A NASA acredita que explosão resultante da erupção do vulcão de Tonga, que afetou todo o arquipélago no oceano Pacífico, poderá ter sido milhares de vezes mais forte do que a explosão da bomba atómica de Hiroshima.
“É uma estimativa preliminar, mas pensamos que a energia criada pela erupção foi equivalente a cerca de 4 a 18 megatoneladas de TNT“, explicou o cientista Jim Garvin, da agência espacial norte-americana. A estimativa foi calculada com base na quantidade de massa terrestre removida da ilha onde se encontrava o vulcão, o tipo de rocha presente e ainda a altitude da nuvem de fumo e material vulcânico resultantes da erupção.
Segundo a BBC, a bomba de Hiroshima — apelidada de Little Boy — libertou energia equivalente a cerca de 15 mil toneladas de TNT. Apenas um quilo, como escreve o canal britânico, é suficiente para destruir um carro.
O impacto desta erupção deve-se, como explicou ao Observador o diretor do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos da Universidade dos Açores, José Pacheco, ao facto de ser uma erupção com origem num vulcão marinho. Assim, além de o vulcão se situar numa região propícia à formação de magmas mais explosivos, o contacto da água do mar com o magma a uma temperatura perto dos mil graus Celsius aumentou o efeito explosivo da erupção. Este tipo de erupções resultantes do contacto de água do mar com vulcões submarinos designa-se por erupções surtseianas.
A NASA, contudo, tem designado, de forma não oficial, esta erupção de “ultra surtseiana”, e alguns cientistas defendem mesmo uma designação específica que diferencie a erupção registada no dia 15 de janeiro de outras que envolvam a presença de água.
“Se houver apenas um pouco de água a entrar em contacto com o magma, é como água a atingir uma frigideira a escaldar. Surge um flash de vapor e a água evapora rapidamente”, explicou Jim Garvin.
O que aconteceu no dia 15 de janeiro, contudo, foi bastante diferente. Não sabemos porquê (…) mas algo deve ter enfraquecido a rocha resistente na base [do vulcão] e criou um colapso parcial da caldeira. Pensem nisto como o fundo da frigideira a colapsar, e a permitir enormes quantidades de água a atingir uma câmara cheia de magma no subterrâneo e que estava a uma elevada temperatura”, esclareceu o cientista da NASA.
Desde que a ilha de onde se localiza o vulcão Hunga-Tonga-Hunga-Ha’apa aumentou exponencialmente de tamanho, com a erupção de 2015, que a NASA e o Serviço Geológico de Tonga têm analisado o modo como o solo vulcânico se formou e como tem sofrido alterações aceleradas por erosão, resultantes das ondas do mar e de tempestades tropicais.
Para a NASA, e para Jim Garvin, este vulcão poderia ajudar a desvendar alguns dos segredos de Marte.
Ilhas vulcânicas pequenas, recentes e em evolução rápida, são importantes para analisar o papel da água na superfície de Marte e como poderão ter afetado massas vulcânicas semelhantes [em Marte]”, afirmou o cientista norte-americano. “É possível, de facto, observar áreas com aspeto semelhante em várias regiões de Marte”.
Na primeira imagem, antes da erupção de 15 de janeiro deste ano, a ilha onde se localiza o vulcão era composta por duas massas terrestres ligadas entre si pelo material vulcânico solidificado após sucessivas erupções menores do vulcão. Na segunda imagem, depois da erupção de 15 janeiro, restam apenas os dois pedaços de terra visíveis na imagem, novamente separados pelo mar.
Resposta internacional fornece ajuda a Tonga numa altura em que já se confirmaram três mortes pela erupção
Foram confirmada três mortes em resultado da erupção do vulcão de Tonga e as autoridades do país estimam que quatro quintos da população tenha sido afetada pelo tsunami, assim como pelas cinzas que cobriram o arquipélago.
Numa das ilhas mais afetadas, Nomuka, registaram-se dezenas de feridos, e um hospital de campanha foi montado na ilha, uma vez que o antigo edifício hospitalar foi arrasado pelo tsunami.
A resposta internacional ao desastre ocorrido na nação insular tem sido mitigado por esforços de abastecimento de comida, produtos médicos e estruturas como tendas, para servirem a população de Tonga. A Nova Zelândia e a Austrália têm liderado este apoio internacional, com recurso a aviões e navios para realizar as entregas.
Atualmente livre de Covid-19, o reino de Tonga pediu que a distribuição e aplicação dos recursos de apoio dados por vários países fossem realizadas por habitantes de Tonga. Isto porque as autoridades procuram reduzir o risco de haver algum infetado pelo coronavírus, entre os possíveis voluntários que se dirigissem ao arquipélago, para prestar auxílio em terra, conta a BBC.