Passava pouco das 19h30 desta segunda-feira quando Inês Sousa Real chegou ao Espaço PAN, no Porto, para um evento-convívio com os filiados. A comitiva não lhe quis chamar “comício”, mas foi a primeira vez nesta campanha que a porta-voz falou num palanque. Um abraço à entrada do espaço a Bebiana Cunha, cabeça de lista do partido pelo círculo do Porto, acabou por marcar o início da noite. Apesar do dia cheio de ações, Sousa Real ainda arranjou tempo para trocar de sapatos. Porque é ali que Sousa Real quer acertar o passo. É ali que Sousa Real sabe estar uma das corridas fundamentais para manter os quatro deputados no Parlamento.

Num discurso de 27 minutos, Inês Sousa Real visou todos os adversários políticos nestas eleições. Atirou aos partidos à direita, mas foi contra a esquerda que arrancou os mais fortes aplausos da plateia. A porta-voz do PAN lembrou as “conquistas” do partido na Assembleia da República, partindo depois para aquela que tem sido a narrativa ao longo dos últimos meses: acusar a esquerda de “irresponsabilidade política” por ter permitido o chumbo do Orçamento do Estado para 2022. E foi onde foi mais dura nas críticas.

“Alguns optaram por rejeitar este orçamento. Alguns optaram por não dar sequer uma hipótese de o documento ir à Assembleia da República”, começou por dizer, para acusar logo a seguir, sem mencionar nomes, que hoje “ouvimos que essas mesmas forças políticas estão agora disponíveis para o diálogo. Onde estava o diálogo quando era preciso? Quando era preciso não faltar ao país?”, questionou, numa clara referência ao PCP e ao Bloco de Esquerda.

Uma referência, aliás, que surgiu poucas horas depois de o secretário-geral do Partido Socialista ter voltado a abrir a porta a negociações com a esquerda, depois da reunião pedida pelo Bloco para dia 31. Inês Sousa Real fez por marcar terreno ao deixar alfinetadas a Jerónimo de Sousa e Catarina Martins. “Bem-vindos à mesa do diálogo, antes tarde do que nunca”, ironizou.

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À direita, Inês Sousa Real também deixou ataques, num discurso que acabou por ter todo o tipo de críticas que faltaram à porta-voz do PAN ao longo da primeira semana de campanha. Acusou o PSD de ter “ideias estapafúrdias”, ao propor no seu programa a plantação de espécies de crescimento rápido, como eucaliptos. Mas o apontar de dedo àquilo que entende ser uma “irresponsabilidade política” visou também os socialistas: “O PS aprovou recentemente uma portaria, de que ninguém fala, mas que está lá e que permite igualmente árvores de crescimento rápido”.

Para Inês Sousa Real, que já tinha garantido que essa é uma linha vermelha em eventuais conversações com os sociais democratas, “eucaliptizar Portugal é estar em contraciclo com aquilo que o país precisa”, defendeu. A candidata aproveitou ainda para reforçar a narrativa de que um voto útil é um voto “nas causas” e, mais concretamente, “um voto no PAN”, e considerou que PS e PSD têm mantido uma “visão conservadora” e “sem preocupações de futuro”.

Lembrou também o setor da Cultura, para defender que este “não vive de promessas”, e voltou a referir-se às touradas: “Pela mão do PAN, tudo faremos para conseguirmos interditar o acesso de menores a estes espetáculos ou aumentar o IVA destes espetáculos, mas isso não chega, temos de dar este salto civilizacional e acabar com as touradas no nosso país”.

Porta-voz do PAN lembra “Zé Albino” e “Coelha Acácia” para criticar quem tem usado os animais para fazer campanha

No discurso, a candidata não esqueceu aquela que tem sido a última “moda” desta campanha. Os animais de estimação dos vários candidatos têm sido usados para fazer passar ideias políticas ou para trocas de acusações. Mas Inês Sousa Real preferiu centrar-se na política do bem estar animal, defendida pelo PAN, para criticar tal estratégia.

“Hoje, vemos nas redes sociais todos serem muito animalistas”, atirou. E prosseguiu com mais críticas: “Aliás, têm sido os animais de companhia a dizerem presente, quando os seus detentores na Assembleia da República estão ausentes”. “Gostaria de saber como vota o Zé Albino [gato de Rui Rio] nos hospitais públicos veterinários para os seus companheiros de causa; ou a Coelha Acácia [coelha de André Ventura], quando tentamos acabar com a caça à paulada de tantos animais selvagens, incluindo os próprios coelhos, como ela”, sublinhou.

Exemplos dados para defender que “a política de bem estar animal não se faz só nas redes sociais, faz-se na Assembleia da República”.

E se falou no animal de estimação de André Ventura, antes Inês Sousa Real aproveitou também para apontar o dedo ao Chega. Também sem qualquer referência direta, a candidata considerou que “hoje temos forças políticas que odeiam pobres, que falam com desprezo” de quem recebe o Rendimento Social de Inserção, quando “temos de promover a igualdade e inclusão no nosso país e na nossa sociedade”.

Num discurso em que defendeu a escola pública e criticou quem defende a privatização do Serviço Nacional de Saúde, dizendo que optar por essa medida “é negar a saúde a quem dela mais precisa”, Inês Sousa Real procurou disparar para todos os lados, num discurso que recebeu fortes aplausos da sala que contou com cerca de meia centena de filiados do PAN.

Bebiana Cunha garante que PAN “não vai faltar ao país”

E se Inês Sousa Real começou o seu discurso pedindo mais força no Parlamento, ao admitir que não quer “a Bebiana sozinha na Assembleia da República”, a cabeça de lista pelo distrito do Porto também alinhou no mesmo discurso.

Tendo habituado os militantes a intervenções muito acesas, Bebiana Cunha, uma das líderes da corrente norte no interior do partido, garantiu que o PAN “não vai faltar ao país”. A candidata pelo Porto discursou antes da porta-voz para assegurar que o partido é uma “resposta genuína e comprometida”.

Bebiana Cunha lembrou as prioridades do PAN para o setor da Saúde ou da Educação e atirou aos “outros que só vêm [ao Porto] nas eleições”. A cabeça de lista foi mais longe e defendeu que “não basta abanar e agitar as bandeiras” no que toca à proteção social, ambiental e animal. “Nós sabemos depois como é que esses partidos votam as propostas do PAN”, concluiu.

Num curto discurso, que não mereceu tantos aplausos como o da porta-voz, Bebiana lembrou ainda o estuário do Douro. “O plano de proteção deste estuário está na gaveta há 12 anos. Com o PAN valorizaremos o nosso património natural”, prometeu.