. “O nosso conceito é pegar em resíduos diferenciados e transformá-los numa reacção de gaseificação com tecnologia plasma”, explicou Diogo Soares, da Floating Particle.
De acordo com a autarquia, o reactor é do tamanho de um contentor com cerca de três metros(de 10 pés), tendo uma capacidade de conversão de resíduos de 250 kg/dia e uma capacidade de produção de hidrogénio de 24 kg/dia. A pureza neste caso é determinante, atendendo a que as células de combustível da Toyota (iguais à do Mirai) só admitem uma pureza próxima de 100%, para não danificar a membrana (que só permite a passagem de protões para gerar energia, pela operação inversa da electrólise da água), daí que o equipamento a funcionar em Cascais garanta uma pureza de 99,995%. Outro dado relevante é que, segundo as estatísticas da Pordata referentes a 2019, foram recolhidos em Portugal 513 kg de lixo por habitante/ano. Ora, “com recurso ao Stella, seria possível percorrer 513 km por ano (a distância entre Cascais e Bragança, por exemplo), por habitante, por ano sem emissões poluentes”, refere a autarquia.
Em Cascais já circulam os primeiros autocarros a hidrogénio do país
Cascais deu o exemplo do que pode ser a mobilidade mais sustentável aplicada a autocarros que circulam em zonas turísticas quando, no final de Maio, anunciou a entrada em operação de dois autocarros eléctricos movidos com a energia gerada a bordo com recurso a uma célula de combustível a hidrogénio. Autocarros “portugueses”, produzidos pela Caetano Bus em Vila Nova de Gaia e exportados para várias partes do mundo onde há uma rede de abastecimento de hidrogénio que viabiliza esta alternativa de mobilidade eléctrica, que tem a vantagem de não ter de carregar o tremendo peso das baterias e de reabastecer de forma muito mais rápida (3 a 5 minutos para veículos ligeiros, ou 10 minutos, o mais tardar, para pesados).
Na altura, conforme aqui relatámos, colocava-se o problema de não existir em Portugal qualquer ponto onde fosse possível abastecer de hidrogénio. Em declarações ao Observador, a autarquia fez saber que a evolução do projecto passaria por criar um posto de abastecimento público, a construir na Abuxarda, com um custo próximo dos 4,5 milhões de euros.
4,5 milhões para abastecer de hidrogénio em Cascais? E é barato
Entretanto, enquanto não existe essa infra-estrutura física, entrou em cena a PFR Hydrogen Solutions, outra empresa portuguesa que assegurou o primeiro posto móvel para abastecimento de hidrogénio em Portugal. Para já, servindo especificamente os dois Caetano H2.City Gold que a Cascais Próxima (a empresa de mobilidade municipal) tem em circulação.