Numa altura em que países como a Espanha planeiam uma mudança de estratégia na forma como gerem a pandemia, o debate parece estar instalado no velho continente: deve a Covid-19 ser tratada tal qual a gripe? O El País destaca que a agência europeia de saúde pública (ECDC, na sua sigla em inglês), endossa a estratégia espanhola: “O ECDC encoraja os países a fazer a transição de um sistema de vigilância de emergência para outros mais sustentáveis ​​e orientados para objetivos”, disse um porta-voz da organização.

Ainda que a maioria de peritos e países como a França ou a Alemanha considerem que é cedo para falar em endemia— doença com alta prevalência e constante ao longo do tempo —, o mesmo porta-voz do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças acrescentou a seguinte ideia: “Esperamos que mais estados-membros [além de Espanha] queiram mudar para uma abordagem de vigilância sustentável a longo prazo”.

Sistema “sentinela”: Espanha quer tratar Covid-19 tal como a gripe

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Ainda na semana passada era notícia que a Espanha quer proceder a uma transição na maneira como as autoridades de saúde registam e reportam os casos do SARS-CoV-2, passando a tratá-los como os da gripe. Um sistema que, entrando em vigor, vai alterar aquilo que tem sido o modus operandi desde o início da pandemia.

O mesmo jornal cita ainda um porta-voz da comissária europeia Stella Kyriakides, que assinala que o mundo está numa fase em que “o vírus ainda se comporta como um perigoso vírus pandémico” e que ainda estamos “no meio de uma pandemia”, embora a variante Ómicron possa promover uma maior imunidade natural que poderia ser acrescentada à das vacinas, sendo isso um passo na direção de “um cenário quase endémico”.

OMS. Mais de metade da população europeia pode ser infetada pela Ómicron nas próximas 6 a 8 semanas

Marco Cavalieri, responsável pela estratégia de vacinas da Agência Europeia de Medicamentos, considerou a proposta de Pedro Sánchez precipitada, dizendo numa conferência de imprensa que é preciso não subestimar a nova variante. Opinião menos cautelosa é a de Eva Grill, epidemiologista da Universidade Ludwig Maximilian, em Munique, para quem a proposta espanhola fez sentido “porque o rápido aumento da incidência torna impossível o rastreamento de contactos e sobrecarrega as capacidades de diagnóstico”.

Já Hans Kluge, diretor europeu da Organização Mundial de Saúde, considera a proposta espanhola prematura; assinala também que é preciso cautela em relação às previsões sobre o futuro — a OMS prevê que mais de metade da população europeia vá ser infetada pela variante Ómicron nas próximas seis a oito semanas.