Mireille Knoll, de 85 anos, foi encontrada morta no seu apartamento na passada sexta-feira, na sequência de um incêndio na habitação. Três dias depois, o Ministério Público de Paris abriu um inquérito por “homicídio com base na pertença verdadeira ou suposta da vítima a uma religião” — e esta terça-feira, uma fonte judicial confirmou à Agência France-Press que em causa está o “caráter anti-semita” do crime.

Mireille, que se encontrava acamada, foi encontrada pelos bombeiros na sequência do incêndio para o qual foram alertados no apartamento da octogenária em Paris. Se inicialmente a morte parecia estar relacionada com o fogo, a autópsia acabaria por contar outra versão: de acordo com o Libération, o exame revelou que Mireille tinha sido esfaqueada previamente, o que levou a polícia a alterar o rumo da investigação.

No sábado, as autoridades francesas detiveram um homem de 29 anos. O suspeito em causa saiu da prisão no ano passado, onde tinha estado a cumprir pena por agressão sexual a uma criança de 12 anos, que, de acordo com o Le Parisien, era filha da enfermeira que cuidava de Mireille. Foi o filho da vítima que alertou a polícia para o facto de este jovem ser presença assídua em casa da sua mãe. No dia seguinte, outro homem seria detido: um sem-abrigo de 22 anos, suspeito de ter sido cúmplice do crime. Os suspeitos, indiciados não só por homicídio mas também por roubo e vandalismo, ficaram em prisão preventiva, de acordo com o Le Monde.

Mireille Knoll conseguiu escapar à rusga de Vel d’Hiv, a maior detenção em massa de judeus durante a ocupação nazi de Paris, em julho de 1942. Graças ao passaporte brasileiro da mãe, as duas conseguiram fugir e evitar a ida para um campo de concentração, segundo revelou o seu filho à AFP. Foi refugiada em Portugal e regressou a França depois do fim da Segunda Guerra Mundial, tendo acabado por casar com um sobrevivente de Auschwitz, que viria a morrer no ano 2000.

O Conselho Representativo das Instituições Judaicas em França já anunciou a organização de uma “marcha branca” em homenagem a Mireille para esta quarta-feira. Nela vão participar várias organização como a Liga Internacional Contra o Racismo e o Anti-Semitismo e o SOS Racismo.

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