De Setúbal ao Fundão, com uma paragem por Castelo Branco, 300 quilómetros, um par de declarações aos jornalistas, uma sessão de esclarecimento, mais um exercício de tiro ao alvo chamado António Costa. Rui Rio começou o terceiro dia oficial de campanha a transpirar confiança e acabou a tremer — mas de frio, porque a confiança continua nos píncaros na comitiva social-democrata.
Embalado pelo conforto que vai sentido nas ruas — incomparavelmente superior ao que sentia durante a campanha para as legislativas 2019 — Rui Rio aproveitou a pequena arruada em Setúbal, bastião da esquerda onde o PSD costuma ser um mero ator secundário, para jogar com as probabilidades. “É muito mais difícil sair a sorte grande. Jogo muitas vezes no totoloto e nunca me saiu nada que se visse. Agora, tenho confiança que vou ganhar as eleições. É isso que noto na rua.”
[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador com a campanha do PSD em Setúbal]
Se a “vigarice” das sondagens é o combustível que faz Rio ficar picado, a TAP deu-lhe o pretexto perfeito para voltar a atacar António Costa. Em Castelo Branco, e depois de mais uma sessão a que se convencionou chamar “contacto com a população” e que não é mais do que desfile da bolha de jornalistas, repórteres de imagens, militantes e jotas coreografados, cabos, câmaras, apertões e cotoveladas em que a população é praticamente a única que não contacta com o líder, o líder social-democrata não deixou de comentar as palavras de David Neleeman e acusou António Costa de ter “faltado à palavra” sobre o papel do empresário na TAP.
O mais importante, insistiu o social-democrata, é mesmo o futuro da companhia aérea e, sobre isso, Rui Rio não tem dúvidas: se for eleito primeiro-ministro e “na melhor oportunidade que tiver”, vai mesmo tentar uma “saída airosa” e privatizar a TAP. “Não vamos continuar a ter uma TAP que ora perde 50, 100 ou 150 milhões”, sentenciou Rio.
Como as críticas são como as cerejas, depois da TAP logo veio o Novo Banco e a “pipa de massa” que se gastou sem se conferir a fatura e a demissão dos 12 chefes de equipa das urgências do Hospital de Beja, prova provada da incompetência do Governo na Saúde.
Por falar em cerejas, Rio terminou o dia no Fundão, para mais uma sessão de esclarecimento, desta vez dedicada ao tema da Educação e novamente com a dupla de atores que o PSD recuperou da última campanha para as legislativas, responsáveis por fazerem uma espécie de rábula humorística em jeito de revista à portuguesa que arranca sempre alguns sorrisos — sobretudo de constrangimento.
Ora, e como a rábula era sobre os jovens que tiram o “canudo” e que têm de emigrar, lá veio a referência ao senhor que foi Paris e acabou em Évora — José Sócrates, entenda-se. Rio aproveitou o empurrão e atirou de novo ao modelo económico protagonizado por António Costa, uma continuação, alega o social-democrata, da receita desastrosa que o PS tem imposto ao país em 20 dos últimos 27 anos.
Rio chegou mesmo a comparar Costa a José Sócrates, que “distribui o que tinha e não tinha” e acabou por conduzir o país a bancarrota. Para o social-democrata, pouco os distingue, a não ser uma “conjuntura mais favorável” e o cuidado de, pelo menos, ter o cuidado de “distribuir apenas o que tem”.
O caminho escolhido pelo socialista, insistiu Rio, continuará a impedir que o país tenha um crescimento sustentado. “Não cuidamos do futuro”, lamentou o presidente do PSD, defendendo mais uma vez que sem uma política voltada para as empresas – e são elas que criam emprego – não será possível pagar melhores salários.
Numa curta intervenção, Rio lançou algumas ideias: garantir que há mais rigor e menos despesismo na gestão das contas públicas, políticas concretas de capitalização das empresas, para relançar o crescimento, uma conta-corrente entre a Administração Pública e os fornecedores, para impedir que as empresas recebam a tarde e a más horas do Estado, e uma política de Educação de mãos dadas com a Ciência e com a Inovação, de forma a melhor a produtividade do país, a qualidade do que é produzido, a competitividade e, finalmente, o nível de salários praticados.
Mais tarde, e já depois de algumas perguntas da audiência, Rio voltou a acusar Costa de estar a tentar “amedrontar” os portugueses ao dizer que o PSD quer privatizar a Saúde e atirar as pensões para a bolsa de valores. O frio glaciar que se fazia sentir no Fundão não convidava a mais esclarecimentos e a caravana seguiu o seu caminho.