O gatilho daquilo que não era sequer uma história mas que passou num ápice a caso surgiu depois da infeção com Covid-19 de Julian Nagelsmann, técnico do Bayern que ficou de fora do jogo da Liga dos Campeões na Luz frente ao Benfica após apresentar sintomas na véspera do encontro que posteriormente confirmaram esse cenário. A partir daí, e como é normal nas equipas de futebol ou de qualquer outro desporto, houve esse receio de surto em mais elementos do grupo de trabalho – algo que não se confirmou, entre um apertar do controlo através de uma maior testagem. No entanto, uma notícia do Bild deu conta de uma realidade até aí desconhecida: havia cinco jogadores dos bávaros que se tinham recusado vacinar. Um era Kimmich.

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“Quero esperar por estudos a longo prazo. Estou consciente da minha responsabilidade. Claro que respeito as medidas de higiene e os jogadores não vacinados no clube são testados a cada dois ou três dias. Vacinar-me no futuro? Claro que tenho isso em conta, por isso é que não digo de forma categórica que não me irei vacinar. Apenas tenho algumas preocupações neste momento. É muito possível que me vacine no futuro”, explicou nessa altura o polivalente internacional germânico, não querendo fazer disso um caso.

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“Só há ‘vacinados’ ou ‘não vacinados’. E ‘não vacinados’ significa frequentemente que de alguma forma é um negacionista ou oponente das vacinas. Mas também penso que há outras pessoas em casa que apenas têm algumas preocupações em relação a serem vacinadas, quaisquer que sejam as suas razões. E penso que isso também deve ser respeitado, especialmente enquanto se mantiverem as medidas. Tenho frequentemente a sensação na nossa sociedade de que se não formos vacinados, de alguma forma, estamos simplesmente riscados”, acrescentou ainda o jogador contratado ao RB Leipzig em 2015, com 20 anos.

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Aquilo que o jogador pretendia que fosse um ponto final na questão foi sobretudo um ponto parágrafo, com muitas figuras a colocarem reticências na decisão e a exclamarem por uma conduta diferente até por ser um exemplo para outros na sociedade germânica num tema de passou do futebol a… Angela Merkel.

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“Talvez o Joshua Kimmich pense nisso e reconsidere. Afinal, ele é conhecido por ser um jogador muito ponderado. Há bons argumentos factuais sobre as suas dúvidas que estão amplamente disponíveis”, referiu a antiga chanceler alemã ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Os estádios estão outra vez cheios e podemos ficar felizes porque 60%, 70% ou 80% das pessoas foram vacinadas. O facto da vida poder voltar ao normal é por causa daqueles que estão vacinados e Kimmich também se beneficia disso. Se todos reagissem como ele, teríamos de jogar outro ano sem adeptos nos estádios”, apontou o antigo avançado Mario Gomez. “É muito clara a obrigação de falar com ele sobre isso e convencê-lo. Podes ter essa opinião mas chega de onde? Eu leio muito, é onde me informo, e não vi muitas coisas a dizer que a vacina é perigosa”, defendeu o ex-capitão dos bávaros e da seleção, Philip Lahm, ao Suddeustsche Zeitung. “O único caminho é a vacinação e isso não é sobre ser um modelo de comportamento, é sobre o indivíduo. Comigo, nem ele nem os outros quatro jogariam. Nem treinavam”, atirou o antigo internacional Paul Breitner, ao Bild.

Kimmich tornou-se uma espécie de “alvo” de todas as atenções, tornando-se quase secundário ou relativo o facto de, a par do companheiro de equipa Leon Goretzka, ter criado em março de 2020 uma campanha com o nome WeKickCorona, com o objetivo de angariar fundos junto de outras personalidades ligadas ao desporto. Ao todo, conseguiram juntar um total de seis milhões de euros, distribuídos por cerca de 700 associações de solidariedade, bancos alimentares, hospitais, sem abrigo e animais, sendo que 500 mil euros foram para a UNICEF no apoio à campanha global de vacinação tendo por meta chegar a países mais desfavorecidos.

Agora, sem que nada tenha mudado, o defesa/médio começa a enfrentar problemas “práticos” à semelhança dos restantes jogadores não vacinados do Bayern (Serge Gnabry, Jamal Musiala e Choupo-Moting). E o primeiro está diretamente ligado à próxima partida dos campeões germânicos frente ao Augsburgo: devido às novas regras impostas no estado da Baviera perante o brutal aumento de novas infeções, Kimmich, que esteve em isolamento depois do defesa Niklas Süle ter acusado positivo, não pode juntar-se aos restantes companheiros no hotel onde a equipa irá estagiar até sexta-feira. “Não haverá nenhum tipo de exceções, só permitimos a entrada de pessoas vacinadas ou curadas”, disse um funcionário ao Bild.

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As questões podem não ficar por aqui. Num outro âmbito, Markus Söder, líder da Baviera, admitiu em termos públicos que poderá haver um momento de vacinação obrigatória em alguns setores da sociedade onde o futebol estaria incluído (nesta altura a Bundesliga estima que 94% dos jogadores tenham a vacinação completa). Em paralelo, e mediante as novas regras que entraram em vigor no país, haverá até no limite a possibilidade de o Bayern poder não ser obrigado a pagar ao jogador parte do salário deste mês, por ser um empregado que ficou de quarentena por não estar vacinado por opção própria.