O Conselho Nacional foi tenso, como se esperava, após a exclusão dos críticos das listas de deputados. Os apoiantes de Paulo Rangel falam em “purga“, “perseguição” e “falta de cultura democrática” de Rui Rio. Apesar das muitas críticas que os apoiantes de Rangel fizeram dentro de portas, deixaram claro que não queriam boicotar o processo eleitoral e as listas foram aprovadas por 67 votos a favor 21 contra e 6 abstenções. Mas houve vários momentos de tensão, provocados pelas listas compostas quase exclusivamente por rioistas.
Dos líderes distritais que foram indicados e apoiaram Paulo Rangel só um se salvou: João Moura, presidente da distrital de Santarém. O “saneamento” — como lhe chamam os apoiantes de Rangel — retirou das listas ou atirou para lugar não elegível dirigentes distritais como Cristóvão Norte (Faro), Pedro Alves (Viseu), Alberto Machado (Porto), Carlos Peixoto (Guarda) ou Paulo Leitão (Coimbra).
O mesmo aconteceu com líderes concelhios que apoiaram Rangel como é o caso de Cancela Moura (Gaia) ou Alberto Fonseca (Trofa). Houve ainda outras exclusões fora da esfera dos dirigentes partidários. Duarte Marques nem chegou a ser indicado porque João Moura, o líder distrital de Santarém, disse ter recebido indicações da direção (sugerindo que vinham diretamente de Salvador Malheiro) para que não fosse nas listas, apesar de ter sido indicado por concelhias. Em Aveiro, o antigo candidato à liderança da JSD, André Neves, também foi castigados por apoiar Rangel, apesar de ser indicado pelas distrital.
A suspeita de que iria existir uma purga levou Paulo Rangel a decidir na segunda-feira que iria ao Conselho Nacional a Évora exigir que houvesse um esforço de unidade. À chegada o eurodeputado e candidato derrotado das diretas deixava claro: “Gostava muito que houvesse sinais no sentido de unidade”, que até ao momento dizia não se terem verificado. “Sinceramente, pelo que se viu nos cabeças de lista, isso não é claro, pelo contrário”, acrescentou, ainda antes de se saber a composição completa das listas (que confirmou a razia). O eurodeputado manifestava-se ainda expectante: “Veremos depois como vão ser as listas, mas espero que haja alguns sinais porque acho que era importante.” Não houve — como se pode confirmar na lista na parte final deste artigo.
[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]
Rui Rio ganhou (também no Conselho Nacional)
No fim do Conselho Nacional, Rui Rio lembrava que se “escreveram que tinha perdido dois conselhos nacionais”, neste agora tinha ganho com mais de 70% — numa alusão aos valores de aprovação das listas de deputado.
O presidente do PSD, já com essa vitória no bolso, descreveu esta como um Conselho Nacional “mais pacífico do que o normal”, em que as intervenções “foram quase todas de pessoas que não estavam na lista”. Ou seja: colocou as críticos num plano de rancor por parte dos excluídos.
Rio rebateu ainda as acusações de que as listas só tinham apoiantes seus: “Há casos de pessoas que não estiveram comigo agora e até que nunca estiveram. Não vou apontar casos, mas procurem, que encontram”. O líder social-democrata defendeu que “unidade não é unanimidade” e que a lealdade como critério utilizado nas listas não teve a ver “com quem apoiou Paulo Rangel”, mas “com todo um comportamento ao longo tempo”. Ainda assim, antes deste momento de consagração, Rio não se livrou de ouvir duras críticas.
Paulo Rangel: “Não vejo quase ninguém que me tenha apoiado nas listas”
À porta fechada, no Conselho Nacional, Paulo Rangel foi duro com as opções de Rui Rio e disse mesmo: “Praticamente não vejo quase ninguém que me tenha apoiado nas listas“. O eurodeputado disse mesmo ao presidente do partido que “estende as mãos e os braços ao PS e depois internamente não tem esse espírito de compromisso“.
