Em mais um excerto da entrevista a João Rendeiro à CNN Portugal divulgado esta terça-feira, o ex-banqueiro indicou não estar na Costa Rica e diz já ter falado português no local onde se encontra. Não nega que tenha dupla nacionalidade e afirma que foi o advogado Carlos do Paulo a sugerir o plano de fuga.

“A minha mulher não sabia que eu não ia regressar a Portugal”, começa por dizer João Rendeiro, acrescentando o plano de sair definitivamente do país partiu do advogado, Carlos do Paulo (que já não defende o ex-banqueiro): “Ele voluntariou-se a apresentar uma solução”. Além disso, indicou que foi o mesmo advogado que o convenceu “a mudar de ideias” quando chegou a Londres, em setembro.

João Rendeiro revela que não está no Belize, mas vai à praia e faz a vida normal. E que vai pedir indemnização de 30 milhões

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

João Rendeiro divulga ainda que, no local onde está, consegue viver com “três” a “cinco” mil euros por mês e que não tem nenhuma restrição. “Tenho uma vida normal, não conseguia estar preso fora do meu país”, salienta. “Durmo bem, o tema da Maria [a mulher] é que me preocupa profundamente.”

Os negócios com os Florêncio, a condenação, o processo e as obras desaparecidas. Quatro Fact Checks à entrevista de João Rendeiro

Questionado sobre se tem dupla nacionalidade, João Rendeiro não nega, dizendo apenas que “é uma pergunta bem informada” à qual não vai responder.

Em entrevista à TVI no dia 29 de setembro, Carlos do Paulo indicou que não sabia onde estava João Rendeiro, assegurando também que “a função do advogado é esclarecer o cliente dentro da lei”.

Presidente da República diz que “já é tarde” para conceder indulto a Rendeiro

Atualmente, quem representa João Rendeiro e a mulher são os advogados Abel Marques, secretário-geral da ANTRAL, e Joana Fonseca.

O ex-banqueiro voltou a falar por videochamada com tecnologias escolhidas pelo próprio e encriptadas que, informa a estação, impedissem o seu rastreio. Ao longo da entrevista, não revela o seu paradeiro, no entanto, sabe-se que não é o Belize, nem a Costa Rica, mas num local onde se fala português e perto do mar.

“Faço uma vida perfeitamente normal”

“Faço uma vida perfeitamente normal, como em Lisboa ou em Cascais. Saio à rua, vou à praia, ao ginásio, não uso peruca, nem nunca andei de rabo de cavalo”, referiu na entrevista desta segunda-feira, referindo que “vive do seu trabalho”, fechando contratos com empresas internacionais: “Ainda há pouco tempo num contrato de 500 milhões de dólares [cerca de 445 milhões de euros]”.

O ex-líder do BPP conta que, no momento em que fugiu para Londres, quando se preparava para o fazer embarque, “estava uma procuradora do DCIAP” que o viu “perfeitamente” a “tomar um voo para Londres”. Mas não diz qual ou se tinha alguma ligação ao seu processo ou conhecimento dele.

Além disso, na entrevista realizada em colaboração com o jornal Tal&Qual, João Rendeiro admite que não volta a Portugal, a não ser que lhe seja concedido um indulto presidencial ou se for absolvido, ambos os cenários que vê como improváveis. Em resposta, Marcelo Rebelo de Sousa disse que já “era tarde” para que tal acontecesse, uma vez que os pedidos têm de ser feitos até final de junho, passando por vários processos e apreciações.

Devido a não ter havido um “processo equitativo”, o ex-banqueiro divulgou que vai recorrer a tribunais internacionais. Como fundamentos desses recursos, o ex-banqueiro aponta a “duração do processo”, porque em “termos internacionais, um processo que dure mais de sete anos, são considerados processos em falha”. “Os meus processos têm praticamente 14 anos”, destaca, acrescentando que isso “é o dobro do aceitável”. “Por exemplo, em termos de extradição, há vários países onde processo longos são causa de não extradição.”

Rendeiro não tem dúvidas: neste recurso internacional, será ilibado. O plano depois é pedir uma uma indemnização “muito substancial” ao Estado na ordem dos 30 milhões de euros, que será, em princípio, doada.