Yacine Mihoub, de 32 anos, foi considerado culpado do assassinato da judia Mireille Knoll que tinha 85 anos quando, em Março de 2018, foi violentamente esfaqueada até à morte e queimada no seu apartamento em Paris, e condenado a prisão perpétua. O outro arguido e cúmplice foi condenado a 15 anos de prisão.

Foi apenas esta quarta-feira à noite que o tribunal determinou a pena para os dois arguidos no caso do assassinato de Mireille Knoll, que sofria de Parkinson, tendo o procurador de justiça Jean-Christophe Muller apontado Yacine Mihoub como “único perpetrador” do assassinato “particularmente selvagem” da octogenária. Mihoub foi assim considerado culpado com “as circunstâncias agravantes de que sabia que a vítima era vulnerável e devido à sua pertença à religião judaica”, cita o Le Monde.

Mulher de 85 anos morta em Paris. Crime teve motivações “anti-semitas”

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Alex Carrimbacus, o outro arguido no caso, acabou a ser absolvido do homicídio, mas foi considerado culpado por “roubo agravado” e condenado a 15 anos de prisão — menos três do que aqueles que tinham sido pedidos inicialmente pelo procurador. Também a mãe de Mihoub,  Zoulikha Khellaf acabou por ser considerada culpada de “destruição de provas” e condenada a três anos de prisão, dois dos quais suspensos.

Segundo o jornal francês, ao longo de duas semanas e meia de julgamento, não surgiram provas tangíveis, materiais ou confissões orais capazes de provar completamente o autor das 11 facadas dadas a Knoll, tendo ambos os arguidos se acusado um ao outro.

Mihoub, que era filho de um dos vizinhos de Mireille Knoll, negou qualquer mão na sua morte, culpando o outro arguido, Alex Carrimbacus em vez disso. “Não temos provas. Penso que não foi Mihoub quem matou, mas o seu co-réu Carrimbacus”, disse o advogado do acusado citado pelo Le Monde. A defesa referiu ainda que Carrimbacus estava mentalmente fragilizado e que já tinha estado 25 vezes internado num hospital psiquiátrico e que já tinha sido implicado outras tantas em casos de violência.

Na declaração final ao tribunal na quarta-feira, Alex Carrimbacus disse à família de Knoll que lamentava não ter impedido o ataque, afirmando que Mihoub terá gritado “Allahu Akbar” enquanto a esfaqueava. Os procuradores referiram também que encontraram mensagens na cela de Mihoub que glorificavam os ataques jihadistas, que serviu de prova do seu alegado antisemitismo.

A família de Knoll disse que o veredito do tribunal foi “justo”. Na altura, o filho de Mireille Knoll, disse ao tribunal que quando a sua mãe deixou Mihoub entrar em sua casa “ela nunca esperou que a pessoa que tinha protegido durante anos se tornasse o seu carrasco”, cita o Guardian.

Mireille Knoll conseguiu escapar à rusga de Vel d’Hiv, a maior detenção em massa de judeus durante a ocupação nazi de Paris, em julho de 1942. Graças ao passaporte brasileiro da mãe, as duas conseguiram fugir e evitar a ida para um campo de concentração. Foi refugiada em Portugal e regressou a França depois do fim da Segunda Guerra Mundial, tendo acabado por casar com um sobrevivente de Auschwitz, que viria a morrer no ano 2000.