A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a vacinação contra a Covid-19 das crianças, confirmando que há vantagens no processo “que vão além dos benefícios diretos” para a saúde individual: “A vacinação que diminui a transmissão da Covid-19 neste grupo etário pode reduzir a transmissão de crianças e adolescentes para adultos mais velhos e pode ajudar a reduzir a necessidade de medidas de mitigação em escolas”, indica o relatório preliminar enviado à imprensa.
A autoridade de saúde mundial considerou que as vacinas que receberam autorização por agentes reguladores para serem administradas em crianças e adolescentes nos países que já iniciaram a campanha nestas faixas etárias são seguras e eficazes a reduzir o impacto da doença. Mas como a Covid-19 costuma ser leve ou moderada entre as crianças, exceto quando têm comorbilidades associadas, “é menos urgente vaciná-las do que aos mais idosos, os que têm doenças cardíacas crónicas e os profissionais de saúde”.
Embora a maioria dos jovens a partir dos cinco anos tenha menos tendência a desenvolver sintomas, e de costumarem ser mais leves, alguns podem registar sintomas prolongados no tempo (a Covid-19 longa), sequelas após a recuperação da infeção, síndrome inflamatória multissistémica (MIS-C). São casos raros, mas mais comuns entre quem sofre de diabetes, asma, doenças cardíacas, doenças pulmonares e problemas neurológicos ou neuromusculares.
A vacinação contra a Covid-19 pode ser especialmente útil para proteger a doença das crianças com estas comorbilidades, mas a OMS insiste que a vacinação alargada nas faixas etárias mais jovens tem vantagens principalmente na prevenção de surtos em escolas, atividades de tempos livres e campos de férias. As vacinas são especialmente úteis a prevenir a Covid-19 grave, mas também têm capacidade para travar as transmissões do vírus.
Apesar do risco diminuído de Covid-19 grave entre as crianças e adolescentes, eles estão a ser “desproporcionalmente afetados” pelas medidas impostas para controlar a pandemia: “Os efeitos indiretos mais importantes estão relacionados com o encerramento de escolas, que interrompeu a prestação de serviços educacionais e aumentou o sofrimento emocional e os problemas de saúde mental”, continua o relatório preliminar da OMS.
O argumento de que a vacinação abre portas à normalidade na vida dos menores, mais do que colmatar a (baixa) pressão das crianças infetadas no serviço nacional de saúde e evitar os já raros casos de óbitos por Covid-19 nesta faixa etária, acompanha a opinião que a Sociedade Portuguesa de Pediatria emitiu esta terça-feira a pedido do Governo.
O grupo de pediatras entendeu que “poderá ser considerada” a aplicação da vacina neste grupo etário “se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças”, mesmo tendo em conta que a Covid-19 grave é rara nas crianças e tende a desenvolver-se nas que já têm comorbilidades severas. Afinal, elas “têm sido fortemente prejudicadas na pandemia devido aos confinamentos sucessivos que afetam seriamente a sua aprendizagem e saúde mental e aumentam o risco de pobreza e de maus tratos”.
A Agência Europeia do Mediacamento (EMA) vai reunir esta quinta-feira para deliberar sobre a segurança e eficácia da vacinação contra a Covid-19 das crianças entre os cinco e os 11 anos no espaço europeu. As autoridades de saúde portuguesas aguardam o parecer da EMA para recolherem mais dados sobre o assunto e também elas emitirem um parecer sobre o tema.