Há mais de três anos que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos exigia esta indemnização: a Lituânia pagou 100.000 euros a Abu Zubaydah, conhecido como o “prisioneiro eterno” de Guantánamo, por ter permitido que a CIA o torturasse dentro das suas fronteiras. A respetiva organização prendeu a vítima num local secreto fora da capital Vilnius de fevereiro de 2005 a março de 2006.

Contudo, os advogados de Zubaydah acreditam que é improvável que a Lituânia tenha aceitado pagar a indemnização sem a aprovação de Washington.

Esta jogada é consistente com a ideia de que os Estados Unidos estão a suavizar a sua posição sobre a detenção de ‘prisioneiros para sempre’. Os EUA poderiam claramente ter impedido a Lituânia de entregar este dinheiro e a questão é: porque não o fizeram?”, destacou um dos advogados de Zubaydah ao The Guardian.

Os juízes europeus acreditam que, enquanto esteve na Lituânia, Zubaydah não terá sofrido formas duras de tortura, mas terá passado por privação sensorial e de sono até ruído intenso. As mais brutais ocorreram em 2002, na Tailândia, com a ajuda de dois psicólogos que desenvolveram “técnicas aprimoradas de interrogatório”, como denomina (eufemisticamente) a CIA. Entre elas, o “prisioneiro para sempre” foi afogado pelo menos 83 vezes em agosto desse ano e colocado numa espécie de caixão por dias a fio. Quando apareceu em público após este cativeiro, não tinha um dos olhos.

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Capturado no Paquistão seis meses depois do 11 de setembro, o governo de Bush considerava Zubaydah uma figura importante da Al Qaeda. Descobriu-se, porém, que não era membro da organização terrorista e nunca sequer foi acusado de estar envolvido no 11 de setembro.

Passos cruciais neste caso foram dados em outubro do ano passado, quando juízes do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, incluindo conservadores, quebraram o tabu ao usar abertamente a palavra “tortura” num julgamento.

O dinheiro transferido pela Lituânia encontra-se numa conta bancária, à qual Zubaydah não tem acesso, já que está detido em Guantánamo e os seus bens estão congelados pelo Tesouro dos Estados Unidos.