“O nosso objetivo é muito simples, é evitar um conflito armado no leste da Europa, um conflito armado na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, é para isso que trabalhamos”, disse esta segunda-feira Augusto Santos Silva em conferência de imprensa em Bruxelas, após a reunião do Conselho de Segurança com os chefes da diplomacia da UE.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português esclareceu que ainda vigora a “via política e diplomática”, que está “longe” de estar esgotada. “Ela está em curso e deve ser prosseguida.”

Augusto Santos Silva assinalou ainda que os EUA “responderão por escrito como solicitado pela Rússia ainda esta semana às propostas apresentadas pela Rússia em dezembro passado, o mesmo fará a NATO”.

“Devemos todos comprometer-nos para evitar qualquer escalada”, disse ainda. “Qualquer agressão contra a Ucrânia, qualquer violação por parte da Rússia da soberania e da integridade territorial da Ucrânia terá uma consequência pesada que motivará uma resposta. No caso da UE, uma resposta muito pesada em termos políticos e económicos. Estamos preparados para essa resposta caso ela seja necessária”, continuou, referindo-se depois a “sanções pesadas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ucrânia. Chefes de diplomacia da UE discutem situação com homólogo dos EUA

Santo Silva falou em evitar “uma crise grave” de segurança na Europa, bem como “qualquer agressão a um Estado soberano e qualquer violação da sua integridade territorial”. O ministro português lembrou ainda o recente apoio da Comissão Europeia no valor de 1,2 mil milhões de euros concedidos à Ucrânia, bem como uma linha de crédito.

Os chefes da diplomacia da União Europeia estiveram esta segunda-feira reunidos para discutir, entre outros temas, a situação de tensão entre Ucrânia e Rússia, devido à ameaça de ataque, numa altura em que os EUA ordenaram a retirada das famílias de todos os trabalhadores da embaixada ucraniana, com receios de que uma invasão russa esteja iminente — a UE diz que não se justifica “dramatizar” a situação. Na reunião de hoje esteve também, via videoconferência, o chefe da diplomacia norte-americana, Anthony Blinken.

EUA e Reino Unido retiram diplomatas da Ucrânia mas UE diz que não se justifica “dramatizar”

Também esta segunda-feira, os países da NATO colocaram forças em alerta e enviaram navios e aviões de combate para reforçar a defesa na Europa Oriental contra a atividade militar russa nas fronteiras da Ucrânia.

Portugal não vai retirar pessoal diplomático da Ucrânia

Questionado por jornalistas, Augusto Santos Silva esclareceu que a embaixada portuguesa na Ucrânia é “de pequena dimensão”, na qual trabalham sobretudo funcionários locais, isto é, de nacionalidade ucraniana. “Nem nós, nem nenhum outro Estado membro da União Europeia vai proceder à retirada de pessoal diplomático”, respondeu.

O ministro referiu ainda que existem 216 cidadãos portugueses no país, com a “vasta maioria” com dupla nacionalidade. “Sabemos quem são e onde estão”, referiu, sendo que apenas “um número residual” vive no leste da Ucrânia — com esses existe “um especial contacto para averiguar as suas condições de segurança e bem-estar”. Até ao momento não há nada a reportar. Lembrou ainda que desde 2014 —aquando da anexação da península da Crimeia — que Portugal desaconselha viagens à região de Donbass.

Costa lembra influência “direta ou indireta” da Rússia em Portugal

Numa entrevista à Renascença, António Costa pronunciou-se esta segunda sobre a escalada de tensões na fronteira da Ucrânia. “Estou muito preocupado. Existem riscos efetivos de poder haver um conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia. Nós temos estado a acompanhar quadro da UE e na NATO, estamos a desenvolver, a dinamizar o dialogo político e a dissuasão.”

“Ontem tive ocasião de contactar Ursula Von der Leyen sobre a nossa posição e tive a oportunidade de sublinhar que temos de ter em conta que as decisões que tomarmos em relação a Rússia têm, direta ou indiretamente, impacto nos países africanos bem perto de nós”, lembra o primeiro-ministro. “Portugal tem presença militar no âmbito das Nações Unidas na RCA, no Mali. Quando abordamos as decisões e se tomam posições geram-se reações nas mais diferentes frentes. A Europa não tem apenas a fronteira leste, também tem a fronteira sul.”

“Como otimista militante, considero que o mais racional é encontrar solução no âmbito da lei internacional e da integridade territorial, o que permite efetivamente encontrar uma solução de dissuasão”, ressalva.