Há 77 anos foi libertado o maior campo de concentração de extermínio dos judeus pelo regime nazi. Quando o Exército Vermelho ultrapassou o portão, com uma placa onde estava escrito “Arbeit Macht Frei” (O Trabalho Liberta), não calculava sequer que estava a pisar as terras onde morreram mais de 1,5 milhões de judeus dos cerca de 5,5 milhões  que perderam a vida durante a II Guerra.

Era a face desconhecida do horror da guerra: pessoas esqueléticas, de olhos arregalados, à beira de perder o juízo, porém mais próximos da morte; poucas conseguiam ficar de pé, outras estavam deitados no chão; em pleno inverno, estavam seminuas e tinham sido brutalmente torturados. Nas casernas, o fedor era insuportável e havia poças de sangue congeladas no chão.

Cerca de sete mil prisioneiros sobreviveram, 500 deles eram crianças, muitas que tinham sido sujeitas a experiências científicas. Aquela fábrica da morte em território polaco era aparentemente um boato para os Aliados e, para os alemães, era um segredo de Estado.

Mesmo depois da guerra, os Aliados tiveram dificuldades em reconhecer os judeus como vítimas primordiais dos nazis. Só em 1961, quando o julgamento em Israel de Adolf Eichman, o especialista em judeus do regime nazi capturado pela Mossad na Argentina, foi transmitido pela televisão para todo o mundo, é que o Holocausto ganhou as dimensões modernas. Os julgamentos militares de Nuremberga, logo a seguir à guerra, não tiveram esse efeito.

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Numa época em que colocar um pé na sinagoga era razão de desumanização, a segregação começava nas ruas e nos guetos, com a estrela de David ao peito, para que não se esquecessem a que religião pertenciam. Lá dentro, eram tatuados, sendo a sua identidade reduzida a um número. Despiam-se, aos homens era rapado o cabelo e, já cercados pelo arame farpado, os judeus eram submetidos a trabalho forçado, enquanto a morte nas câmaras de gás não chegava. Das chaminés sairia o fumo da “solução final”.

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Os relatos são muitos e assustadores: Alojzy Fros que não quis ir à enfermaria para não o matarem; Dario Gabbai, um Sonderkommando — os que limpavam as câmaras de gás — que tinha a tarefa específica de cortar e recolher os cabelos das mulheres assassinadas; Johnny Pekats que viu a mãe, com a sua irmã aos braços, ser levada pelos oficiais da SS embora, ainda nos portões; os livros do Primo Levi, que descrevem “o inferno” na primeira pessoa. Contudo, os rostos de quem viveu este horror são cada menos a cada ano que passa – ainda esta terça- feira morreu Greta Ferušić Weinfeld – e sobram as imagens (a preto e branco) para que as histórias dos sobreviventes perdurem na memória.

A maior coleção de documentos em iídiche. O “tesouro” dos judeus que quase foi destruído pelos nazis