Rangel lembrou mesmo uma frase de Rio durante a campanha interna em que o presidente do PSD disse que “fazer listas não é como fazer listas na União Nacional ou no antigo regime”. O eurodeputado diz que em vários partidos e Governos “as pessoas que apoiaram candidatos ou projetos derrotados são sempre envolvidas, mas que “olhando para composição das listas não houve um esforço de fazer unidade.” E questionou: “O que é que custava dar esse sinal ao partido?”
O eurodeputado diz que está com “Rio a 100, 200 e 300%” para apoiá-lo na “campanha eleitoral”, mas que também lhe dirá sempre o que pensa “frontalmente” quando achar que as decisões que toma são “más para a democracia interna”, como foi o caso.
Paulo Rangel elogiou ainda o facto de o PSD não ir coligado com o CDS: “É melhor irmos sozinhos do que em coligação. Portanto, fico satisfeito que seja essa a posição da comissão política nacional”.
Pedro Pinto, Cristóvão Norte, Duarte Marques e os críticos no exterior
O líder da distrital do Algarve, que foi excluído das listas, disse perante os conselheiros que as listas são um “diktat” da direção, numa postura que “não tem tradição” no PSD. Cristóvão Norte virou-se ainda para Rui Rio que estas escolhas “dizem mais de si, do que de nós”. O antigo cabeça de lista acusou mesmo a direção de “arrogância” e de um “ato lastimável” ao virar as listas “de cima para baixo”. E fez ainda um apelo: “Se ganhar as eleições, não faça um Governo assim“.
O antigo líder da distrital de Lisboa, Pedro Pinto dirigiu-se ao líder do partido: “Meu caro Rui, desta vez, foste longe de mais”. Pinto, que foi apoiante de Rangel, acusou Rio de não ter “qualquer tipo de critério na escolha de deputados” e lembrou o líder que este é o responsável pelo crescimento da IL e do Chega.
O deputado Duarte Marques — que terá sido excluído numa fase preliminar — disse que se vai embora de “consciência tranquila”, mas pediu a Rui Rio que lhe dissesse se houve de facto uma indicação da nacional prévia. E fez uma piada: “Felizmente, o Cabrita saiu antes de mim“.
Depois das críticas dos apoiantes de Rangel à “purga” do Porto, o secretário-geral José Silvano voltou a pedir a palavra para dizer que ligou a Alberto Machado para lhe dizer que não ia nos lugares elegíveis da lista e que a resposta que ouviu foi que iria “no lugar que o presidente” achasse que devia ir. O presidente da distrital do Porto terá dito ainda, segundo Silvano, que era “uma honra ir a fechar a lista”.
As críticas também se fizeram ouvir fora do Conselho Nacional. O diretor de campanha de Paulo Rangel, Pedro Esteves, citou uma frase do pensador Jean Retz para sugerir que mais facilmente Rio consegue convergir com o PS do que com os próprios companheiros de partido.
"Nos partidos custa-se mais a conviver com os que deles fazem parte do que a agir contra os que a eles se opõem". Escrito há mais de 350 anos por Jean Retz e tão actual no PPD/PSD.@ppdpsd
— Pedro Esteves (@P_M_Esteves) December 8, 2021
Na ala montenegrista também houve protestos. O antigo líder parlamentar e braço-direito de Luís Montenegro, Hugo Soares, fez uma interpretação muito própria de um conhecido texto de Bertolt Brecht para criticar Rui Rio, com o sugestivo título: “E não sobrou ninguém“.
“O que me fizeste não se faz nem a um cão”. Rio admite “descontentes”
O ambiente aqueceu ainda antes do início dos trabalhos. O líder do PSD/Algarve, Cristóvão Norte travou-se de razões com um outro conselheiro e, segundo relatos de pessoas presentes, terá dito ao seu interlocutor: “O que me fizeste não se faz nem a um cão“. Questionado pelo Observador, o deputado recusou-se a confirmar o confronto, disse que era um assunto da “esfera pessoal” e que “nada tem a ver com isto”. O ambiente está longe de ser o melhor no Évora Hotel, onde decorre a reunião.
