O líder militar no poder no Sudão ordenou, esta terça-feira, a formação de uma comissão para investigar a morte de sete manifestantes nos protestos, esta segunda-feira, contra o golpe de Estado de outubro, após críticas da comunidade internacional.

Abdel Fattah al-Burhane, comandante-chefe do exército e presidente do Conselho Soberano, o mais alto órgão governante do Sudão, “emitiu a ordem de formar uma comissão para investigar os acontecimentos ocorridos durante as manifestações de 17 de Janeiro“, informou a agência noticiosa estatal, SUNA.

O comité será constituído por membros do Ministério Público e dos órgãos do Estado e terá 72 horas “para relatar as medidas tomadas”, acrescentou a SUNA.

Pelo menos sete pessoas morreram na segunda-feira durante protestos contra o golpe de Estado militar de 25 de outubro passado, segundo o Comité Médico, número confirmado pela polícia sudanesa.

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Trata-se o maior número de mortos num único dia desde 17 de novembro, quando 15 manifestantes foram mortos, e eleva para 71 o total de manifestantes mortos nos protestos desde o golpe de Estado.

As mortes dos manifestantes causaram a condenação internacional por parte da União Europeia e do Gabinete das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que apelaram a “investigações exaustivas, rápidas e independentes” sobre as ações das forças de segurança.

Esta não é a primeira vez que as autoridades militares do Sudão se comprometem a investigar as mortes em manifestações.

Um dos pontos do acordo selado em 21 de novembro último entre Al-Burhane e Abdalla Hamdok para o reintegrar como primeiro-ministro, depois de o ter demitido na revolta militar quase um mês antes, era precisamente investigar as mortes (40 até então) e ferimentos de civis durante os protestos que tinham ocorrido contra o golpe e levar os responsáveis à justiça.

No entanto, não foram comunicados quaisquer resultados destas investigações e o número de mortes continuou a aumentar para 71, de acordo com a última contagem feita pelo Comité Médico.

O Sudão vive um impasse político desde o golpe militar de 25 de outubro de 2021, que ocorreu dois anos após uma revolta popular, protagonizada já então pelos comités de resistência, para remover o autocrata Omar al-Bashir e o seu governo islamita em abril de 2019.

Sob pressão internacional, os militares reinstalaram em novembro o primeiro-ministro deposto no golpe, Abdalla Hamdok, para liderar um governo tecnocrata, mas o acordo não envolveu o movimento pró-democracia por detrás do derrube de Al-Bashir.

Desde então, Hamdok não conseguiu formar governo perante protestos incessantes, não só contra o golpe de Estado, mas também contra o seu acordo com os militares e acabou por se demitir em 2 de janeiro.

As Nações Unidas preveem que 30% dos sudaneses vão precisar de ajuda humanitária este ano.