A “aventura” eléctrica levou muitos construtores tradicionais a procurar sinergias e parcerias, de modo a reduzir o investimento, a antecipar o retorno e a agilizar a transição. No caso da Ford, o caminho fez-se apostando em quase todas as hipóteses de sucesso. Por um lado, fez um acordo com a Volkswagen para os veículos comerciais, tendo como contrapartida o acesso à MEB. E, enquanto garantia uma arquitectura para os segmentos C/D, desenvolveu a sua própria plataforma para os escalões acima, de que o Mustang Mach-E usufrui. Mas neste período também não desviou a atenção da promissora Rivian, que fez uma estreia retumbante no Salão de Los Angeles de 2018, com a pick-up R1T e o SUV R1S, ambos eléctricos. E investiu naquela que era considerada a “galinha dos ovos de ouro”, depois da Tesla.

O que começou por um investimento de 500 milhões de dólares, em 2019, cresceria depois para 1,2 mil milhões de dólares. Um negócio interessante para ambas as partes, na medida em que, na altura, a Rivian estava a descolar como fabricante e precisava de liquidez para materializar os seus planos de produção, com a Ford, por seu turno, a assegurar um acesso privilegiado à tecnologia da startup fundada em 2009 por R.J. Scaringe. Um pouco à semelhança do que o Grupo Volkswagen fez com a Rimac, por meio da Porsche.

Sucede que o projecto de desenvolvimento de veículos eléctricos, com o envolvimento de ambas as partes, deixa de estar em cima da mesa. Segundo declarações do CEO da Ford, Jim Farley, à Automotive News, a Ford mantém o investimento na Rivian e as relações entre as duas companhias continuam salutares, mas seguirão caminhos apartados. Ou seja, a Ford vai avançar por conta própria, sem o suporte tecnológico da Rivian, colocando como meta a produção de 600 mil carros eléctricos por ano.

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Para tal, de acordo com o CEO da oval azul, a estratégia passará por colmatar as necessidades em termos de fabrico, inclusivamente de baterias, e assegurar que não há falhas na cadeia de fornecedores. Para os acumuladores, as unidades de produção no Tennessee e Kentucky serão manifestamente insuficientes para o volume anual que a marca ambiciona atingir, razão pela qual estarão a ser estudadas novas localizações para implantar fábricas.

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Mustang Mach-E é um bom eléctrico. Mas poderá bater a concorrência?

A gama eléctrica da Ford conta, para já, com o Mustang Mach-E e com o furgão E-Transit, que anuncia uma autonomia de 317 km e a recarga da bateria de 68 kWh de 15 a 80% em 34 minutos num posto DC. A caminho está ainda um modelo de extrema importância para o mercado norte-americano, a pick-up F-150 Lightning. Em meados do próximo ano será vez de a Lincoln, a marca de luxo que pertence à Ford, se estrear nos modelos a bateria com um SUV do tamanho do Aviator. Era suposto que o futuro SUV eléctrico usufruísse da base e da tecnologia do Rivian R1S, algo que terá sido decidido que não aconteceria já no decurso de 2020, indiciando desde logo que a Ford preferia seguir as suas próprias directrizes.

Enquanto isso, fica a curiosidade de a Rivian, que começou há dias a fabricar a R1T, ser já o terceiro construtor mais valioso do mundo, depois de ter lançado este mês uma oferta pública inicial (IPO, do inglês Initial Public Offering) na bolsa de Nova Iorque. A IPO fez disparar o valor de mercado da companhia liderada por R.J. Scaringe, colocando-a nos 140 mil milhões de dólares, cerca de 50% mais do que vale a Ford… À frente até da Volkswagen, com os alemães a ocuparem a 4.ª posição, atrás da Rivian, que só é ultrapassada pela Toyota (306 mil milhões) e pela Tesla (1 bilião).