Concretamente sobre a exclusão das listas, Cristóvão Norte disse também antes do início do Conselho Nacional direção nacional optou, de forma clara, por punir aqueles que não apoiaram o líder do partido e isso vai contra aquilo que é o espólio do PSD”. O presidente do PSD/Algarve lamentou ainda que as listas não exprimem “a diversidade do partido e que não têm “capacidade de ultrapassar os limites” do partido.
Rui Rio, que optou por fazer declarações num outro hotel Évora ainda antes do Conselho Nacional, já tinha admitido que esta noite iam existir “pessoas descontentes” com as listas de deputados à Assembleia da República. O presidente do PSD desvalorizou, no entanto, as divergências que possam ocorrer no órgão máximo entre congressos. O líder do PSD diz que também outras “contentes” com as escolhas, tanto na reunião como em casa. Rui Rio diz que existem “diversas etnias nas listas”.
O presidente do PSD, na sua leitura pessoal, garantia que “não há limpeza étnica” e que há até “diversas etnias presentes nas listas”, naquilo que considera uma composição “multicultural”. Quanto aos afastamentos, Rui Rio diz que são apenas “algumas clarificações.” O líder social-democrata descreve ainda o processo como “bastante pacífico” e que as listas dão “sinais de unidade, mas também de renovação”.
Sobre a coligação com o CDS — que a sua direção rejeitou esta tarde em reunião da comissão política nacional — Rui Rio explicou que não tem “nada contra o CDS e o PPM” e que até do interesse do PSD “que o CDS tenha um bom resultado, mas a maioria da comissão política “considera mais vantajoso para o PSD, nestas eleições em concreto, ir sozinho, porque consegue melhores resultados”.
Congresso passa para Santa Maria da Feira
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A secretaria-geral do PSD apresentou uma proposta, já aprovada pelo Conselho Nacional, para que o Congresso seja alterado da FIL em Lisboa para o Europarque, em Santa Maria da Feira. A justificação da mudança são “razões sanitárias” e também “razões financeiras”.
Veja a lista completa de deputados:
Já são conhecidas as listas finais de deputados, que ainda precisam de ser aprovadas no Conselho Nacional. Veja aqui a lista completa:
Aveiro
1º António Topa Gomes
2º Maria Paula da Graça Cardoso
3º Ricardo Sousa
4º Helga Correia
5º Rui Cruz
6º Carla Madureira
7º Rui Filipe Vilar Gomes
8º Jorge António Tavares de São José
9º Susana Maria de Oliveira Lamas
10º Ângelo Soares
11º Pedro Veiga
12º Adriana Rodrigues
13º António Sousa
14º Elisabete Soares
15º Jéssica Gaudêncio
16º Rui Correia
Beja
1º Henrique Silvestre Ferreira
2º Inês Isabel Mota Batista
3º José Pinela Fernandes
Braga
1º André Coelho Lima
2º Firmino Marques
3º Clara Marques Mendes
4º Carlos Eduardo Reis
5º Jorge Paulo Oliveira
6º Gabriela Fonseca
7º Bruno Coimbra
8º Carlos Cação
9º Regina Penedo
10º Bruno Fernandes
11º Cristiano Pinheiro
12º Celeste Cardoso
13º João Figueiredo
14º Jorge Pedrosa
15º Sofia Alcaide
16º Laura Magalhães
17º Luís Carvalho
18º Clara Castro
19º Maria José Ramos
Bragança
1º Adão Silva
2º Paulo Jorge Almendra Xavier
3º Cristina Maria Oliveira Miguel Rodrigues
Castelo Branco
1º Cláudia André
2º Alvaro Batista
3º Nuno Almeida Santos
4º Susana Salvado SU
Coimbra
1º Mónica Quintela
2º Fátima Ramos
3º João Paulo Barbosa de Melo
4º Fernando Tavares Pereira
5º Ana Oliveira
6º Carlos Fernandes
7º Sandra Fidalgo
8º Martim Syder
9º Olinda Rio
Europa
1º Maria Ester Vargas
2º Vitor Alves Gomes
Faro
1º Luís Gomes
2º Rui Cristina
3º Ofélia Ramos
4º Dinis Faísca
5º Álvaro Viegas
6º Helena Palhota Simões
7º Bruno Sousa Costa
8º Tiago Mateus
9º Inês Tamisa de Barros
Fora da Europa
1º António Maló de Abreu
2º Manuel Magno Alves
Guarda
1º Gustavo Duarte
2º João Pina Prata
3º Sara Filipa Saraiva dos Santos
Leiria
1º Paulo Mota Pinto
2º Hugo Oliveira
3º Olga Silvestre
4º João Manuel Gomes Marques
5º João Carlos Barreiras Duarte
6º Célia Freire
7º Álvaro Madureira
8º João Santos
9º Sofia Carreira
10º Alda Carvalho
Lisboa
1º Ricardo Baptista Leite
2º José Silvano
3º Isabel Meireles
4º Joaquim Miranda Sarmento
5º Duarte Pacheco
6º Lina Lopes
7º Tiago Moreira de Sá
8º Pedro Roque
9º Joana Barata Reis Lopes
10º Alexandre Poço
11º António Proa
12º Maria Emília Apolinário
13º Alexandre Bernardo Macedo Lopes Simões
14º João Carlos da Silva Bastos Dias Coelho
15º Christine Oliveira
16º Rodrigo Gonçalves
17º Pedro Castanheira Lopes
18º Xana Campos
19º Américo Vitorino
20º Hugo Roque
21º Filipa Guimarães
22º Nuno Miguel Henriques
23º Sofia Vala Rocha
24º António Seixas
25º Andreia Bernardo
26º Glória Sarmento
27º Carlos Silva
28º Gonçalo Costa
29º Sandra Pereira
30º Rui Rei
31º Sónia Marques de Oliveira
32º Marta Vieira
33º Nuno Botelho
34º Ana Sofia Bettencourt
35º Edi Gomes
36º António Jorge Lopes
37º Ana Valente
38º Álvaro Carneiro
39º Nuno Piteira
40º Ana Mateus
41º Manuel Castelo
42º Francisco Domingues
43º Rita Nery
44º André Pardal
45º Regina Condessa
46º Liliana Fidalgo
47º Pedro Reis
48º Nelson Rodrigues Coelho
Madeira
1º Sérgio Marques
2º Sara Madruga da Costa
3º Patrícia Dantas
4º Dinis Ramos
5º Gonçalo Santos (CDS-PP)
6º Jéssica Faria
Portalegre
1º João Pedro Luís
2º Luís Romão
Porto
1º Sofia Matos
2º Rui Rio
3º Paulo Rios de Oliveira
4º Catarina Rocha Ferreira
5º Afonso Oliveira
6º Hugo Carneiro
7º Márcia Isabel Duarte Passos Resende
8º Paulo Fernando de Sousa Ramalho
9º Rui Pedro Guimarães de Melo Carvalho Lopes
10º Maria Germana de Sousa Rocha
11º Paulo Miguel da Silva Santos
12º Joaquim José Pinto Moreira
13º Andreia Carina Machado da Silva Neto
14º Firmino Jorge Anjos Pereira
15º António Duarte Conde de Almeida da Cunha
16º Rosina Patrícia Ribeiro Pereira
Santarém
1º Isaura Morais
2º João Moura
3º Inês Barroso
4º Rui Rufino
5º Tiago Ferreira
6º Susana Pita Soares
7º Tiago Carrão
8º João Oliveira
9º Sónia Ferreira
Viana do Castelo
1º Jorge Mendes
2º Emília Cerqueira
3º João Montenegro
4º José Carlos Vasconcelos
5º Felismina Carlota da Rocha Barros
6º Vítor Morais da Cruz
Viseu
1º Hugo Carvalho
2º Guilherme Almeida
3º Cristiana Ferreira
4º Hugo Maravilha
5º Domingos Nascimento
6º Ana Raquel Correia Pinto
7º Ana Cristina Pais
8º Paulo Bito